domingo, 6 de janeiro de 2008

 

Glozel Decifrado! Proposta de decifração de uma escrita antiga feita por um brasileiro

Paulo Stekel


[Tabuletas de Glozel contendo inscrições alfabetiformes. Para Stekel, pertencem a uma cultura pré-celta que influenciou as escritas grega, latina e mesmo o sistema fenício consonantal.]

Situando o Caso Glozel

Glozel é uma pequeníssima aldeia a sudeste de Vichy, na França. No dia 1º de março de 1924, o jovem de 17 anos Émile Fradin, juntamente com seu avô, lavrava uma área de pastagem quando um dos animais que puxava o arado se atolou devido ao brusco afundamento do terreno. Ao desenredar o animal, Fradin constatou a existência de uma construção, afundada no terreno. Escavando, encontrou pedras assentadas, tijolos, cacos de cerâmica, uma tábua coberta de curiosos sinais e alguns instrumentos de pedra.

Os achados começaram a ser analisados por um médico de Vichy e também arqueólogo amador, o Dr. Antonin Morlet, que em seu primeiro relatório afirmou que o achado não tinha qualquer ligação com os estabelecimentos romanos ou gauleses conhecidos. As escavações continuaram, e começaram a sair vasos de cerâmica, pedras com inscrições e diversos implementos de pedra e osso de rena. Dois anos após o primeiro achado, o número de objetos retirados era da ordem de dois mil, bem como ossos humanos, uma parte dos quais se apresentava fossilizada. [NOTA: As escavações continuaram até 1941, e muitas outras tabuletas com inscrições foram encontradas].

Mesmo assim, devido à política nada científica dos cientistas oficiais, o achado foi considerado uma fraude. O conservador chefe do Museu de Saint Germain, professor Salomon Reinach, de sólida reputação, escavou no local, e no tocante às inscrições afirmou aceitar a existência de uma escrita, bem como sua originalidade, sem qualquer ligação com as identificadas até então. Ao mesmo tempo, pesquisadores portugueses chegaram à conclusão de que também em seu país havia um sítio com material similar em Alvão (região de Trás-os-Montes), que foi localizado em 1894 [são as famosas “Pedras do Alvão”, atualmente em um museu daquela cidade e não abertas à visitação pública].

Fradin chegou a ser processado por falsificação em 1930, mas foi absolvido, por total falta de provas (era muito material para ser falsificado por um homem só, ignorante em arqueologia e sistemas de escrita). Com o início da Segunda Guerra Mundial e a morte do Dr. Morlet, o silêncio caiu sobre o assunto, para somente ser ressuscitado nos anos de 1970.

Émile Fradin, que se tornou um eminente arqueólogo, com muito esforço veio a formar um importante museu com o material recolhido em Glozel – ver o website oficial do museu - www.museedeglozel.com – , no qual encontram-se quase duas mil e quinhentas peças, entre cerâmicas, pedras trabalhadas e gravadas, ossos humanos e de animais, sendo que os ossos mostram uma tendência generalizada para a fossilização, o que pode indicar grande antigüidade.

Os ossos de animais apresentam-se com desenhos, similares ao do período pré-histórico denominado Magdalenense, pois mostram lobos, caçadores, renas, e diferem daqueles pelo fato de existirem alguns com sinais de escritura, do tipo denominado “glozeliano”. Isso não significa que o material seja do período Magdalenense, mas é um fato intrigante!

Depois de décadas, uma parte do material de Glozel terminou por ser autenticado. Assim, o Museu Nacional de Antigüidades da Escócia, a Comissão de Energia Atômica Dinamarquesa de Risö e o Centro Francês de Estudos Nucleares de Fontenay-aux-Roses, em exames paralelos de termoluminescência, concluíram que as peças eram autênticas, datadas de pelo menos 2500 anos (cerca de 500 a.C.). Posteriormente foram realizados testes de carbono-14 em diversos ossos com inscrições; obteve-se uma datação de pelo menos 8 mil anos, havendo inclusive algumas peças que atingiram 12 mil anos [tais peças foram descartadas depois, sendo consideradas como “contaminadas” por substâncias que interferiram na datação].

As ossadas humanas revelaram datas bem diferenciadas, sendo algumas contemporâneas dos ossos com inscrições, outras medievais e outras bem mais antigas, com até 18 mil anos [contudo, podem não ter relação direta com a cultura que produziu as inscrições].

Devido a essa confusão de datas, e pelo fato de as descobertas não se encaixarem nos paradigmas caducos da ciência oficial, não é de admirar que ainda não exista uma conclusão “oficial” para a questão de Glozel. A hipótese de falsificação, felizmente, foi abandonada.

Tentativas de decifração

Imaginamos que as tabuletas escritas mais antigas sejam de 1500-1000 a.C., mais ou menos. Uma escrita européia há tanto tempo assim? Os acadêmicos não aceitam esta possibilidade. Exatamente por este motivo praticamente ninguém têm se aventurado nos meios acadêmicos a tentar uma decifração dos sinais glozelianos. Os mais corajosos foram Donald B. Buchanan (EUA – 1981) e Hans-Rudolph Hitz (Suíça – 1997 a 2005), que apresentaram propostas de decifração. Contudo, seus sistemas de decifração foram equivocados (Buchanan imaginou que a língua era semítica, feita por mercadores fenícios) ou pouco convincentes e incompletos (Hitz não chegou a traduzir as tabuletas, apenas materiais menores, de uma a duas linhas curtas de texto).

Donal B. Buchanan (EUA), em 1981, publicou um artigo sobre a decifração preliminar do glozélico. Como dissemos, ele acreditava ser o glozélico uma língua semítica. Quando o contatamos por e-mail, em 2004, reconheceu que havia uma pesquisa mais fundamentada que a sua, feita pelo filólogo suíço Hans-Rudolph Hitz, que começou o trabalho de decifração no final da década de 1990. Seus artigos mais recentes são de 2005 [ver www.glozel.net].

Como estudamos línguas antigas desde 1988, tanto línguas semíticas (hebraico, aramaico) quanto indo-européias (latim, grego, sânscrito), lançamo-nos à difícil tarefa de buscar uma decifração para os escritos de Glozel. Ao longo das décadas, muitas teorias foram tecidas sobre como seria a cultura glozeliana. A hipótese com a qual trabalhamos foi a de uma cultura pré-céltica que não usava metais (eles não foram encontrados associados a essa cultura e escrita).

Pensamos que, se as inscrições de Glozel têm uma antigüidade média de 3 mil e 500 anos, sendo muito semelhantes à escrita fenícia e à grega, parecem ser no mínimo 700 anos mais antigas que a escrita grega e, talvez, a sua origem. Mas, por que os sinais de Glozel figuram tão semelhantes aos do fenício, sendo, talvez, contemporâneos deste último? Na verdade, os sinais glozelianos assemelham-se aos sinais fenícios, gregos antigos, latinos e etruscos, e mesmo rúnicos, todos, ao que parece, derivados do mesmo padrão. Até pouco tempo imaginava-se que este padrão era o talhe fenício feito a partir do egípcio ou do proto-sinaítico. Agora, permitimo-nos dizer que o padrão pode ser Glozel!

A proposta brasileira de decifração

Em 1994 apresentamos nossa proposta de tradução para os 118 sinais “fenícios” da maior das tabuletas de Glozel. Tal tradução foi enviada ao Museu de Glozel em mãos através de um amigo. Como não tínhamos certeza da existência deste material atualmente, enviamos em 2004 uma cópia eletrônica da tradução em inglês, que está atualmente depositada nos arquivos do Museu como uma das opções de decifração da “escrita glozeliana”. Em 2005 encerramos nosso trabalho de decifração da escrita glozélica. Está tudo publicado em inglês (os textos foram escritos originalmente nesta língua) no site oficial do Museu de Glozel. O trabalho está disponível para download gratuito em http://www.museedeglozel.com/Trad2000.htm#Stekel. Ao final do trabalho estabelecemos um "glossário glozélico" preliminar.

Começamos nosso trabalho pessoal de decifração da escrita glozélica em 1993, mas só apresentamos o relatório final ao Museu de Glozel em novembro de 2006, depois de nos ter sido enviado bastante material já autenticado contendo as inscrições na tal escrita. Neste relatório, propomos três fases históricas para a escrita glozélica, conforme os sinais gráficos encontrados nas tabuletas de argila cujas cópias nos foram fornecidas pelo próprio Museu.

As três Fases propostas são:

Fase 1 - PRIMITIVA - cerca de 1500?-1000 a.C.: O alfabeto possui 18 letras. Seus sons seriam: Â, Da, E, Ga, I, Ka, La, Ma, Na, O, Ô, Pa, Ra, Sa, Ta, U, Û e Za. Se estivermos certos, o alfabeto glozélico pode ser mais antigo que o fenício, podendo mesmo ser a sua origem. Neste caso, o movimento de disseminação do alfabeto não teria sido fenícia – israel – grécia – roma – glozel, mas glozel – grécia – fenícia – israel – roma. Isto solapa a teoria da origem fenícia e cria a teoria da origem glozélica do alfabeto.

Fase 2 - ORIENTAL - cerca de 1000-800 a.C.: O alfabeto possui 20 letras. Foram incluídos o "Ê" longo e o "Qa", correspondentes ao Eta [Ηη] e ao Qopa [q] gregos. Esta fase é chamada de "oriental" por causa da presença do "qopa", letra utilizada no grego oriental.

Fase 3 - GRECO-ROMANA - cerca de 800-200 a.C.: O alfabeto possui 27 letras. Foram incluídos: "Ça", "Ja", "Kha", "Ksa", "Pha", "Spa" e "Tha". As duas primeiras são de origem estranha e as cinco últimas são de origem "grega", correspondentes a Kha [Ψψ], Ksa [Ξξ], Pha [Φφ], Spa [M] e Tha [Θθ]. Podemos dividir esta fase em dois momentos, dependendo dos sinais envolvidos:

Fase 3A - cerca de 800-200 a.C.: Inclui as letras "Kha", "Pha", "Tha" e "Spa", que têm seus correspondentes gregos mais antigos conhecidos em Melos, Thera, Atenas e Mileto, cerca de 900-800 a.C.

Fase 3B - cerca de 300-200 a.C.: Inclui as letras "Ça", "Ja" e "Ksa", que têm seus correspondentes mais antigos conhecidos nas runas futhark, cerca de 200 a.C. Estas letras só são encontradas nas tabuletas e não nos materiais menores. Elas estão, então, entre os materiais mais recentes.

Em 1993 trabalhávamos com um modelo semítico para a decifração do glozélico. Contudo, a partir de 2003, com os materiais enviados por Donal Buchanan e pelo Museu de Glozel, não pudemos mais sustentar esta teoria, e mudamos para um modelo indo-europeu, que se mostrou muito preciso. A nova análise nos permitiu escrever um glossário etimológico glozélico, com mais de 400 raízes e cerca de 600 termos na linguagem “glozélica”.

No caso da maior das 45 tabuletas de argila encontradas em Glozel, a tradução das 12 linhas originais de texto que apresentamos pela primeira vez em um artigo em Português, para que se tenha uma idéia do seu conteúdo, é a seguinte:

Texto reconstituído: "Gnate ela zade pame kêjla teta rege omaçe kapja îza gowâ takja dala nupe sgama gyôrî kraksê kî-ôyte owû onaça reypjo magne kî-eqa para tama dala papa taga spîye eme kama gazye dâga respoçî datja kaka mutône jala maga qaseu."

Tradução: "Para o filho [que] adianta-se para a execução/realização; para a bebida [sagrada], o companheiro para o rei Teta; para a gordura das tripas [oferecida] obter o comando de Gow, [que] estrangula [e] divide; Nupe ilumina as pedras lá em Gyôra; para o juramento [feito] nas ovelhas [que são] carregadas [oferecidas] para o grande de Reypja, embora o movimento [i.e. a oferta] procure a morte [delas?]. A parte de Papa agrada à minha esperança. Para o devorador Kama sejas bem intencionado na resposta. A doação para o perverso Mutôna; o inchamento [do pênis?] aumenta pelos movimentos violentos."

Este texto – espécie de oferenda – cita sete deuses, a maior parte deles desconhecida da História. Em nosso "Glossário glozélico", as explicações etimológicas sobre estas divindades são:

"Teta - [subst.] Pode ser nome próprio de divindade – Teta.
*Gow – [subst.] Pode ser nome próprio - Gow. Daí: Gowâ - [subst. + abl. Sing.] "por Gow".
Nupe - [subst.] O original é "nup-a". O grego tem νυφη [nüphe] ("noiva; recém-casada"). O latim tem "Niphe" ("Nife: companheira de Diana"). O sentido é "noiva, recém-casada". Pode também ser o nome próprio "Nupe" [correspondente a Niphe] . Aqui, "Nupe".
*Reypja - [subst.] O protocelta tem *reipp-e/o- ("rasgar[-se]"). O sentido pode ser de um nome de lugar - Reypja. Daí: Reypjo - [subst. + gen. Sing.] "de Reypja" + Magne - [adj. + dat. sing.] "para o grande". Assim: "para o grande de Reypja".
Papa - [subst.] O latim tem "papa" ("a papa, a comida dos meninos"), "pappas" ("o pedagogo, o aio do menino: epíteto de Júpiter"). Pode ser um nome próprio - Papa - correspondente ao "Pappas" latino como epíteto de Júpiter.
Kama - [subst.] O grego tem καμενος [kamenos] ("crestado, chamuscado, carbonizado"). O protocelta tem *kamawo- ("pesar, tristeza, dor, desgosto"). O significado é "crestar, chamuscar; crestação". O deus gaulês "Camma"?
Mutôna - [subst.] O latim tem "muto, mutonis" ("membro viril, pênis") e "mutoniatus" (adj. "que tem um grande membro viril"). O protocelta tem *muto- ("pênis"). O sentido deve ser "membro viril, pênis". Contudo, parece ser nome próprio de divindade - Mutôna. Daí: Mutône - [subst. + dat. sing.] "para Mutôna"."

O alfabeto glozeliano

Em 1994, quando escrevemos nosso livro "Projeto Aurora – retorno a linguagem da consciência" (publicado em 2003), que citava a pesquisa sobre Glozel, tínhamos acesso a apenas uma das cerca de 45 grandes tabuletas glozelianas. Portanto, a tradução que apresentamos na época não era definitiva. Ela continha inúmeras falhas. A principal é que considerávamos o glozélico uma língua semítica (como Buchanan).

