domingo, 9 de setembro de 2007
Lobsang Rampa - a história
[Tuesday Lobsang Rampa, na verdade Cyril Henry Hoskins]
Victor de Figueiredo - FRC
(Publicado originalmente no “Jornal do Incrível” n.º 386, de 7/4/87)
Um dos aspectos éticos que devem ser observados pelos adeptos de Misticismo – na busca humilde e sincera do seu encontro directo com Deus, que concebe imanente em si mesmo e em toda a Criação – é “NÃO JULGAR”.
De um lado, qualquer julgamento, crítica ou juízo do semelhante sempre será parcial, pois é impossível a alguém que tenha de julgar o próximo, mesmo com espírito da mais rigorosa isenção, poder dispor de todas as informações e coordenadas intrínsecas às razões objectivas e subjectivas das acções e reacções de outro ser humano.
Por outro lado, qualquer julgamento impõe, implicitamente, a impossibilidade de compreendermos o comportamento dos outros em sua própria realidade, condicionados que estamos a apreciá-los em nossa visão pessoal, subliminar, com os nossos olhos e a nossa consciência; isto é, julgando-os, não como eles são e se comportam mas, como nós somos e nos comportaríamos nas mesmas condições. Neste sentido, toda a crítica e avaliação do outro é uma extensão de nós próprios, pelo que a justiça humana, autêntica, é impossível.
Por isso, hesitámos em responder ao leitor Inácio S. Moura, de Vila Nova de Gaia, que nos apresentou a seguinte questão:
“É T. LOBSANG RAMPA uma pessoa de crédito ou não passa de um embusteiro? Sempre gostei dos seus livros (foi através deles que entrei no mundo da Parapsicologia), mas desde há uns tempos que os deixei de ler, depois de algumas afirmações negativas a seu respeito”.
Em resumo, o que o leitor nos solicita é um juízo que, em nossa interpretação, parece conter dois aspectos básicos:
a) – autenticidade de T. Lobsang Rampa como sacerdote Lama do Budismo Tibetano; e
b) – autenticidade do conteúdo místico-religioso da sua obra, baseada nas práticas e doutrinas do Budismo do Tibete.
Antes de nos pronunciarmos sobre estes aspectos, parece-nos necessário que o leitor compreenda o seguinte:
É de acordo com o estágio evolutivo individual, e seu consequente senso de valores, que as pessoas buscam e encontram (no processo de realização das suas motivações interiores), os livros, os amigos, as religiões, as ideologias, o conhecimento, entre as mil opções que fazem em sua vida. Tudo é, afinal, resultado da busca subconsciente das coisas que têm ressonância e empatia com aquilo que sentem e que interiormente são. Citando de cor ERNEST HEMINGWAY, dizia ele num dos seus livros, mais ou menos o seguinte: “O que acontece às pessoas não é o que elas desejam ou merecem, é o que se assemelha com elas”.
No grupo daqueles que buscam o insólito, o transcendente, o Esotérico, por íntimo imperativo da sua consciência, a grande maioria parte sozinha, desaconselhada, indecisa e inocentemente ignorante nessa aventura. (Aqueles que acreditam em reencarnação dizem que sempre temos de continuar o aprendizado anterior, de voltar à mesma estrada, já em parte percorrida). Assim, quase todos começam da mesma maneira, geralmente através dos livros, e sua natural falta de preparação e de orientação leva-os também à procura de literatura do género, de “linguagem” mais fácil e sensacional.
É quando encontram os livros de Lobsang Rampa. É o chamado “mal necessário”, considerando a escuridão do túnel do conhecimento espiritualista e metafísico, área que o Ocidente mantém mal iluminada e de trânsito difícil, sobretudo em alguns países mais atrasados da Europa.
“Quem não passou por Lobsang Rampa que atire a primeira pedra...”, dizia um assistente numa palestra nossa, e com óbvia razão.