Em novembro de 2004, o Museu de Glozel enviou-nos cópia eletrônica de mais 45 tabuletas. Tivemos ainda acesso a um "corpus" parcial dos sinais de Glozel, divididos em 111 grupos. Com isso, concluímos tratar-se de um alfabeto usado para escrever uma língua indo-européia que guarda semelhanças com o gaulês, o grego e o latim, mas muito mais antiga.

O trabalho de decifração foi encerrado em outubro de 2006 e imediatamente enviado ao Museu de Glozel para apreciação da comunidade científica. Desde então, está tudo publicado e disponível no site do Museu de Glozel (http://www.museedeglozel.com/Trad2000.htm#Stekel).

A escrita glozélica conta, além do alfabeto, com dezenas de ligações, algo também comum na escrita ibérica, por exemplo. Há tanto ligações de consoantes (encontros consonantais) quanto de vogais (hiatos).

[Para o corpus completo das inscrições, consulte os arquivos em PDF disponíveis gratuitamente no website do Museu de Glozel.]

Comparando o mundo celta e a cultura de Glozel

Analisando a vida dos antigos povos celtas poderemos fazer comparações com a cultura glozeliana, que deduzimos a partir da decifração dos textos das tabuletas, de pedras, vasos de argila e ossos com inscrições.

A palavra "civilização" não deve ser considerada no sentido antigo, uma vez que estudemos os Celtas. Eles não possuíam palácios, nem construíram cidades, mas conheciam a roda. Não viam as coisas como nós. A suprema tarefa do homem era, para eles, domar as forças da Criação, penetrar plenamente o mistério do destino humano e deixar-se embriagar por ele.

Os grupos Celtas da Gália independente (França) receberam a denominação de Civilização de Tène, por causa do lugar onde foram feitas, na Suíça, as primeiras descobertas.

Em 1846, Ramsauer explorava a necrópole de Hallstatt, na Áustria, encontrando 993 sepulturas da primeira idade do ferro e um quadro completo do estágio de civilização que os Celtas haviam atingido em seu habitat de origem ao norte dos Alpes, entre 900 e 500 a.C. Muitas descobertas seguiram-se a esta.

As cinco fontes de que dispomos para estudar os Celtas são:

As informações pouco precisas, mas úteis, dos escritores da Antigüidade, entre eles, o imperador Júlio Cesar;

A arqueologia monumental: traços ou restos de moradias, fortalezas, campos, estradas, utensílios, etc;

A iconografia: a arte do Tène, a escultura pré-romana, a escultura celto-romana e a numismática gaulesa;

A literatura insular, irlandesa e bretã, já tardias, mas contendo muito das antigas lendas comuns aos Celtas;

A língua.

O grande número de nomes próprios contendo em sua composição a palavra epos, "cavalo", mostra a importância dada ao animal, seja na vida econômica, na guerra ou na mitologia. Em Glozel, isto é perfeitamente evidente.

Éforo cita os Celtas no séc. IV a.C., informando que eles habitavam os Países Baixos. Os anais dos padres romanos nos ensinam que os Gauleses haviam obtido a vitória de Ália em 390 a.C. Aristóteles os chama de Keltoi. Timageno conta-nos como, três séculos antes da intervenção romana, a Terra Céltica tinha a feição de um império cobrindo um terço da Europa.

Segundo a arqueologia, a Terra Céltica, até o momento em que entra em contato com o mundo mediterrâneo, não conhece cidades propriamente ditas.
Os Gauleses não se preocuparam em salvar do esquecimento sua linguagem nacional quando aprenderam a escrever.

A civilização céltica, como indo-européia, se destaca por seu arcaísmo. Não lhe falta a noção de Estado - é uma civilização que, como a dos Germanos, a exclui. Muitos dos traços que a distinguem a vinculam com as mais priscas eras, como a caça, a aliança pelo sangue, os parentescos clânicos, o sistema do Dom ou potlach, que é algo como a renúncia heróica ao direito de propriedade.

Quanto aos mitos celtas, dos quais temos registro pela literatura insular, o número dos dias, dos meses ou dos anos - o tempo em geral - devia ter um valor simbólico. Três ou sete não eram números, mas qualidades. Donde a freqüência dessas cifras e dos múltiplos de três na avaliação das quantidades ou do tempo, sem que tenham o menor valor concreto.

Os mitos não são fábulas inventadas por primitivos mais ou menos obtusos. São de todos os tempos e representam o encontro da idéia com o desejo. Os mitos - antigos ou modernos - são um modo de expressão das necessidades do homem fora da razão e da experiência prática. Não ensinam acerca dos acontecimentos. Esclarecem sobre a natureza humana e o clima de uma civilização.

A língua é o instrumento de uma cultura, o signo de uma sociedade, mas não é ela que as constitui em si mesma.

Segundo Cesar, os druidas ensinavam que os Gauleses descendiam de Dispater, o deus dos mortos. Os Celtas eram os "filhos da noite", nem mais nem menos do que o sol que dela emerge. Sua filosofia fundamental era a do Eterno Retorno, que vê a vida brotar da morte, como do inverno a primavera. Isso também se evidencia em Glozel.

Os Celtas se constituíram como povo distinto entre o Reno e o Danúbio durante a primeira idade do ferro. Efetivamente, entre 800 e 500 a.C., o povo que habita a região do centro europeu, onde foi descoberta a civilização dita de Hallstatt é incontestavelmente celta. O povo da civilização de Tène (500 a.C.) também é celta. Glozel é mais antiga pelo menos 200 a 400 anos que Hallstatt. Será celta, com certeza? É anterior à idade do bronze?

A Terra Céltica continental

Além do território da atual França, os Romanos chamavam ainda de Gallia todo o norte e o leste da Itália, Transpadânia e Cispadânia. Entretanto, a unidade da Gália, no interior de limites que não cessaram de variar, era certa. É que uma civilização não é um Estado. Os Gregos antigos são um ótimo exemplo: nunca constituíram um Estado comum.

A unidade dos Celtas lhes adveio, antes de tudo, de uma comunidade de origens míticas e da língua. Eles se sabiam um mesmo todo humano. A instituição druídica velava para entreter esse sentimento e a cultura comum.

Muitos sinais nos indicam que relações continuadas de toda natureza existiam entre os Celtas e os Helenos desde o séc. VII a.C. A partir do séc. III a.C. o tráfico tendo por base a troca de metais (cobre, estanho, ferro), cereais, carnes defumadas do Norte, contra os objetos fabricados, o óleo e o vinho do Sul, passou pelo intermediário romano. A língua latina penetrou na Gália pelos mercadores, que plantaram os elementos de uma quinta-coluna à qual o Júlio César deveu em parte sua vitória rápida e total. Isso também se evidencia nos textos de Glozel mais recentes.

O Egito é a arte monumental. A Grécia, a arte plástica. Roma é o gênio civil. A Terra Céltica é a arte simbólica, a espiritualidade exprimindo-se por meios decorativos. Não existe nenhuma outra arte no mundo que se lhe possa comparar.

As fórmulas que caracterizam essa arte começaram a se precisar desde a primeira idade do ferro. Em Glozel, isso se percebe. Os símbolos das moedas gaulesas do período romano são fantásticos. Por trás dessas figuras existe, é evidente, um ensinamento religioso único e vigilante, que não pode ser senão o do colégio druídico. Um disco, uma roda evocam o Sol; um crescente, a Lua, sem nenhuma dúvida. Sabemos que o caldeirão é o símbolo absoluto da ressurreição. O cinco é o signo do movimento contínuo. Um cavalo cujo traseiro se transforma em cauda sinuosa será ou o cavalo das origens, o deus-cavalo, ou o símbolo do curso do Sol a partir de um renascimento.

Os Celtas regulavam sua vida segundo as fases da Lua, mestra da fecundidade da terra e das mulheres e a ritmavam por quatro grandes festas sazonais. O ano começava a 1º de maio, ou seja, pela estação dos dias mais longos. O inverno começava a 1º de novembro, o início dos "meses negros". Nos textos de Glozel, o Inverno é chamado de "Escuridão". Quer dizer que ao calendário de meses lunares se superpunham estações estabelecidas segundo o ciclo solar. Ambos os processos de medição eram equilibrados por meses intercalares que recuperavam a diferença entre o ano lunar de 354 dias e o solar de 365 e uma fração.

A sociedade céltica era monárquica. Era uma espécie de monarquia semiteocrática. Os povos de importância média debatiam-se sem cessar para escapar à supremacia de um maior, mas caíam sob a tutela de outro. Cada nação celta, quando empenhada numa guerra, chamava ao combate os homens válidos. O número deles era elevado, perto de um quarto da população. À proclamação do "tumulto", os mobilizados deviam dirigir-se sem demora ao ponto de encontro. O último a chegar era sacrificado aos deuses. Depois punham-se em marcha sob um chefe eleito. A plebe formava a infantaria.

A Terra Céltica insular

Os irlandeses, dizem os lingüistas, falam um dialeto céltico, o gaélico [língua dos Gaels], que conserva uma consoante, o Q, que os Bretões da (Grã) Bretanha substituíram, desde antes dos tempos históricos, por um P. O povo goïdéle, que fala esse dialeto, é, pois, o mais antigo e necessariamente foi o primeiro a povoar a Irlanda. Se outras populações falando o dialeto dos Bretões, o britânico, tendo adotado o P, foram assinaladas na Irlanda pelos viajantes gregos e deixaram lembranças e traços, é evidente que elas chegaram depois daquelas que utilizam o Q e foram absorvidas.

Vê-se o erro. Ele consiste em aplicar uma cronologia válida para um fato lingüístico a fenômenos históricos. Além do mais, ignoramos totalmente como essa mudança lingüística ocorreu. Não havia somente Celtas P e Celtas Q, mas também Itálicos Q, os Romanos, que dominaram seus vizinhos, os Itálicos P, Oscos e Úmbrios. Compare-se o latim quinque, ao gaélico coic, e o úmbrio pompe ao gaulês pempe! É uma confusão. Em Glozel, o Q parece preponderante. Todavia, há uma teoria segundo a qual os dois modos de falar coexistiram no seio dos mesmos povos.

Os Celtas repudiavam a mentira. Os textos de Glozel demonstram isso. A moral para eles era simplesmente o respeito ao costume. Mas os Celtas elevavam muito alto um ideal da perfeição humana, na aparência física e no comportamento em sociedade. Um defeito físico era contrário à beleza, ele desqualificava sem apelação. Uma falta contra a honra - mentira, covardia, infidelidade, quebra da palavra dada - era sem perdão e fazia perder a nobreza.

A religião dos Celtas

A religião céltica compreendia dois níveis, o nível esotérico e o nível popular, como a maioria das antigas religiões. O nível superior compreendia uma metafísica que, certa ou erradamente, foi comparada à de Pitágoras. O nível inferior era uma mitologia acessível ao entendimento popular e um conjunto de ritos e costumes provenientes dos cultos solares, lunares e telúricos. Aos velhos cultos agrários pertencia o das águas, das árvores e das divindades-mães, essencialmente localizadas. Em Glozel isto é claro.

Apesar de se imaginar que os Celtas não tiveram seus Mistérios, os textos de Glozel indicam o contrário.

É normal que, num sistema politeísta, cada deus tenha dois aspectos: um especializado (vento, mar, trovão, messes, amor, guerra, etc.), o outro universal. Pois todos os deuses são senão uma imagem compreensível de um mesmo poder divino universal e incompreensível. A religião hindu o explica muito bem. Uma especialização limitativa é uma negação da qualidade divina e reduziria o pretenso deus ao nível de um gênio. Parece que cada tribo, ou cada povo, especialmente na Gália, se atribuía um deus próprio e lhe dava um nome de seu gosto. O deus, adorado num lugar, devia necessariamente corresponder a todas as necessidades. E, no estado de fracionamento social da sociedade céltica, a competência do deus local cessava na fronteira, atribuindo-lhe por isso uma espécie de caráter sagrado.

O Celta acreditava, como o Indo-europeu na Ásia, na unidade da Criação. Não via dificuldade nenhuma em que a alma, ou mesmo a pessoa inteira de um homem, tomasse, por um passe de mágica, a aparência ou a realidade de um animal, sem de nenhum modo se degradar, e eles admitiam que elementos como a terra pudessem falar.

César nos ensina que os Gauleses criam descender do deus dos mortos, em latim Dis Pater, cujo nome gaulês não nos foi transmitido. O que faz pensar que ele era como Donn, seu correspondente irlandês, um deus sombrio e isolado.

Os deuses Celtas também são suscetíveis de morrer. Podem ainda unir-se a mortais e gerar seres com algo de homem e algo de deus, os "heróis".

Quanto aos druidas, eles eram essencialmente "padres", que regiam as cerimônias do culto, em primeiro lugar os sacrifícios. Os druidas eram os senhores dos elementos, senhores e sacerdotes do fogo. O vento druídico era considerado uma arma temível. Os druidas praticavam a adivinhação, a predição, a revelação em sonho, o louvor e a sátira maléfica. A sátira mágica, o glam dicinn, era temida, pois ela tinha por conseqüência atentar contra a integridade e a beleza física, desgraça que os Celtas de situação elevada não suportavam.

É possível que, na origem, os druidas não tenham formado senão uma só classe. Mas, com o tempo, diversificou-se. Uma classe secundária foi constituída, na Gália, pelos vates [citada nos textos de Glozel], que hoje seriam os especialistas em sociologia, história e ciências naturais. Por fim, houve, à margem do colégio druídico, os bardos, espécie de poetas-cancioneiros oficiais da sociedade céltica, cronistas ao mesmo tempo.

A palavra druida significa "muito sábio". Os antigos tinham ouvido falar deles desde o séc. IV a.C. e tinham profundo respeito por seus conhecimentos e sua sabedoria.

Não possuímos textos que resumam o ensinamento dos druidas, mas sabemos que, sem ser esotérico ou secreto, era reservado aos alunos de suas escolas, espécies de seminários agrestes, afastados da agitação do mundo e freqüentado, sobretudo, pelos filhos da aristocracia. Glozel pode ter sido um destes lugares!

Os Celtas não tinham cidades, mas sim o hábito de se reunirem periodicamente em grande número para a celebração de festas religiosas que eram ocasião de jogos [citados nos textos de Glozel], de transações diversas, de processos judiciários. Os omphalos, os centros sagrados, entretiveram entre os Celtas a unidade da língua, dos costumes e sobretudo das crenças.

Os modestos monumentos materiais do culto druídico nos são conhecidos. São pequenos templos de madeira, uma peça simples contendo uma efígie divina, cercada por um peristilo, o fanum, amiúde estabelecidos sobre uma elevação e circundados por uma paliçada ou um fosso. Eram mais abrigos do que igrejas. As cerimônias do culto se efetuavam nas clareiras de bosques consagrados, que tomavam o nome de nemeton, santuários. O ato cultual por excelência era o sacrifício. Na Irlanda, todas as fórmulas encantatórias eram cantadas. Em Glozel, parece que o mesmo ocorria.

Quanto aos sacrifícios humanos, é provável que se tinham sido praticados na Terra Céltica na origem, eles tinham desaparecido ou se tornado raros na época histórica. Os textos de Glozel deixam escapar que esta prática era comum na região.

O sacrifício podia ter três motivações:

1º - O Dom humano era oferecido em contrapartida do dom divino - a vítima era sempre voluntária e honrada como se tivesse morrido em batalha;

2º - Se o sacrifício atingia criminosos ou prisioneiros de guerra, as vítimas concentravam sobre si mesmas, além da mancha de ser um criminoso ou um inimigo, todas as manchas da tribo;

3º - Por último, se sacrificava uma vida em troca de outra, para apaziguar os deuses.

Não havia a idéia de pecado. A palavra "pecado" aparece nos textos de Glozel mais recentes, não nos mais antigos. A palavra para "sacrifício" (antigo irlandês "edbart"; antigo bretão "aberth"; glozélico "lîta") é céltica, enquanto que "pecado" não é (latim "peccatus", irlandês "peccad", antigo bretão "pechod", glozélico "*pekama").

Havia uma classe de mulheres-sacerdotisas, uma forma de sacerdócio druídico. Os Romanos as chamavam de galligènes ("nascidas dos Celtas"), e diziam que elas desencadeavam a tempestade com seus encantamentos, tinham o Dom de se transformarem em animais, curavam as doenças e previam o futuro e, com maior razão, o tempo. Há uma referência a sacerdotisas nos textos de Glozel e à deusa transformada em "vaca".

A sociedade celta

A sociedade céltica é do tipo aristocrático e monárquico. É uma sociedade tripartite, compreendendo não três classes, como se diz, mas sim, três especializações humanas: os druidas (sacerdotes), os cavaleiros (combatentes) e os trabalhadores manuais. É uma sociedade sem Estado. O único funcionário que nela aparece é o intendente do rei, em bretão "gourdisten".

Essa organização não é fundada nem sobre a propriedade, nem sobre o direito de conquista, mas sobre as diferenças que existem entre as vocações sociais. O povo, considerado como uma família ampliada, participava da aristocracia pois descendia também de ancestrais únicos. Duas pessoas são de igual "nascimento" se têm a mesma fortuna. Não há "sangue azul". O filho de um plebeu, enriquecido, entra para a nobreza. Como a guerra é a base, estabeleceu-se uma equivalência entre as noções de saque e de riqueza (o bretão "anao" quer dizer "riqueza, pilhagem, presente" e "buz", "lucro, pilhagem, riqueza, bênção, favor").

A lei, para os Celtas, era o costume. Ela era de origem ou de inspiração divina e não podia ser discutida nem ab-rogada. Um lei nova se substituía gradativamente a uma lei antiga, pois um costume não se suprime: ele cai em desuso.

A fogueira era de uso corrente na Gália para punir os ladrões que não podiam pagar a indenização fixada como restituição do furto, segundo César.

A sociedade céltica em toda sua pureza não era capitalista, pois ela ignorava o capital. Não era nem socialista, pois não conhecia o Estado, nem anarquista, pois era hierarquizada e religiosa, nem monárquica pois seus reis eram eleitos e sem poder real. Ela tinha um pouco de todos os sistemas. Era única em seu gênero.

Tal sociedade era incapaz de eficiência a um nível mais elevado do que a tribo. O Celta tem a fobia do grande chefe, pois não reconhece a seu igual o direito de invadir sua liberdade.

O Celta pagão ignorava a piedade, mesmo em relação ao inimigo caído. Os Gauleses, segundo Poseidônios, guardavam a cabeça de seus inimigos célebres em óleo de cedro, a fim de exibi-los com orgulho. Será que os Celtas tinham um culto às cabeças? E os "celtas" de Glozel? Por que foram encontradas tantas cabeças de argila e vasos em forma de cabeças em Glozel?

O rei celta era o vínculo vivo entre os reinos terrestres e os reinos invisíveis. Ele era pessoalmente responsável pela ventura ou desventura de sua raça. A maior de todas as proibições a um rei era a de não poder falar antes de seu druida. Entre as reais obrigações, estava a de fazer justiça com eqüidade, sobretudo em relação aos pobres. [O interesse pelo bem-estar dos pobres é evidente nos textos de Glozel.]

Glozel: entrando em um mundo precéltico

Aqui, apresentaremos a tradução e a interpretação de algumas das tabuletas de Glozel e outros materiais decifrados, que nos foram disponibilizados por Donal Buchanan, Hans-Rudolph Hitz e o Museu de Glozel. Quando o material passou por Buchanan e/ou Hitz, vai indicado no nº da peça analisada.

GLO- 45.5 [Buchanan, 1981]
Características: Colar de osso com caracteres entre duas cabeças de cavalo. O texto está escrito da esquerda para a direita. O texto parece honrar a morte, algo comum num povo de índole guerreira.
Texto reconstituído: "Kadâ."
Tradução: "Pela morte."

GLO- 52.5 [Buchanan, 1981][Hitz, 2004]
Características: Pequena urna, talvez para uso doméstico. O texto parece escrito da esquerda para a direita. A urna pode ter sido doada por um ofertante aos sacerdotes de Glozel com a finalidade de propiciar dádivas.
Texto reconstituído: "Dâ dateî." [Hitz encontrou "Datti", para ele um nome próprio.]
Tradução: "Doação na [=por causa da] dádiva."

GLO- 49.2 [Buchanan, 1981]
Características: Trata-se de um anel de xisto. Segundo Buchanan [1981], é pequeno demais para ser um bracelete e grande demais para ser um anel de dedo. Para ele, é um "anel para ereção" primitivo. Como o texto corre num círculo, dependendo de ser lido por dentro ou por fora, temos quatro opções de leitura: esquerda-direita por dentro, esquerda-direita por fora, direita-esquerda por dentro, direita-esquerda por fora. Portanto, pode ocorrer confunsão na identificação de algumas letras. O texto parece ser da esquerda para a direita por dentro. Uma divindade chamada "Snîta", e que se assemelha ao Hermes-Mercúrio greco-romano por suas características, é citada no texto.
Texto reconstituído: "Lô mega snîtâ."
Tradução: "Louva [ou, mais provavelmente: 'louvor'] pelo grande pelo Snîta [lit. "pelo abridor de caminho"]."

GLO- 58.2, 3, 4 [Buchanan, 1981]
Características: Trata-se do cabo de uma faca de pederneira primitiva. Está decorado com a imagem de um animal doméstico (cadela?) e seus filhotes e possui duas inscrições (58.3 e 58.4). Buchanan acredita que era uma ferramenta de pastor. O texto é um pouco irregular, mas foi escrito da esquerda para a direita. Podemos entender que uma deusa-cadela - "Kûâna" - recebia oferendas de carne despedaçada.
Texto reconstituído: [58.3] "Lakû. [58.4] Latata kûâne."
Tradução: "[58.3] "Nos despedaçamentos [58.4] levado [=oferecido?] para [a deusa?] Kûâna [lit. "cadela"]."

Tabuleta Nº 28 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 06 linhas e foi escrita em boustrophedon a partir da direita. No texto encontramos a palavra "Mamma", que significa "mãe" em muitas línguas indo-européias. Trata-se de um pedido à deusa Mãe e aos "poderosos na propiciação" ("galyâi radi") para o bom retorno à terra natal, depois de se vencer o cansaço da viagem.
Texto reconstituído: "Mamma lase tewî pomî galyu radî da tîkê âtî rîgî."
Tradução: "Mãe, para o cansaço louvei no carvalho pelos [deuses] poderosos na propiciação. Oferecimento para o retorno aos domínios reais."

GLO- 44.6 [Buchanan, 1981]
Características: Um pequeno anel de osso que devia provavelmente ser colocado no pescoço de um animal através de uma tira de couro. Alguns caracteres parecem numerais em uma forma semelhante ao sistema romano, que pode ser mais antigo do que se pensa, portanto. A cabeça de dois animais não identificados aparece entre os caracteres e os numerais. O texto está da esquerda para a direita. Há dúvidas se o caractere "X" deve ser considerado numeral (como considera Buchanan). Nós o consideramos a letra "T". Há uma referência a 405 animais sagrados, talvez pertencentes aos sacerdotes, que parecem ser cuidados pelo portador do anel.
Texto reconstituído: "Îdâ ûta 405 [animais] dâê."
Tradução: "Pela separação [dos animais sagrados] escutai; 405 [animais] para doações [consagrações]."

GLO- 66.1 [Buchanan, 1981]
Características: Um amuleto de proteção feito de pedra. Há a imagem de um veado macho. A escrita é da esquerda para a direita, mas saindo da orelha do animal e fazendo a volta por sua cabeça. Os sinais XXX parecem ser numerais, talvez 30. O deus louvado 30 vezes seria Cernnunos, o deus-veado dos celtas? A ele parece que se oferecia o pêlo dos animais mortos na caça, talvez para se ter influência sobre ele na proteção contra a falta de prosperidade.
Texto reconstituído: "Uke pênye [Nº 30] ôdâ gâyta zagata dâlagsîde."
Tradução: "Para [evitar] a pobreza; para o louvado 30 [vezes?] pela canção [sagrada?]; o pêlo vivo para a posse do veado [macho]."

GLO- 44.5 [Hitz, 2004]
Características: Trata-se de um anel ou argola com uma inscrição e a imagem da cabeça de um animal difícil de identificar. A direção da escrita é da esquerda para a direita. O texto parece referir-se a rituais com bebidas alucinógenas que dão poderes místicos. O autor deseja este poder, pertencente aos "estranguladores" das vítimas ("takâi").
Texto reconstituído: "Zada pôkî [animal] lwî dâ takê wîdâ îsu."
Tradução: "Mergulha-se [em louvor] na bebida, na mistura [de líquidos alucinógenos?]. Doação para os estranguladores [das vítimas?] pela visão pelas igualdades [=pelas igualdades de visão mística?]."

GLO- 44.1 [Hitz, 2004]
Características: Um anel em marfim. O texto foi escrito da esquerda para a direita. É citada uma divindade - Weda - semelhante ao Plutão latino, e à qual, ao que parece, eram oferecidos em sacrifício os ladrões.
Texto reconstituído: "Mwê taza sdu weda ladâ."
Tradução: "Para os ladrões, jurar [solenemente] pelas [suas] reduções/quebras; a Weda [lit. "guia"] pela abundância."

Tabuleta Nº 22 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 05 linhas e foi escrita em boustrophedon iniciando pela direita. As primeiras quatro linhas parecem conter alguma métrica ou rima. O ministro dos sacrifícios recebe o nome de "pôpa" [o mesmo "popa" romano] e pretende ser preenchido pela força vital dos deuses.
Texto reconstituído: "Ema lema zago teu ema pôpa naro teu dalu maq[w]a."
Tradução: "Eu tranbordo [sou inundado] da vida pelos deuses; eu, o ministro dos sacrifícios do nobre, pelos deuses, pelas divisões de alimento [ou: 'filho']."

Tabuleta Nº 16 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 09 linhas e está truncada entre as linhas 4 e 5. Está escrita da esquerda para a direita, mas algumas linhas estão muito irregulares. O sinal // /// /// pode representar o número "oito". O texto faz uma referência à gazela ou cervo, talvez como divindade.
Texto reconstituído: "Pîw laka tîpa zaga kako laga lyâoo [Nº 08] tala deypa gna tô îyâ îka katê mala uka dâr(a)ga."
Tradução: "O esquartejamento pio [consagrado] [de] uma espécie de vida é capaz das dissoluções do mal; oito [vítimas?] [é] o banquete fixado; sim, a sabedoria se reflete pelo desejo para as sagacidades/cautelas [do] mal, [que é] vazio [do poder do deus?] Dâr(a)ga [lit. "cervo"]."

GLO- 50.2, GF 82 [Buchanan, 1981] [Hitz, 2004]
Características: Outro anel de xisto. Buchanan e Hitz chegaram a resultados completamente diferentes. O texto está da esquerda para a direita por dentro. Parece referir-se à proteção da deusa Io, conhecida da mitologia greco-romana.
Texto reconstituído: "Phada gutâ yôê."
Tradução: "Para as [sacerdotisas de] Io [lit. 'concepção, gravidez'] predizerem por meio da [deusa] tornada vaca."

Tabuleta Nº 33 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 07 linhas e foi escrita da esquerda para a direita. O texto é funerário e procura aproximar a sabedoria [Gnama] do morto, para que ele se una [gama] a ela. O deus tutelar [Lara] do morto se chama "Zaspa", desconhecido. O morto se confunde com sua própria "sabedoria" e com o próprio deus tutelar no texto, indicando um caráter indissociável entre os três aspectos: o ser, sua sabedoria e seu deus tutelar.
Texto reconstituído: "Gnama galî uma îtâ tame epa lare zaspa gâta narî game eâpus(a) khwe me gnôtê âparâ."
Tradução: "A poderosa sabedoria aqui parte para a morte junto para o [=ao?] deus tutelar Zaspa, na nobre partida para o casamento [com?] essa mesma [sabedoria?] [que] ainda para a permanência, para os conhecidos [amigos?], pela visão [do morto?]."

Tabuleta Nº 06 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 06 linhas e parece inegavelmente escrita em boustrophedon a partir da direita. É um texto sobre a "morte [simbólica] na câmara [iniciática]" - "kada talamî". Seria uma referência aos "Mistérios de Glozel"? O neófito é chamado "egana" ("pobre, necessitado") e subentende-se que podia ser possuído pelos deuses numa espécie de "enthusiasmus" ("a inspiração divina ou poética").
Texto reconstituído: "Egane kadâ talamî îkha daro malî zaçî zamî rasa tôkseo."
Tradução: "Para o pobre [necessitado] pela morte [simbólica?] na câmara [iniciática?] refletir da [=sobre a] honra. Na possessão [pelos deuses], no cereal [ou] no descanso [=repouso], tenha [ele] prazer [gosto] da [=pela] ordem."

Tabuleta Nº 39 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 06 linhas e foi escrita da esquerda para a direita. O texto cita um deus gaulês, Camma, aqui grafado Kama, a quem se oferecia cavalos. Cita ainda um tal Dugnala, a quem se oferecia bezerros.
Texto reconstituído: "Magja gyôga tar(a)dî gappa dugnale eq[w]îtyo paza kama lâpî."
Tradução: "Na saída da grande narceja o bezerro para Dugnala. Da manada de cavalos Kama [lit. "crestação"] passa no machado [uma vítima?].

Tabuleta Nº 05 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 07 linhas e está escrita numa direção esquerda-direita irregular, especialmente nas linhas 02, 03 e 07. Isso quase nos faz pensar num boustrophedon, mas não é o caso. É uma das tabuletas de tradução mais difícil, exatamente por sua irregularidade. Uma provável divindade desconhecida - Râçîk - é citada. A palavra "leite" aparece duas vezes e o texto parece descrever uma espécie de libação com esta substância ["spa kalakatte", "espalhar o leite"?]. O trecho "pupa pardî îodâ" ["no leopardo a menina pela batalha"] traz sérios indícios de sacrifícios humanos em Glozel.
Texto reconstituído: "Laza ljada pwâ îzô râçîka pupa pardî yodâ owâ mu taksâeâ lâgna spa kalakatte pekamî kalakat[a]ta kaja kana zota."
Tradução: "A ferida se aquece [=se cura?] pela pureza dos comandos, por Râçîk. No leopardo a menina [oferecida?] pela batalha, pela ovelha, pelas destruições, pelo toucinho. O bardo [poeta] espalha para o leite no erro [para expiação?]. A casa do leite prognostica [o que é] mágico."

Tabuleta Nº 19 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 07 linhas e está escrita na direção da esquerda para a direita. O texto ensina que a maior exigência da "lei completa" ["yûça lera"] é o "amor à sabedoria" ["kara gna"]. A oração dos pobres à Mãe-Terra é chamada "rogâtî telâ" ["súplica pela Terra"].
Texto reconstituído: "Ela zîte yûça lera kara gna kwey-tago uke êta takha rogâtyî telâ."
Tradução: "Para a exigência diante da lei ser completa, ame-se a sabedoria. Aqueles do gosto para a pobreza derrotam o silêncio na súplica pela Terra."

Tabuleta Nº 24 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 08 linhas e está escrita da esquerda para a direita. Está truncada, o que prejudica a leitura da linha 04. Encontramos ali uma forma da palavra "sétimo" que parece ser a ponte com a forma grega: EP(A)TÁ/EP(A)TÎMA (Glozel) - EPTÁ/EPTOMOS (protogrego?) - EPTÁ/EBDOMOS (grego). Ainda aparecem os números 03 na forma /// e "um" ("êna"). O texto traz sérios indícios de sacrifícios realizados em Glozel, pois cita a morte de sete vítimas "iniciáticas". É mesmo possível que fossem sacrifícios humanos. A divindade citada - Eza - pode ser o mesmo Esus a quem os latinos acusavam os gauleses de oferecer vítimas humanas.
Texto reconstituído: "Paga lewî lada kadâ ep(a)tîma mô dâ ye êna [truncado]...î Nº 03 dame mana gne pamî dîla dâ eza ksadî opî."
Tradução: "A aldeia tornou-se forte com abundância pela sétima morte iniciática oferecida para a dominação [do inimigo?]. Um .... três para a casa. A revelação para a Sabedoria, na bebida agradável, [a] Eza na abertura [da vítima?] do [=pelo] punhal[?]."

Tabuleta Nº 17 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 09 linhas e parece ter sido escrita em boustrophedon. Ademais, é quase uma cópia da tabuleta nº 29, exceto por alguns caracteres diferentes e outros com grafia peculiar [ver Tabuleta Nº 29, abaixo]. Contém uma palavra a menos que T29. No mesmo texto é citado o nome antigo da deusa Diana - Jana - e o nome da cidade de Roma.
Texto reconstituído: "Gala tamo yemo tâze janî orâ pagonî uqa laz-gata paga qwume orana taqwa îta roma zag-nu pwôlwâ mamu duwu semowe." [As partes em negrito são as que diferem do texto da T29.]
Tradução: "O poder da morte do inverno para o juramento [solene] em Jana [Diana]. Pela súplica no aldeão pobre [que] parte para a captura [caça?]. A aldeia, para o momento [em] que o suplicante Taqwa [lit. "estrangulamento"?], partido de Roma, agora vivo pela cinza, pelas [deusas?] Mães, pelos guias/condutores [deuses tutelares?], para o semideus."

Tabuleta Nº 29 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 09 linhas e parece ter sido escrita em boustrophedon a partir da direita. É muito parecida com a tabuleta nº 17 [ver acima], exceto por alguns caracteres novos ou grafia diferente para outros. O texto cita o nome de Marela, um semideus de origem desconhecida.
Texto reconstituído: "Gala tamo yemo tâze janî ladâ pagonî uqa lazza tuga qwume orana tanây îta naga zasdwâ pwôlwâ mamu dwuzî soemo marela." [As partes em negrito são as que diferem do texto da T17.]
Tradução: "O poder da morte do inverno para o juramento [solene] em Jana [Diana]. Pela abundância no aldeão pobre [do] machado de captura [caça?]. A aldeia, para o momento que o suplicante Tanây [lit. "os tempos"?], partido de Naga, por Zasdu, pela cinza, pelas [deusas?] Mães, [está] no braço do semideus Marela [lit. "cuja morte se adianta"]."

Para ler o texto completo das decifrações em Português, consulte nosso blog http://hierolinguistica.blogspot.com/2008/01/glozel-decifrado-proposta-de-decifrao.html.

 

O que o Buda NÃO ensinou [artigo de Christopher Titmuss]

Nota do Tradutor e Editor: Este artigo foi recentemente publicado no boletim digital Dharma e-News Nº 13 (Janeiro a Abril de 2008), organizado pelo próprio Christopher Titmuss. Traduzimos e publicamos aqui o texto sob autorização expressa do autor.



Os Discursos em Páli (Suttas) são o corpo original de textos das palavras do Buda. O propósito deste artigo é destacar alguns aspectos daquilo que o Buda não ensinou. Os Suttas em Páli mostram que o Buda refutou muitas idéias que hoje lhe atribuímos. Os praticantes do Dharma, aqueles que consideram o Buda como seu professor principal, precisariam verificar o que o Buda disse nos Suttas. Permitam-nos aplicar uma sabedoria perspicaz. Obviamente, há percepções mais profundas que vão além da sabedoria do Buda.

Conforme os textos, o Buda não ensinou:

1 – Abhidhamma. Conforme a Tradição Budista Theravada, o Abhidhamma constitui os ensinamentos de Buda concedidos à sua mãe no paraíso de Tusita. A pesquisa histórica mostra que monges budistas especialistas escreveram o Abhidhamma como um comentário às palavras do Buda. Consistindo de sete livros, o Abhidhamma fornece uma classificação detalhada e analítica da mente e do corpo numa variedade de grupos e elementos. O Abhidhamma foi composto durante um longo período e não é a palavra do Buda, mas só uma interpretação. O Abhidhamma é uma entre um certo número de escolas budistas de interpretação dos Suttas.

2 – Aceitação. Nos 5 mil discursos do Buda não é possível encontrar uma palavra Páli para “aceitação”. Ele aponta mais para uma investigação profunda do que uma aceitação daquilo que não podemos mudar.

3 – Anicca, Dukkha e Anatta são a verdadeira realidade da existência. O Buda nunca fez tal afirmação a respeito da impermanência [anicca], da insatisfatoriedade [dukkha] e do não-eu [anatta]. Ele disse que estas são três características da existência. Se fossem a verdadeira realidade, não haveria alívio nem liberação. O Incondicionado é anatta [não-eu], mas não anicca ou dukkha.

4 – Crença em Deus. O Buda considera a crença no Deus Criador do monoteísmo como só mais uma das diversas espécies de crença religiosa. Ele a rejeitou, bem como a várias outras crenças religiosas. No Judaísmo, Cristianismo e Islamismo isso é considerado como a única crença religiosa. Na antiga Índia, o Deus criador era chamado Brahma. No entanto, o Buda apontou o caminho para permanecer com Brahma (Brahma Viharas). É importante entender que o Deus Criador da Índia antiga não pode ser comparado ao Deus Criador Ocidental, que é absoluto e todo-poderoso. Brahma é um Deus entre os Deuses. A profunda e liberadora força de amor, compaixão, grata alegria e equanimidade revela uma permanência com Brahma, uma força criativa. O Buda nunca hesitou em seu foco na liberação completa, ao invés de uma experiência de união com Brahma.

5 – Estar no aqui e agora. O Buda não deu ensinamentos do tipo “estar aqui e agora”. Os especialistas budistas traduziram muito livremente “ditthe dhamme” como “aqui e agora”. “Ditthe” significa “visão” e “dhamme” refere-se ao Dharma, isto é, a todos os objetos (na mente e no mundo, passado, presente ou futuro), aos ensinamentos e à verdade. O Buda não reconheceu qualquer tipo de entidade egóica [self entity] nem adotou uma idéia de substância para o momento presente. “Ditthe dhamma” pode ainda significar “o ato de ver com atenção cuidadosa o Dharma”.

6 – Crença em Deus, um salvador, um livro sagrado, profeta ou guru. A linguagem de “Deus” é a linguagem do “Eu”. Afinal de contas, a crença em Deus e no Eu são os dois lados da mesma moeda, a primeira crença reconfirmando a segunda. Um “Deus Absoluto” não é uma grande questão nos Suttas porque ela não foi um ensinamento influente quando o Buda destacou o ver claramente, o amor desapegado (metta) e a compreensão da natureza da originação dependente. Ele não se opôs à linguagem de “Deus” (Brahma), como usada na Índia. Ele considerou a noção de Deus inteiramente dependente dos sentimentos, percepções e crenças. Não referiu-se a si mesmo como um profeta, guru, deidade ou avatar (encarnação de Deus). Não referiu-se a si mesmo como um mortal comum. Ele disse: Eu estou desperto. O Buda não apontou um sucessor antes de morrer. Ele ordenou que sua Sangha confia-se no Dharma.

7 – Causa. O Buda observou estritamente a originação dependente. Ele não adota uma causa e efeito simplista, de A para B, pensando algo como “esta técnica de meditação conduz diretamente à liberação”. O Buda referiu-se à causa (Páli, hetu) como uma condição distintiva (paccaya). Ele tendeu a colocar as duas questões juntas. Qual é a causa? Qual é a condição? (ko hetu ko paccayo) Numerosas causas ou condições para numerosos efeitos são mencionados nos Suttas. O Buda não aplica qualquer espécie de modelo simplista – “isto exclusivamente causará aquilo” – para o despertar. Ele se refere a um caminho direto (eke-yana) para o despertar.

8 – Escolha. A idéia de que somos sempre livres para fazer uma escolha não está de acordo com a experiência. Não escolhemos nascer, parar de envelhecer, de ficar doentes ou de sofrer dor. Não podemos escolher viver para sempre. Não podemos escolher ser felizes em cada momento do dia. Não podemos escolher os resultados dos eventos que realizamos em nossas vidas. Poderíamos pensar que fazemos escolhas livres e independentes somente para constatar mais tarde que a suposta livre escolha que fizemos acabou se tornando um pesadelo. Nossas supostas escolhas são limitadas. Fazemos escolhas sem conhecer as incontáveis condições que influenciam tais escolhas, ou do passado, presente, ou que poderiam surgir no futuro. Somos herdeiros de nosso karma e amarrados a nosso karma. Isso é uma escolha? É aconselhável usar a linguagem de “escolha”? É a noção da escolha do consumidor deixando-nos iludidos e aprisionados como fregueses? O Buda enfatizou mais a intenção afetando corpo, fala e mente. Na clareza, naturalmente cultivamos ética, samadhi [N.T. “êxtase” - o autor o define como “poder de concentração”] e sabedoria. É uma prioridade natural. A Sabedoria diz que neste caso não se sente haver qualquer escolha. É simplesmente algo conduzente a um modo de vida liberado. Num sentido profundo, realmente não há uma escolha.

9 – Determinismo e fatalismo. O passado certamente pode determinar o processo de originação dependente. O fato de que o passado pode determinar o presente não significa que somos prisioneiros, porque o passado não é um agente que, afinal de contas, possa aprisionar-nos. Isto também significa que não há eventos que simplesmente ocorram sem causas e condições. O Buda também não ensina o fatalismo. Se o passado de modo absoluto determinasse nossa vida, então os ensinamentos das Quatro Nobres Verdades seriam irrelevantes. Seríamos um total prisioneiro de nosso passado. Novamente, não haveria liberação do passado, das forças não-resolvidas do karma. O Buda ensina a originação dependente e a liberação.

10 – Iluminação. A palavra “iluminação” não aparece em lugar algum dos textos budistas. Iluminação é um conceito Ocidental relacionado à era moderna no Ocidente, onde a ciência e a razão gradualmente substituíram o Deus que distribuía punições e recompensas pelas crenças e conduta humana. A palavra bodhi significa “despertar”. Ela vem da raiz budh - “acordar”. Soa arrogante dizer “eu estou iluminado”. Isso soa como crença em um “Eu” que diz “eu estou iluminado”, já que implica em um Eu chegando à Luz e que podemos apreciar aqueles que despertaram. Em Sete Fatores da “Iluminação” a palavra Páli é bojjhanga - bodhi, despertar e anga, aspectos de ou membros de. Uma década atrás eu escrevi um livro chamado Light on Enlightenment [Luz sobre a Iluminação]. Anos depois, um especialista Páli me fez a distinção entre despertar e iluminação. Vivendo e aprendendo!

11 – Fé. No sentido Ocidental, fé é freqüentemente associada com fé religiosa, como a de que há vida após a morte ou ter fé em um livro sagrado, um profeta ou Deus. Não há palavra equivalente nos ensinamentos do Buda. Saddha, a palavra Páli traduzida como fé, ou às vezes confiança ou crença, significa sad - coração, dha - pôr ou colocar. Quando nosso coração se dirige à ação, como para explorar os ensinamentos, então saddha surge enraizada na direção do maior aprofundamento.

12 – Livre-arbítrio. Para a vontade ser livre, teria que ser independente, suportada pelo Eu e não condicionada por circunstâncias interiores e exteriores. O Buda não ensina o livre-arbítrio. O Buda ensinou o caminho do meio entre livre-arbítrio e determinismo. O Eu está ligado à noção de livre-arbítrio e igualmente ligado à noção de determinismo. Verdadeiramente, conhecer e perceber a originação dependente é liberar-se. Isso revela o vazio de um Eu real e das coisas reais.

13 – Escape. Os textos falam do escape do sofrimento. A palavra Páli nissarana significa saída. Nós geralmente associamos escape com evasão, com o medo que nos obriga a fugir de nós mesmos, da responsabilidade. Precisamos lembrar o suporte que o Buda deu-nos para encontrar a saída. Gautama, o futuro Buda, fugiu de suas responsabilidades como um príncipe, um marido e um pai. Após seu despertar, seis anos depois, ele pensou a respeito da gratificação da busca de prazer, o perigo nisso e a saída disso.

14 – Extinção do desejo. A palavra khaya geralmente traduzida como extinção, destruição ou dissolução, significa o “esgotamento” do desejo. No esgotamento do desejo, podemos envolver-nos em atenção sábia e ação sábia não corrompida com as preocupações do Eu e com aquilo que ele persegue.

15 – Cinco Preceitos. É extraordinariamente difícil encontrar o conjunto de Cinco Preceitos nos ensinamentos do Buda. Esta lista dos cinco aparece em uma única ocasião em um texto obscuro em todos os Suttas. O Buda nunca limitou sila (ética) a cinco preceitos. Ele falou muito mais extensamente sobre ética, sobre moralidade, do que tem feito a tradição budista. Ele falou a monges e monjas sobre a importância do controle dos sentidos, da purificação do meio de vida e do habilidoso uso de comida, vestimenta, abrigo e medicina como características igualmente importantes de sila. Foi conveniente para o rico que a tradição budista ignorasse o Buda e confinasse a ética aos cinco preceitos. O rico poderia buscar a gratificação sensual e privilégios incontidos assim que a tradição em grande parte excluiu-os como uma questão moral. O Buda ainda lista 10 caminhos de ação inábil e ação hábil, 3 de corpo, 4 de fala, 3 de mente (os 4 primeiros sendo a base dos 4 primeiros preceitos). MN 41, Saleyyaka Sutta.

16 – Interconexão. Isto implica que cada “coisa” está conectada a cada outra “coisa”. É uma idéia baseada na noção de que há alguma “coisa” no primeiro lugar. É o carro o motor? Não. Então, tire o motor. É o carro as rodas? Não. Então, tire as rodas. É o carro qualquer outra parte? Não. Então, jogue fora o resto das partes. O que restou do carro a ser conectado? Nada daquele “eu”. Há a convenção de que existe um carro. Muitas mulheres juntaram-se ao Buda no modo de vida renunciado da exploração do Dharma. Uma destas mulheres, chamada Vajira, experimentou pensamentos perturbadores na meditação.

Por quem este homem foi criado?
Onde está o Artífice do ser?
De onde o ser humano se originou?
Onde o ser humano cessa?
Então isto veio à sua mente.
Quem se dedicou a esta questão? Um ser humano ou um ser não-humano?
Ah, isso vem da tentação (Mara) para despertar medo e apreensão? Ela compreendeu.
A verdade despertou nela. Ela respondeu:
Exatamente como numa união de partes a palavra carruagem é usada.
Então, quando os agregados existem,
Há a convenção de um ser humano.
Então, foi dito ao final do discurso pela voz para despertar medo.
Vajira reconheceu-me e então a voz desapareceu dali completamente.
SN. 1. pag. 230.

17 – A vida é sofrimento. Está é uma declaração incorreta da primeira nobre verdade. Novamente, não há tal declaração do Buda. Se isso fosse realidade, então não haveria escapatória. Quando o sofrimento surge na vida, é devido às condições. Quando as condições para o sofrimento não estão presentes, então o sofrimento não surge.

18 – Mantras. Os Mantras são geralmente uma prática devocional para um Eu Supremo, para um Deus ou que se utiliza da pura repetição de uma palavra para condicionar a mente a reduzir o estresse ou o pensamento excessivo. O Buda ensinou a experiência direta com a respiração, o corpo, os sentimentos, os estados da mente e o dharma ao invés de qualquer mantra como a prioridade da atenção. Mantras podem, entretanto, ser uma meditação útil para acalmar a mente.

19 – Metta é bondade amorosa. Muitos tradutores Páli definiram metta como bondade amorosa. O Pali-English Dictionary, da muito respeitada Pali Text Society, na Grã-Bretanha, usa a palavra “amor” para metta. Percepções da bondade dos monges budistas podem ter influenciado a moderna tradução de metta. O dicionário diz que metta deriva de mid - amar. Bondade amorosa é uma tradução inadequada. Metta expressa amor incondicional, amizade profunda e bondade ilimitada, aberta e sem amarras. O Buda falou a Anuruddha de liberação através do amor (metta ceto-vimutti) e novamente em Itivuttaka 27.19-21. Ananda também incentivou meditar nas características de metta para se atingir a liberação.

20 – Método e técnica para desenvolver Metta. No Metta Sutta, o Buda simplesmente revelou as qualidades, atitude e estado de ser de alguém profundamente fixado em metta. Amor sem limites é a marca de uma pessoa verdadeiramente realizada. O Buda apenas ensinou a direção de metta em todas as direções assim que se esteja desapegado. Metta, que é amor, é uma força transformadora e divina que compartilha características similares à liberação. Ambas, liberação e amor, não conhecem limites. Os métodos e técnicas modernas para desenvolver metta têm muito pouca relação com a realização de metta como uma imersão permanente. Apesar disso, a aplicação de métodos e técnicas para desenvolver metta pode ser muito proveitosa. Em seu livro clássico da tradição Theravada do século V, o Visuddhimagga (o Caminho de Purificação), o Venerável Acharya Buddhaghosa aproveitou algumas das afirmações do Buda e usou-as como frases para desenvolver metta. Ex.: “Possam todos os seres estar livres da inimizade. Possam eles viver venturosamente.”

21 – Atenção plena é o elo mais importante no Caminho Óctuplo. O Buda nunca isolou um elo acima dos outros. No Discurso sobre as Quatro Aplicações de Atenção Plena, ele disse que “atenção plena é cultivada até o ponto necessário para o conhecimento, a fim de se permanecer livre e independentemente no mundo”. Não há qualquer instrução nos ensinamentos do Buda para se estar “cônscio em cada momento”. Ele não poderia corresponder a tamanho ideal. Nem ninguém poderia. É um empreendimento impossível. O Buda não foi sempre cioso das conseqüências de suas decisões e mudaria sua mente depois. Tomar um dos aspectos do caminho e elevá-lo acima dos demais abandona a originação dependente. Isso daria caráter de Eu à atenção plena. No MLD 117, o Buda declarou que visão correta, esforço correto e plena atenção correta sustentam uma à outra enquanto fornecem uma explicação abrangente da sustentação mútua e dos significados de cada elo no Nobre Caminho Óctuplo.

22 – Prática momento a momento. O Buda não adota esse tipo de idéia. Ele defende a aplicação da plena atenção ao corpo, sensações, estado da mente e dharma. É um meio de realizar uma liberação eterna. Ele não ensina o concentrar-se na plena atenção para seu próprio benefício. Ele não admite qualquer tipo de egoidade à plena atenção. Não há palavras para “momento a momento” em qualquer dos Suttas. Desenvolvemos plena atenção juntamente com seis outros membros para atingir o despertar, a saber, investigação, energia, alegria profunda, tranqüilidade, concentração meditativa e equanimidade, para chegar à verdadeira sabedoria da liberação. (MLD 118).

23 – Conhecer e perceber as coisas como elas são. Não proferido pelo Buda. Uma má tradução comum de yathabhutam-ñana-dassana. Esta célebre declaração do Buda significa literalmente “conhecer e perceber conforme o que vem a ser”. Bhuta vem da raiz bhu, vir-a-ser. Isso se refere à ação de conhecer e perceber. Não há menção de coisas nesta afirmação. Esta tradução correta é uma aproximação mais dinâmica e desafiadora do que a má tradução que sugere uma idéia fixa. “O que vem a ser” se refere à originação dependente.

24 – Nenhum Eu. O Buda permaneceu em nobre silêncio quando perguntado se havia um eu ou nenhum eu. Ele simplesmente declarou que corpo, sentimentos, percepções, formações mentais, incluindo os pensamentos, e a consciência não eram alguém e não pertenciam ao eu. Ele não ensinou o eu como sendo um veículo para a liberação da falsa percepção. Anatta literalmente significa “não-eu”; se o Buda tivesse dito “nenhum eu”, ele teria falado na-atta.

25 – A Unidade é a realidade fundamental. O Buda não negou a importância da Unidade. Ele se refere a ela na experiência de Brahma Viharas (Permanência Divina ou Presença de Deus). Ele não se refere a esta Permanência como realidade fundamental, uma vez que isso traz a noção de um Eu que se une a outro. O Buda refuta que O Todo é Um e igualmente refuta que O Todo é Muitos e aponta para a originação dependente. Em MLD 117, o Buda disse: a Unificação da mente, equipada com os outros sete elos do Caminho Óctuplo, é chamada nobre concentração correta com seus suportes e requisitos.

26 – Abrir-se ao desejo. O desejo (tanha), tanto quanto a ânsia e a sede que se seguem, conduz à insatisfatoriedade e ao sofrimento. O Buda nunca endossou uma idéia como a de se abrir ao desejo. O desejo resulta do contato, da identificação com sensações particulares que condicionam o desejo e alimentam o apego. A idéia de que podemos obter aquilo que desejamos sem vínculo com os resultados compromete os ensinamentos do Buda sobre a insatisfatioriedade do desejo. Abrir-se ao desejo emite uma mensagem aos consumidores budistas para que estejam abertos a seus desejos desde que, por meio deles, sigam sem ânsia. A paz temporária da mente que experimentamos quando somos bem-sucedidos em conseguir o que queremos é devida à suspensão temporária do desejo em nossa mente. Abrir-se ao desejo dilui os ensinamentos do Buda para adequá-los à ideologia Ocidental de ir atrás do que queremos. É uma visão comum no Budismo Americano contemporâneo, onde geralmente a jangada que vai para a outra margem tem se tornado a partida de um transatlântico. O Buda usa outras palavras para “desejo”, como dhamma-canda, zelo pelo dharma, quando referindo-se à intenção, práticas e ações necessárias para o despertar e a liberação.

27 – A Paixão (raga) deve ser erradicada. O Buda incentivou a paixão como Dhamma rage (Paixão pelo Dharma). Não devemos confundir raga com desejo. Ele referiu-se a abandonar qualquer raga que dá cor e distorce os objetos. A palavra raga significa dar cor ou tingir.

28 – Paramitas (Perfeições). O Buda não ensina as 10 Perfeições. Elas não são encontradas em nenhum lugar dos Suttas. Ele refutou a crença de que podemos alcançar uma perfeição da mente, não importa o quanto cultivemos dana (generosidade), ética, renúncia, sabedoria, energia, paciência, honradez, decisão, metta (amor, bondade amorosa) e equanimidade. As 10 Perfeições são encontradas nos comentários do Theravada e Seis Perfeições são encontradas na tradição Tibetana. O Buda ensinou a liberação a partir da noção de perfeição e imperfeição.

29 – Salvação pessoal. Salvação pessoal importa para aqueles que acreditam em um Eu que deva ser salvo.

30 – Renascimento. Não há nenhuma palavra nos ensinamentos do Buda que se traduza literalmente como renascimento. Esta noção parece vir da palavra Páli punnabbhava, que literalmente significa “novo vir-a-ser” [rebecoming]. No Kalama Sutta, um dos mais queridos de todos os discursos sobre a investigação, o Buda presume uma idéia provisória sobre o “novo vir-a-ser” ao invés de referir-se a isso como um fato indubitável. Há o “novo vir-a-ser” devido a estar-se amarrado à força do desejo.

31 – Reencarnação. O Buda refutou a crença numa alma, Eu [self] ou essência que vai de uma vida à outra. Nossa meditação não pode mostrar algo interno permanente a deixar o corpo ao chegar a morte.

32 – Visão correta. A palavra Páli para “correto”, no caso de “visão correta”, “intenção correta” e nos seis elos restantes no Nobre Caminho Óctuplo, é Samma. Samma significa “conduzente” - conduzente ao completo despertar. Uma visão conduzente revela uma profundidade de compreensão do que é a liberação. Samma não tem qualquer implicação de um mandamento moral, de certo ou errado. Miccha Magga significa um Caminho Não-conduzente que se segue na vida.

33 – Samatha (tranqüilidade) e vipassana (discernimento) são práticas separadas uma da outra. O Buda nunca refere-se em nenhum lugar a samatha e vipassana como técnicas. Se fossem, seriam opostas uma à outra. Ele ensinou samatha-vipassana como qualidades de experiência e percepções essenciais para a compreensão do Dharma. Ele disse que algumas pessoas são desenvolvidas em ambas, tranqüilidade e discernimento; algumas são desenvolvidas em tranqüilidade; algumas são desenvolvidas em discernimento e algumas permanecem não-desenvolvidas em ambas. O Buda nunca disse que samatha (a consciência plena da respiração) é uma técnica e que Vipassana ou meditação do discernimento (consciência do corpo ou pensamentos que surgem) é outra técnica. Diferentes tradições budistas separaram uma da outra.

34 – A visão da impermanência é tudo o que importa. O Buda nunca tomou a exploração da impermanência isoladamente do resto do corpo de seus ensinamentos. Quanto à impermanência, incentivou uma perspectiva quíntupla – vemos a originação, o desvanecimento (de eventos, fenômenos, experiências, relacionamentos, etc), a satisfação, o risco e o caminho para fora do mundo da impermanência. A experiência de impermanência (anicca – literalmente “não-permanente”) está disponível como um passo em direção ao desapego.

35 – Partícula subatômica (kalapas). O Buda não ensinou o desenvolvimento do poder de concentração (samadhi) na meditação a fim de experimentar partículas subatômicas. A palavra kalapas não aparece em nenhum lugar dos suttas. O Buda não sustentou tais coisas, como visões materialistas ou não-materialistas.

36 – A Verdade está dentro de você. Nunca declarado pelo Buda. Ele disse que preservamos a verdade quando não fazemos reinvindicações de a possuirmos. A verdade não está dentro, nem dentro de outro, nem no meio. Nós não podemos encontrar uma coisa chamada Verdade interior. A verdade é aquilo que nos desperta (bodhi-sacca), a verdade da sabedoria (sacca-ñana). Não é uma entidade substancial que alguns têm e outros não têm.

37 – Vipassana como uma técnica. Não há nada nos ensinamentos do Buda indicando que Vipassana seja uma técnica. A palavra simplesmente significa “discernimento” [insight]. Um momento de discernimento é um momento de vipassana que pode surgir em qualquer lugar a qualquer momento. A tranqüilidade sustenta o discernimento e o discernimento sustenta a tranqüilidade. Calma e discernimento indicam liberação.

38 – Eu Real. Diversos professores budistas mais graduados inevitavelmente usam em suas conferências e escritos o conceito de Eu Real. Não há nada que valide um Eu Real. Quem ou o que internamente determina o que é esse meu Eu Real e o que não é esse meu Eu Real?

39 – Dieta vegetariana. O Buda estava mais interessado no que saía de nossas bocas, do que naquilo que entrava nelas. Ele não se opôs que os buscadores renunciados recebessem carne para comer, desde que animais não fossem mortos por eles. (MLD 55). Na Índia vegetariana todos os dias andarilhos, iogues, sadhus e ascetas muito, muito raramente tocam carne. Os hindus tratam as vacas na Índia com reverência sagrada por seu modo tranqüilo e seus laticínios. É improvável que os hindus oferecessem à Sangha desabrigada do Buda qualquer coisa com aspecto de carne – isto é, animais, aves ou peixe. O Buda necessitaria revisar radicalmente sua visão hoje a respeito da ingestão de carne. Há crueldade para com os animais em nossos grandes matadouros. Animais são abastecidos com uma dieta prejudicial. Vacas, ovelhas, porcos e aves consomem uma enorme quantidade de comida, quer confinados em fábricas animais, quer ocupando terras valiosas que poderiam fornecer grãos, frutas e vegetais. Milhões de budistas entoam para salvar todos os seres sencientes e dispensar bondade amorosa aos animais, aves e peixes, mas continuam a comê-los, geralmente no dia-a-dia.

40 – Meditações com visualização. O Buda forneceu práticas diretas para vermos e conhecermos por nossas próprias experiências o que vem a ser, ao invés de aplicar sobre a experiência visual figuras, imagens ou arquétipos mentais. Do mesmo modo que com os métodos para metta, o uso de práticas com mantras, visualização, podem, contudo, ser uma forma muito benéfica de meditação.

41 – Nós criamos nossa própria realidade. O Buda nunca fez essa declaração. Você vê essa frase atribuída ao Buda em posters e calendários. É uma idéia bizarra. Pode a mente criar o céu, a terra, a natureza e incontáveis seres sencientes? A crença de que criamos nossa própria realidade é uma projeção primitiva. Não podemos criar nem mesmo nosso próprio sofrimento. A noção de “eu” e “meu” simplesmente surge com condições que têm um suporte. As condições da originação dependente dão forma à realidade. A mente não pode criá-la. O Eu substituiu Deus, o Criador, pelo Eu, o Criador. É outra projeção. Isso vem da má tradução do primeiro verso do Dhammapada. O buda disse que “todos os dharmas são fabricados pela mente”. Isso significa que a mente constrói o Eu pelo que é percebido. A mente concede substância, essência, alma ou egoidade àquilo que é originação dependente.

42 – Atenção sábia. Uma tradução simples. As palavras Páli são yoniso-manasikara. Yoni é o útero da mãe. Manas é mente. Kara é ação. É a ação da mente que emerge da profundeza de nosso ser. Yoni é usada metaforicamente. Manas é mente. Kara é ação. Yoniso-manasikara indica o estabelecimento da mente.

Sobre o autor: Christopher Titmuss, escritor e monge budista na Tailândia e Índia, ensina Meditação do Despertar e do Discernimento no mundo todo. Vive em Totnes, Devon, Inglaterra. Ele é o fundador e diretor do Dharma Facilitators Programme [Programa de Facilitadores do Dharma] e do programa Living Dharma [Dharma Vivo], um programa de aconselhamento online para praticantes do Dharma. Ele organiza retiros, participa de peregrinações (yatras) e conduz assembléias sobre o Dharma. Christopher tem ensinado em retiros anuais em Bodh Gaya, Índia, desde 1975, e conduz uma reunião anual sobre o Dharma em Sarnath desde 1999. Um instrutor do Dharma graduado no Ocidente, é autor de vários livros, como Light on Enlightenment [Luz na Iluminação], An Awakened Life [Uma Vida Desperta] e Transforming Our Terror [Transformando Nosso Terror]. Um batalhador pela paz e outras questões globais, Christopher é um membro do conselho consultivo internacional da Buddhist Peace Fellowship [Comunidade Budista da Paz]. Poeta e escritor, é co-fundador da Gaia House [Casa Gaia], um centro internacional de retiro em Devon, Inglaterra.

Acesse o interessante Website: www.insightmeditation.org [apenas em inglês]

 

Entrevista: Verónica Paz Wells fala de seus contatos, transexualidade e da nova consciência planetária

Entrevista concedida a Paulo Stekel



Sobre Verónica Paz Wells

Carlos Roberto Paz Wells, mais conhecido como Charlie, nasceu em Lima, Peru, em 10 de fevereiro de 1954. Seu pai, o renomado pesquisador Sr. Carlos Paz García, fundou em 1955 a primeira entidade dirigida à investigação do fenômeno OVNI na América Latina, o I.P.R.I. (Instituto Peruano de Relações Interplanetárias).

No final de 1974 e ainda encontrando-se no Perú na condição física de Charlie, funda a organização RAMA, a partir de um contato realizado com entidades de origem extraterrestre. Devido à grande repercussão internacional destas experiências, o jornal "La Gaceta del Norte" de Bilbao, na Espanha, envia a Lima seu correspondente J. J. Benitez, que é convidado para a mais incrível experiência da sua vida: o primeiro contato com uma nave extraterrestre a pouca altitude.
Isso aconteceu no dia 7 de Setembro de 1974, às 21h15, tendo sido o jornalista informado com uma semana de antecedência. Já na Espanha, Benitez relata durante semanas os acontecimentos deste período, e mais tarde escreve, a convite da editora Plaza & Janes de Barcelona, Espanha, o seu primeiro livro chamado "OVNIs: SOS À HUMANIDADE".

Mais adiante e depois de novas experiências no Perú, Benítez escreverá um segundo livro: "100.000 kms em busca dos OVNIs", e outros tantos mais, sob a inspiração de suas vivências no Perú.

Em 1976, Charlie obteve uma bolsa de estudos para o Brasil, onde passou pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Mais tarde concluiu o curso de Publicidade e Propaganda na Escola de Comunicações e Artes da USP, assim como Marketing e Administração de Empresas, dando início a sua carreira profissional em Marketing e Publicidade em empresas multinacionais no Brasil e nos Estados Unidos.

Durante sua vida profissional Charlie obteve grande reconhecimento e destaque, recebendo inúmeros prêmios internacionais como: 3 Leões de Cannes e 3 Cannes No Prize no Festival de Publicidade em Cannes, França. Igualmente 4 Clios no Festival de Publicidade nos Estados Unidos e 3 prêmios de ouro, 2 de prata e 3 de Bronze na FIAP – Festival Ibero-Americano de Publicidade na Espanha. Assím como muitos outros prêmios no Brasil durante os anos de sua carreira.

Charlie também representa a Revista Digital Enigmas Peru e o Instituto Peruano de Relações Interplanetárias de Lima-Peru, assím como a Sociedade Espanhola de Investigação Paranormal de Alicante, Espanha e o Projeto Sunesis a nivel mundial.

Enfrentando grandes dificuldades de identidade de gênero desde a sua infância, Charlie decidiu dar um grande paso na sua vida em 1997 quando assumiu publicamente sua transexualidade, iniciando um doloroso processo de mudança de sexo.

Infelizmente, dada a ignorância do mundo latino em relação a este tipo de situação, teve que pagar o grande preço da incomprensão e da discriminação. Razão pela qual procurou melhores oportunidades em países mais informados sobre esta realidade e com real respeito e proteção em relação aos direitos humanos.

Atualmente, depois de mais de 25 anos no Brasil, Charlie ou atualmente Verónica, mora e trabalha na cidade de Toronto em Canadá desde 2001, onde trabalha com os grupos locais, também do Brasil e dos demais países formados desde faz muitos anos.

Verónica (Charlie) é autora de vários livros publicados no Brasil sobre suas experiências e investigação. Sendo dois em relação ao contato extraterrestre, um sobre o início da vida no Universo e a influência extraterrestre nas antigas civilizações, e outro sobre a interpretação do sentido da vida inteligente sob a física quântica:

"Os Semeadores de Vida" - Editora Icone - São Paulo - Brasil (em tradução para o inglês e espanhol)

"Um Extraterrestre na Galiléia" - Editora Madras - São Paulo - Brasil (em tradução para o inglês)

"Eles estão entre nós" - Editora Madras - São Paulo - Brasil

"Ser, Viver e Existir no Universo" - Editora Madras - São Paulo - Brasil


Depois de décadas de contatos e trocas com extraterrestres a nível mundial, Verônica (Charlie) coordena as atividades do Projeto Sunesis mundialmente e grupos surgidos destas experiências, tendo recorrido vários países como Estados Unidos, Uruguai, Paraguai, Argentina, Colombia, Chile, Guatemala, Costa Rica, México, El Salvador, Espanha, Equador, Canadá, Brasil e o Perú; nos quais tem realizado incontáveis palestras, seminários, entrevistas, programas de rádio e televisão.

Verónica, quando ainda se chamava Carlos, sempre nos inspirou coragem e luta contra o preconceito. Por isso decidimos entrevistá-la, e não apenas por seus contatos com os ETs. A razão principal é o exemplo de vida, de coerência e de desejo de uma expansão da consciência humana.

Horizonte: Você foi uma das integrantes principais da “Missão Rama” desde o início, quando ainda era conhecida como “Carlos Paz Wells”. Os integrantes desta organização, seja no Peru, Brasil, EUA, etc., continuam tendo contatos programados com os ETs?

Verónica: Em relação a tua pergunta, posso dizer que eu fui a pessoa responsável pela fundação da organização Missão Rama, no ano de 1975. Depois da experiência de J.J. Benitez no deserto de Chilca, no Peru, ao lado de outras pessoas, a divulgação das nossas atividades tanto em Lima (no Peru), como na Espanha, após o retorno de J.J. Benitez, criou uma demanda enorme de pessoas curiosas e interessadas por saber mais do nosso trabalho, assim como dos seus objetivos. O grupo original do qual eu formava parte e que não foi solidário quando fomos desafiados a fornecer uma prova real e contundente das nossas experiências e contato, não se sentia seguro nem muito confiante de enfrentar esta multidão de curiosos que se aglomerava nas salas do Instituto (IPRI) do meu pai, clamando por respostas. O grupo teimava em permanecer hermético e contrário à possibilidade de se abrir ao público em geral e inseguro em relação a responder as expectativas dos mesmos. Neste sentido, eu fui contrária a esta posição e totalmente aberta à possibilidade de aproveitar o momento de mostrar a dimensão da nossa experiência, assim como a sua importância. Pela primera vez seres extraterrestres estabeleciam um contato inteligente e prévia-data com pessoas e, neste caso, se incluía pela primeira vez a imprensa. E de fato, no meu ponto de vista, tudo isto respondia aos objetivos extraterrestres e a razão pela qual as nossas experiências se haviam produzido, sendo nós apenas intermediários desta oportunidade. Desta forma, contrariando os desejos do grupo original, iniciei um ciclo de palestras em Lima promovendo o nosso trabalho e a experiência, vindo a convidar as pessoas a fazer parte. Esta foi a origem da Missão Rama e o começo da formação de grupos no Peru.

Até hoje, não posso falar pelo trabalho desenvolvido no momento pelo meu irmão e seus grupos em geral, mas de fato tem havido novas experiências de contato programado com a imprensa. Tal é o caso durante a noite do dia 25 de março de 1989, onde jornalistas de cinco países reunidos na região de Chilca, ao sul de Lima, no Peru, testemunharam a passagem de um objeto voador não-identificado convocado pelo meu irmão e seus grupos. O objeto foi filmado pelas equipes de televisão do canal 23, com participação do jornalista José Gray, e do canal 51, com participação da jornalista Letícia Callava - ambos de Miami, Estados Unidos -, além da participação do jornalista Rolando Vera do canal 2 de Buenos Aires, Argentina. A informação de material obtido do evento foi publicada no Jornal Expresso no dia seguinte, assim como mais tarde programas de televisão foram ao ar relatando os detalhes do evento. Pela nossa parte, o nosso trabalho permitiu realizar mais um encontro programado de contato extraterrestre com a imprensa. O mesmo ocorreu no dia 23 de janeiro de 1992, às 23:30 horas, nas proximidades da cidade de Santiago do Chile, sob orientação e coordenação do Sr. Rodrigo Fuenzalida e seu grupo, contando como convidados a produtora de filmes independentes Terranova, responsável pelo programa "Zona Franca", que participou dessa aventura representando o canal 9 Megavisión, daquela capital. Ali, ante a presença de toda a equipe técnica e do jornalista Alberto Daiber, mais uma vez uma nave extraterrestre fez sua aparição. Tudo isto foi registrado num programa de televisão que foi ao ar nesse país, no mês de julho de 1992, no qual, após entrevistas realizadas conosco, os jornalistas narraram todos os pormenores da incrível experiência de que foram partícipes.

Até o momento, no que se refere ao meu trabalho de contato, as nossas experiências de observações e encontros com estas entidades, continua ativo e em franco desenvolvimento, aguardando apenas o próximo momento de envolver desta vez a mídia norteamericana.

Horizonte: O método utilizado desde o começo foi a psicografia. Ainda é assim? Psicografia é um bom método para conseguir um contato programado? É um tipo de telepatia que se estabelece com os ETs?

Verónica: De fato, o metodo inicial foi a psicografia, um sistema de comunicação mental ou telepática também chamado de "escrita automática", onde, segundo dizem os entendidos, os impulsos mentais são decodificados pelo cérebro e transformados em estímulos musculares, manifestando-se numa forma rudimentar de escrita. Porém, o processo evoluiu ao longo do tempo e, em muitos casos, passou a manifestar-se de forma telepática direta, isto é, sem a necesidade de haver uma escrita. Mas temos sempre promovido o uso da psicografia como forma de manter o registro escrito da informação, o que permite sua fácil análise e acompanhamento. Na prática, existem diversas formas de contato que vão desde a forma de escrita até a presença de sonhos como forma de orientação ao contato.

No nosso caso, a presença de mensagens não confirma ou nega a existência de um contato, apenas refere a presença potencial do mesmo. Somente consideramos um contato quando a mensagem se confirma através de uma experiência de observação física, isto é, no campo.

Horizonte: Como são seus contatos pessoais com os ETs hoje? Qual a função destes contatos num mundo tão conturbado como o atual?

Verónica: Quando cheguei ao Canadá, em 2001, eu era simplesmente ninguém. Toda a literatura que fala sobre mim e minhas experiências está de fato disponível na Internet, mas a maioria em espanhol ou português; dificilmente poderia ser encontrada na época alguma coisa em inglês. E os americanos e canadenses não lêem nada que não seja em inglês. A América do Norte é uma ilha onde somente o que sai daqui é valorizado e reconhecido, e o que vem de fora dificilmente terá fácil acesso e aceitação, a não ser que você possa dar prova objetiva e contundente para vencer o preconceito xenofóbico e forçar as pessoas a reconsiderar. Desta forma, quando iniciei as minhas palestras e atividades no Canadá, meu principal objetivo foi reunir o maior número de testemunhas de minhas experiências de contato no mais curto prazo possível. E, não somente provar a habilidade de marcar encontros com os objetos de origem extraterrestre, mas também provar que a minha relação com estas entidades é bem mais íntima e contínua.

Após alguns anos de trabalho com diversos grupos e pessoas aqui na cidade de Toronto, já consegui algumas dezenas de pessoas que não apenas foram testemunhas de encontros programados com este objetos (tendo alguns deles sido filmados em vídeo), mas também de diversos fenômenos de observação que levaram a contatos físicos com os próprios extraterrestres.

Os extraterrestres não precisam de pessoas como eu para se fazer notar no nosso mundo nem muito menos para garantir a polêmica de sua existência e presença. De fato, o volume atual de observações, segundo s Nações Unidas, reporta que desde 1947 aproximadamente 150 milhões de pessoas testemunharam a presença de OVNIs nos céus do mundo. Sendo, pelo menos, 20.000 destes associados a aterrissagens documentadas. Por outro lado, somente aqui na América do Norte, 70% das pessoas afirma que seu governo esconde a verdade sobre o fenômeno extraterrestre.

Neste sentido, qual seria a função de ter pessoas que mantêm contato com eles? Apenas de criar uma religião ou de confundir? De fato, não. Devemos considerar que o volume de “contatados” e “canalizadores” é enorme atualmente no mundo. Porém, quantos deles têm oferecido a possibilidade de dar uma prova fisica destas relações? Ninguém, que eu saiba, até hoje, permanecendo apenas no âmbito da experiência espiritual, interior ou transcendental.

Vivemos num mundo conturbado e diverso que vai de um extremo a outro. Os contrastes culturais e políticos são impressionantes, assim como os jogos de interesse e dominação.

Os extraterrestres já provaram desde muito tempo serem detentores de uma tecnologia que vai além da nossa imaginação, assim como serem capazes dos mais incríveis fenômenos físicos. Porém, ainda os “cientistas” debatem as sua intenções e objetivos, apontando de forma quase geral serem os mesmos obscuros e um perigo para a humanidade.

Esta atitude espelha não apenas a nossa ignorância, mas fundamentalmente a nossa ingenuidade, além de demonstrar o nosso medo do desconhecido e a nossa vulnerabilidade para a manipulação.

A melhor prova das boas intenções extraterrestres é o fato de continuar vivos e da possibilidade de saber da sua existência. Seres capazes do que eles são, poderiam perfeitamente passar desapercebidos e até ignorados. E isto é mais que patente na habilidade que demonstram de eliminar a memória consciente e da possibilidade de abduzir pessoas e veículos de qualquer porte.

Por que fazer a sua presença evidente? Ou por que fazer a demonstração óbvia do seu poder e tecnologia? Por que deixar evidências e testemunhas? Apenas para fazer ostentação de poder?

Os extraterrestres estão testando o grau de maturidade, coerência e sentido comum da humanidade. Estão fazendo uma campanha de marketing disseminando informação e estimulando a população à procura de respostas e atitudes. Estão buscando medir o nosso grau de percepção e capacidade de associação racional e inteligente. Estão buscando medir em que momento a humanidade se definirá como um potencial aliado ou um radical e cruel inimigo.

Eles sabem que existem aqui muitos interesses em jogo, muitos deles a serviço de quem controla o poder, e que a sua formal presença representa uma afronta e uma simples destruição do controle exercido. Razão pela qual, não apenas evitam que a população tenha acesso a verdade, mas distorcem os fatos para semear a desinformação e perpetuar o controle sobre os ignorantes e amedrontados.

Os extraterrestres sabem que estão rendidos em relação a qualquer atitude aberta, pois a mesma endoçará o medo e o preconceito existente em relação a eles, reforçando a idéia de invasores e entidades negativas que os controladores do poder buscam perpetuar e reforçar no inconsciente dos ignorantes. Sabem que ter e manter uma relação inteligente com a raça humana resulta uma tarefa difícil, senão quase impossível, pois as pessoas estão amarradas a preconceitos, cultura, educação, família, trabalho, responsabilidades e interesses que os manipulam e distanciam da verdade e de um recomeço. O preço de acessar uma realidade maior pode resultar duro e difícil, tanto que o custo da mudança e de ter que admitir quão errados estamos como civilização e cultura pode levar a um conjunto de decisões que muitos, e de fatos muitos, não têm a intenção de assumir.

“É mais fácil ruim conhecido que bom por conhecer” – esta frase traduz claramente a nossa mentalidade. O custo de tentar algo novo e diferente pode provocar o isolamento, a incompreensão, a violência pela ignorância e o desrespeito. Quantos estariam dispostos a enfrentar semelhante oportunidade sabendo que poderão perder seu “status quo” tão duramente construído e obtido? Poucos, bem poucos.

Os extraterrestres sabem que a humanidade pode se transformar num poderoso aliado, mas também num terrível inimigo no momento de desenvolver tecnologias que possam alterar as relações de espaco-tempo. Uma civilização movida por interesses econômicos, ideológicos e políticos onde as nossas crenças religiosas transformam o valor da vida humana em nada, e onde sacrificar milhões de pessoas apenas por um ideal ou uma crença, ou o desejo de poder e controle, amedronta estas entidades, pois nos transforma em predadores de nós mesmos.

Mas eles sabem que neste pequeno planeta azul existem pessoas cansadas de sofrer, indignadas de ver a miséria se espalhar pelo mundo, enojadas pela impunidade e pelo desrespeito à vida em todos os seus sentidos e extenções. Sabem que há seres à procura de dias melhores e que desejam o melhor para o nosso futuro. Mas seu problema tem sido chegar ao mundo como um todo, não apenas para alertar da nossa contínua insanidade e irresponsabilidade, mas para mostrar que o Universo lá fora quer abraçar a humanidade como iguais e permitir partilhar dos benefícios desta relação. Mas para isso, todo um processo de transição se faz necessário, se faz iminente. A nossa relação não pode destruir o mundo que conhecemos, mas transformá-lo para melhor e, para isso, toda uma adaptação se faz necessária. As nossas diferenças culturais e sociais são homéricas e têm que ser equalizadas à luz de uma realidade maior.

Por isso a minha experiência de contato aconteceu. Somos um experimento com o objetivo de introduzir os extraterrestres como potenciais aliados e como a oportunidade da maior revolução socio-cultural de todos os tempos. Somos os seus advogados e interlocutores, assim como seus anfitriões com a capacidade de apresentá-los oficialmente para uma humanidade receptiva a esta incrível mudança.

Horizonte: As mudanças que ocorreram desde a Missão Rama [1974] até o Projeto Sunesis fazem parte de um plano maior dos guias ETs ou foram apenas devidas à incompreensão humana mesmo? Se trata de uma experiência ET?

Verónica: Rama surgiu inicialmente como um experimento extraterrestre para medir os resultados que uma relação aberta com seres humanos poderia provocar. E, isto não apenas nos diretamente envolvidos mas também no ambiente e pessoas relacionadas como um todo.

Ao longo dos anos e através das mais incríveis experiências os extraterrestres acompanharam o impacto de cada momento e vivência, buscando estudar de que forma crenças, educação, valores de referência, família, trabalho e responsabilidades viriam a afetar decisões a assumir, assim como o correto entendimento da relação e suas derivações. Por outro lado, ajudariam os extraterrestres a saber identificar até que ponto eles poderiam delegar maiores responsabilidades e saber se efetivamente elas seriam realizadas e levadas a bom fim. E o mais importante, a medir o grau de confiabilidade do conteúdo transmitido, assim como a idoneidade e integridade dos participantes ao enfrentar conflitos de interesse e formação.
O grupo seria o piloto do que esperar da humanidade numa escala menor e sob perfeito controle.

Ao longo dos anos o processo passou por diferentes etapas e derivações, assim como desde o seu início. Guerras de ego, liderança, poder, controle, dominação, manipulação, fanatismo, messianismo e discórdias passaram a afetar o processo como um todo, vindo a se transformar em fatos de alienação para muitos, tábua de salvação para outros e manter a integridade do que foi desde o seu início passou a ser para os extraterrestres uma derivação dos objetivos iniciais.

Sunesis surgiu como uma alternativa em função da corrupção sofrida pelo processo como um todo. E, desta forma busca preservar os objetivos iniciais desta relação.

Horizonte: O que os guias lhe falam sobre a situação climática do planeta hoje? Realmente o quadro é tão sério como pintado pelo IPCC em seus relatórios?

Verónica: Em 1993, publiquei através da Editora Ícone meu primeiro livro, chamado “Os Semeadores de Vida”, no qual fazia ampla referência ao meu histórico sobre a experiência do contato extraterrestre e até o resultado de todos estes anos de intercâmbio com os nossos visitantes siderais.

Desde 1993 muita coisa mudou no mundo e muitas coisas ocorreram, mas o mais interessante foi que o relatado no livro, tanto em relação às descobertas da sonda Galileu em Júpiter, assim como os últimos acontecimentos ocorridos no dia 11 de Setembro de 2001 na cidade de Nova Iorque, aconteceram de forma similar a conforme estava escrito.

Em relação a Ganimedes, a maior lua de Júpiter, encontramos na pag. 149 as descrições sobre as características geológicas do satélite, assim como condições telúricas da existência de energia geotérmica sob a sua superfície, que foram confirmadas e enfatizadas pelos diversos sensores da sonda Galileu, assim como a presença de atividade geotermal semelhante no subsolo de outras de suas luas. E, o que dizer em relação a Marte depois das descobertas da sondas Spirit e Opportunity neste ano? Falta pouco para constatar oficialmente a existência de vida no seu passado, e pelo menos água já esta quase confirmado.

Por outro lado, na pag. 361 do mesmo livro, faço plena referência à ameaça que os países árabes representavam para a estrutura americana e para a economia deste país, mencionando inclusive até por volta de que ano isto deveria ocorrer, sendo que, como referido, no dia 11 de Setembro de 2001, os terroristas muçulmanos da Al-Qaeda perpetraram um terrível atentado no maior centro econômico dos EUA. Além do mais, todas as referências feitas nesse capítulo sobre a situação econômica da humanidade após o terceiro milênio estão em franca ocorrência.

Infelizmente, tudo isto prova que, mesmo anos passados, não mudamos o nosso provável futuro e muito menos alteramos as condições para termos uma vida mais tranqüila e promissora. Bem ao contrário, enfrentamos hoje um cenário futurista de profundas incertezas e terríveis possibilidades.

A situação mundial não é apenas séria mas terrivelmente grave e os seus resultados se farão sentir nos próximos anos de uma forma devastadora. O problema não são terremotos, furacões, tsunamis, vulcões, meio ambiente mudando não apenas a temperatura mundial e as correntes dos oceanos, mas tudo isto em conjunto vai afetar a cadeia produtiva e alimentar humana nos próximos anos. Alimento vai faltar e a produção vai se reduzir. As conseqüências socias de tudo isto trarão resultados devastadores e o descontrole da estabilidade mundial. Enfrentaremos momentos muito delicados se não pusermos a humanidade em contato direto com eles e se não fizermos um trabalho conjunto para mudar este cenário.

Através do meu trabalho tenho procurado transferir não apenas mais conclusões e reflexões obtidas ao longo de uma curta vida sobre todos esses assuntos já referidos, mas o resultado de conversas e trocas com civilizações de outros mundos sobre a vida e o propósito dela no Universo.

Horizonte: Por que o preconceito com um transexual contatado é tão grande? Isso deixa as pessoas inseguras? O que impediria um transexual de estar apto a um contato se o preparo depende de ética e não juízo de valor ou moral?

Verónica: Tenho recebido severas críticas em relação a ter assumido a minha transexualidade e muitos têm utilizado esta situação para denegrir a minha credibilidade. Acho que a melhor prova de honestidade que poderia ter oferecido ao mundo foi exatamente ser coerente comigo mesmo e com todos aqueles que confiaram em mim.

Assumir a mudança não é nenhuma brincadeira, pois representa uma decisão difícil e sofrida, e quando decidi enfrentá-la sabia perfeitamente o custo que representaria na minha vida pessoal e profissional. Poderia ter perfeitamente continuado vivendo uma mentira para agradar o meu público, evitar perder meu emprego, continuar com o meu sucesso e não dar trela aos leões famintos de mexericos para me atacar. Porém, preferi ser publicamente honesto e me revelar abertamente para demonstrar que minha sinceridade e honestidade não tem limites, mesmo que isto signifique sacrificar a minha vida e todo o sucesso pessoal e profissional que me tomou anos para conquistar, confiando em que a coerência e uma visão mais profunda e humana entre as pessoas que se dizem espiritualizadas e holísticas lhes permitirá entender a minha atitude. Mas, acaba sendo mais fácil para aqueles que desejam me criticar, apenas tomar a situação às avessas. Mas, para cada um cabe aqui uma reflexão profunda e sincera. E, com certeza, os extraterrestres sempre souberam de mim e de minha vida pessoal, o que, a seu critério, jamais impediu estar perto de mim e continuar a nossa relação. Com certeza estas civilizações estão muito além das típicas atitudes homofóbicas, preconceituosas, marginalizantes e discriminatórias.

Uma pessoa transexual não tem nada diferente de um ser humano comum, apenas seu cérebro possui o sexo neurológico distinto do sexo físico ou genético. Diversas explicações científicas e médicas justificam a transexualidade e pode ser considerada como apenas mais uma deficiência. Razão pela qual a correção física é permita por lei, já que o que se faz é adequar o gênero físico ao neurológico.

Por outro lado, o segmento dito científico da investigação extraterrestre não passa na sua maioria de um bando de aproveitadores que se utilizam do fenômeno para aproveitar-se de boa vontade das pessoas; as manipulam de forma a explorá-las economicamente e se alguém compete com o seu poder ou pode afetar a sua hegemonia buscam destruí-la, nem que para isso manipulem a informação a ponto de distorcê-la a seu favor e benefício. Buscam explorar o medo, o mistério e a paranóia das pessoas para poder conduzí-las do jeito que desejam. Não estão à procura da verdade dos fatos, mas de atuar como uma nova Inquisição que fiscaliza sem controle e faz prevalecer os seus interesses.

A minha siuação, como mencionei, resultou em prato cheio para muitos deles que aproveitaram o preconceito me chamando de “travesti” e utilizando termos claramente pejorativos até em alguns dos e-mails que recebi deles e que ainda mantenho para o momento certo. Neste sentido, buscaram explorar a minha situação em seu favor para me tirar de circulação vindo, inclusive, a mentir publicamente em palestras sobre a nossa experiência e a situação do J.J. Benitez no contexto do fenômeno e como testemunha, esquecendo que ele não foi o único que participou do evento. Todo este material está sendo reunido para ser utilizado mais adiante, mostrando à opinião púbica a idoneidade de certas pessoas e a forma com que manipulam e controlam as suas opiniões.

Horizonte: Qual é a visão da sexualidade humana compartilhada pelos ETs com você em suas décadas de contatos? Eles sempre apoiaram sua sexualidade e identidade de gênero?

Verónica: Seria infantil imaginar que os extraterrestres nunca souberam sobre a minha sexualidade e que para eles foi uma surpresa. Um dos grandes erros da nossa humanidade é imaginar os extraterrestres sob a mira dos preconceitos e mediocridades humanas. As pessoas normalmente os vêem como uma extensão nossa sofrendo das mesmas limitações, das mesmas fraquezas e necessidades, e curtindo de certa forma das mesmas paranóias.

Mas estão não apenas terrivelmente enganados, como incrivelmente longe da sua realidade. São criaturas que alteram as condições do espaco-tempo para viajar pelo espaço, cuja tecnologia os pode levar para qualquer lugar e onde a sua civilização já superou a miséria e a pobreza, assim como a mediocridade do desejo de poder e controle. As megalomanias dos egos são história do passado e seu único objetivo é preservar, manter e desenvolver a sua sociedade cada vez mais. É o ponto a se preservar e onde nós entramos como possível ameaça. Nós podemos ameaçar a estabilidade destas civilizações e é por isso que estão aqui.

Moralidade, bom ou mau, certo ou errado, são apenas conceitos relativos a cada cultura e região. Um beijo na rua no Rio de Janeiro não chama mais a atenção de ninguém, pois mais do que isso é feito na rua. Já, num país islâmico só o fato de uma mulher andar na rua sozinha a levaria para a cadeia, o que dizer de um beijo.

Pois é, matar milhares de pessoas num prédio em Manhatann é levar este “mártir” direto para o paraíso de acordo com as suas crenças; assim como detonar um ônibus repleto de inocentes judeus, será para os olhos dos seus partidários um herói, mas para quem não comunga das mesmas crenças não passará de um cruel e sangüinário assassino. Este é o nosso mundo, onde quem julga o faz sob os olhos de sua cultura, formação e crenças. Nós, uma sociedade que agoniza lentamente como resposta a sua irresponsabilidade, onde a vida das pessoas, o respeito a cada ser humano não é nada e pode ser dispensado sem exitar se de alguma forma serve aos interesses de quem busca se aproveitar é o melhor exemplo da realidade que nos cerca.

O futuro está batendo na porta e não será nada paciente com a humanidade. Ou a gente muda de atitude ou o mundo nos fará desaparecer. A opção é nossa e quem não tem olhos para ver a evidência dos fatos apenas passando o tempo julgando as pessoas, com certeza é a primeira a pagar as conseqüências de sua atitude.

Pensar que a sexualidade extraterrestre tem que ser a mesma dos terrestres é, além de infantil, incrivelmente absurda. Somente aqui em nosso planeta temos seres que mudam a sua sexualidade de acordo as necessidades de sobrevivência e criaturas que são hermafroditas por natureza. Por que os extraterrestres teriam que seguir apenas o modelo humano? Por que é moralmente ou religiosamente correto? Isto apenas reforça quão longe estamos de uma relação aberta com as pluralidades do Universo e quão míopes estamos em relação ao que realmente representa ser humano.

Horizonte: O fato de você ter sido apresentada pela mídia internacional como o primeiro contatado transexual do mundo (que se sabe, claro) causou muitos transtornos em sua vida pessoal?

Verónica: Na verdade apenas tornou público e aberto algo que já estava transitando entre as pessoas. Apenas reafirmou algo que já estava no âmbito da fofoca e nos comentários nos círculos ufológicos e espiritualistas. Minha vida pessoal já estava enfrentado as conseqüências da minha decisão desde o momento em que havia assumido minha situação.

Horizonte: Quem tem lhe apoiado neste momento, principalmente depois de sua mudança de gênero? Que impactos isso teve na sua família, amigos, membros dos grupos de contato?

Verónica: Muitas pessoas de fato se afastaram em conseqüncia do preconceito reafirmando a sua ignorância em relação ao assunto e demonstrando não estar em sintonia com o que um processo como este representa.

Infelizmente, a influência religiosa na formação moral dos indivíduos é fundamentalmente católica e, neste sentido, conservadora. Fosse do tipo oriental a resposta seria muito diferente, pois dentro do seu conceito, uma pessoa como eu já se encontraria num outro nível de desenvolvimento e não seria um excluído ou um pária.

Por outro lado, uma vez baixada a poeira muitas pessoas retornaram e se aproximaram, vindo a superar o impacto. Minha família, por outro lado, não conseguiu assimilar bem o assunto, principalmente meu irmão, já que como fundadora do processo e co-responsável pelo que derivou, foi cobrado para dar a sua opinião sobre a minha situação. E, dentro do processo que ele gerou, os dogmas e preconceitos religiosos são e continuam presentes e fortes. Infelizmente, tem se visto numa situação difícil.

Mas como mencionei, muitas pessoas continuam trabalhando comigo e aqui no Canadá o preconceito é praticamente nulo. Existe de fato como em qualquer país do mundo, mas não representa um fato de grande influência.

O meu trânsito nas minhas palestras e atividades continua bem ativo, tendo dado palestras na Universidade de Toronto e feito entrevista no mais imortante jornal de Toronto algum tempo atrás.

Mas, em nível mundial e em geral, de fato o preconceito com minha pessoa e o acesso à minha experiência estão claramente distantes e senão totalmente terminados.

Horizonte: Você hoje é um transexual que vive com uma mulher. Isso causa ainda mais estranheza nas pessoas, acostumadas apenas a situações ditas “normais” sobre as quais elas pensam ter algum controle?

Verónica: Como transexual de fato levo uma vida 100% feminina, e trabalho numa empresa já por 4 anos, tendo meus documentos sob a mesma situação. A minha aparência não confita com a minha situação e na verdade raramente cria algum tipo de conflito.
Apenas acredito que ainda a minha voz é um pequeno contraste, mas não realmente a ponto de comprometer a minha imagem social.

Horizonte: O que você acha da pesquisa de Kevin Randle, publicada na revista The Anomalist (EUA) – nº 09, 2001 – segundo a qual, de 316 contatados que foram abduzidos, um percentual alto de 23% se declarou bissexual e 29% se declarou homossexual? Se isso for verdade, haveria alguma relação entre sexualidade e predisposição a abduções?

Verónica: Acho realmente interessante, pois estas pessoas são muito mais abertas a novas idéias e menos propensas a preconceitos ou prejuízos, o que para os extraterrestres é a garantia de uma interação com maiores possibilidades de um bom resultado. De fato, as pessoas, por uma menor influência dos padrões sociais e culturais, estarão mais livres para assimilar facilmente novos padrões de comportamento e mais receptivas a situações fora dos esquemas convencionais.

Horizonte: O Projeto Sunesis está conectado, diretamente ou por laços de afinidade e amizade a outros grupos que buscam contatos programados com ETs?

Verónica: De fato, a gente mantém uma relação aberta e descomprometida com qualquer organização ou grupo de experiência extraterrestre. Sempre e quando a atitude seja recíproca. O nosso interesse é trocar experiências de fato, e estamos abertos a toda possibilidade.

Horizonte: Qual é o sentido mais profundo de se buscar contatos programados com os guias ETs? Eles são nossos mestres cósmicos modernos? Ou sempre foram?

Verónica: O contato fisico com eles existe no nosso trabalho como forma de confirmar que a relação é real, que o acordo de trabalho conjunto continua em pé e que a nossa mútua aproximação está em relação a como estamos amadurecendo e abrindo a nossa mente a novas possibildades de viver a vida e entender o seu sentido maior.

Os extraterrestres não estão aqui para tomar o nosso lugar e ser os nossos professores ou mestres. Estão aqui como uma civilização que chegou onde chegou trilhando um processo evolutivo similar e que pode servir de referência para nós e nos ajudar a não cometer os mesmo erros. Estão aqui para nos mostrar que é possível construir uma civilização coerente, digna, que respeite seu ambiente e os seus semelhantes e capaz de não apenas progredir, mas construir e preservar melhores dias para todos.

A nossa experiência física não é para ouvir deles o que a gente já sabe, mas para confirmar que o nosso entendimento do que é necessário para superar as nossas limitações e ampliar o nosso estado de consciência estão em contínuo progresso. A nossa experiência de contato é para saber abertamente se estamos conquistando a sua confianca e respeito e se através do nosso rabalho estamos atingindo o nível necessário para treinar outras pessoas para estabelecer uma nova relação.

Lembremos que o objetivo de tudo isto é introduzí-los à nossa humanidade de uma maneira formal. Neste sentido, convidar a imprensa é mostrar que estamos num processo de aproximação com uma civilização mais avançada e possibilidade de que o contato final ocorrer apenas depende de um acordo mundial para iniciar a nossa transição para uma real e profunda troca com alguém mais experiente, e que nos pode poupar muito tempo e muito sofrimento para chegar a uma melhor condição de existência.

O nosso objetivo maior como humanos nesta relação, portanto, é concretizar as bases de uma nova cultura baseada na sua experiencia, totalmente universalista no sentido total da palavra, orientada à melhor forma de compreender a vida, tanto individual como em comunidade, promovendo sua expansão de forma gradativa e visando resgatar o prazer por estarmos, enfim, vivos.

Para sobreviver e construir o amanhã devemos nos unir hoje. Uma união tão forte, tão humana quanto o desejo de sermos felizes. Uma união realizada independentemente de bandeiras, rótulos ou institucionalismos, onde o amor à vida e a um futuro melhor seja nosso único denominador. Para você, que teve a paciência de chegar até aqui, desejamos um amanhã promissor, pois existem pessoas, agora, semeando e lavrando uma esperança: que, algum dia, os que estiverem vivos para colher poderão ser, afinal, os novos semeadores de vida. Uma vida de amor, amizade, respeito e confiança construída hoje, com o seu e o nosso esforço, para todos nós e, principalmente, para aqueles que virão depois de nós.

Horizonte: Agradecemos muito a sua gentileza em conceder-nos esta entrevista, Veronica. Gostaríamos que deixasse algumas palavras sobre o processo de expansão da consciência, conforme ensinaram a você os guias ETs.

Verónica: Sempre procurei e sempre buscarei lutar pelo mundo que sei que somos capazes de construir. Pois existem seres humanos bons, honestos, idealistas e sonhadores. Criaturas cujo coração acredita no amor, na amizade, na verdade e na felicidade. Entidades maravilhosas cujo espírito pertence às estrelas e cuja mente está posta para aprender.

São eles meu alvo e serão sempre meu objetivo. Errando e fazendo o melhor possível buscarei ser para eles um ponto de convergência, uma luz para seus ideiais e um porto para abrigar seus sonhos. Estou para dar forma a suas idéias e dar força a suas vontades. Jamais para liderá-las, mas apenas para ser mais um na construção de nosso futuro.

Ao longo de minha vida, os extraterrestres me mostraram o que conseguiram realizar pelo seu esforço. Uma amostra do que nós poderemos algum dia conquistar para nós mesmos. E eu acredito nesse futuro e nessa possibilidade.

Não busco que acreditem em mim nem nas minhas experiências, nos meus contatos ou conversas com extraterrestres. Apenas que acreditem que amo o mundo, o ser humano e o universo do qual somos parte. Quero que acreditem nos meus sonhos de uma vida melhor e que existem pessoas capazes de construí-la, pois amam a vida como eu.

Busco desesperadamente encontrar sonhadores que, como eu, vêem através de seus corações o despertar de um universo que nos estende seus braços e que quer se aproximar. Procuro obsessivamente amantes da vida, que como eu, querem desfrutar desse amor cósmico e profundo. Aquele capaz de superar toda e qualquer dificuldade ou barreira. Aquele que une mais as pessoas a cada momento e as faz serem fortes, resistentes e seguras. Aquele que nos preenche e toma por completo pois torna a amizade algo maravilhoso e poderoso.

Nosso futuro precisa de nós. O mundo precisa de nós. O amor e a vida, precisam de nós. Não interessa quem somos, que somos, qual o nosso sexo ou qual a nossa história pessoal. O que importa é o que somos capazes de realizar e a vontade de realizar, pois a vida será sempre repleta de erros, dificuldades e incompreensão. Mas a nova vida, o mundo novo, será repleto de vida nova, de amor, de tolerância, respeito, compreensão e amparo. De igual forma, como o universo nos acolheu um dia e nos colocou neste pequeno planeta, devemos nós, cada um de nós, acolher os nossos semelhantes. Buscar nos amar, nos respeitar e construir nossa mente para lapidar o nosso coração e dar forma a nossas vidas.

Temos a missão de ser artífices da paz e da felicidade. Temos a obrigação de viver em paz e dignamente. Temos a responsabilidade de nos preparar para descobrir as técnicas, as formas, os passos, os conhecimentos que nos permitam realizar essa missão.

Dois milênios atrás veio uma criatura ao nosso mundo, perdoando, amando, ensinando, levando esperança e compreensão. Amou desmiolados, acudiu doentes, acolheu prostitutas e recriminados pelo preconceito, levou esperança aos pobres e conhecimento a quem o ouviu. Que seu exemplo nos guie no caminho da vida, que suas obras iluminem nossas ações e que a vinda desta entidades, nos encontre dignos de sermos enfim, amados e reconhecidos como verdadeiramente humanos.

Editor: O website do Projeto Sunesis, para os interessados em conhecer melhor o trabalho desenvolvido por Verónica Paz Wells é: www.sunesis.ca [com versão em Português]

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