No início da nossa “caminhada” temos, com inocência e heroicidade, de bater em muitas portas erradas, subir penosamente as vertentes da montanha da Luz, sem certeza alguma de acharmos, algum dia, o "pico" confortável ou a porta “certa” para nós, já que não existe qualquer “Céu” ou “Paraíso” seguros e adequados para todos. As raras setas indicativas do “caminho” são pouco visíveis, e qualquer atalho sempre parece – em nossa pressa de chegar à “Verdade” – a senda óptima. O problema é que sempre obtemos – na inflexível Lei de Causa e Efeito, motor da evolução – não o que desejamos, mas aquilo que, no momento, se parece com o que somos. É só na medida do esforço e da persistência que as “lanternas” começam a surgir e a aclarar o caminho.
Um pouco de humor, se me permite: um amigo nosso, brasileiro, que praticava o Budismo Zen e dava sempre um “show” de humor em suas palestras, foi inquirido uma vez por uma senhora (que lhe disse ser leitora de Rampa e que ele, Rampa, lhe ensinara tudo e a preenchia totalmente), perguntou-lhe se ele via algum inconveniente nisso. E ele, então, respondeu-lhe:
“Bem, mais vale ter mau hálito do que não ter hálito nenhum... Ainda pode tratar-se!”
Se o leitor duvida que Lobsang Rampa seja um Mestre autêntico é porque já o ultrapassou, já saiu dessa trilha, desse degrau necessário no rumo do conhecimento, para se encaminhar na direcção de uma Religião, de uma Organização ou Ordem Mística, ou mesmo de outro autor ou autores que estejam de acordo com a sua actual e última necessidade de conhecimento.
Não queremos frustrar o nosso leitor sem lhe darmos uma resposta menos pessoal e mais objectiva. Todas as informações que colhemos ao longo do nosso aprendizado sobre o autor referido, mormente no Brasil, e até em Instituições Budistas que frequentámos como visitantes, apontaram-nos sempre e conclusivamente para as seguintes conclusões:
a)– De Lobsang Rampa nunca ter sido como indivíduo físico e psíquico, na encarnação terrena em que produziu seus livros, um Monge Lama Tibetano;
b)– De ser incrível e mesmo ridícula a ideia de que Cyril Henry Hoskins, (também conhecido como Dr. Kuan, ou Carl Kuansuo), tenha “incorporado”, como adulto, a Personalidade-Alma de um Sacerdote Lama Tibetano, chamado T. Lobsang Rampa, nome com o qual Cyril iniciou a sua obra;
c)– De Cyril ter sido, pura e simplesmente, filho de um modesto canalizador, nascido e criado numa pequena cidade do interior de Inglaterra, o qual, tendo pesquisado sobre o Budismo Tibetano, decidiu escrever sobre o assunto. Desempregado e pressionado por dificuldades financeiras, apresentou a um editor, então, o livro “A Terceira Visão” (The Third Eye), que se tornou um “best-seller”.
Para nós, que acreditamos firmemente na reencarnação, seria aceitável que, no seu nascimento, Cyril tivesse recebido a Personalidade-Alma de um sacerdote Lama que tivesse sido na existência anterior, de cuja consciência e sabedoria viria a beneficiar para a obra que mais tarde faria. Infelizmente, não foi isso que ocorreu nem o que Lobsang Rampa disse. Sustentou firmemente a justificativa de que a alma de um Lama se apossara do seu corpo físico, quando adulto, tomando a sua individualidade, fenómeno que intitulou, obviamente, de “Transmigração”.
Seria injusto omitir ou negar o mérito que coube a Lobsang Rampa, como autor de vários livros (fosse ele quem fosse), os quais, à sua revelia, contribuíram, na época, de modo acessível e popular, para a divulgação de vários assuntos esotéricos e metafísicos e despertaram o interesse de milhões de pessoas para o foro espiritualista.
Mais seriamente, é o mesmo mérito que creditamos ao livro “O Despertar dos Mágicos”, de Louis Pawells e Jacques Bergier, e às obras de Dale Carnegie, Joseph Murphy, Vernon Howard, Rhine e, mais recentemente, a Og Mandino, além de outros autores que foram pioneiros na implantação do Mentalismo Positivo, no Domínio da Mente sobre a Matéria, na Parapsicologia, etc.
Visando uma indispensável exegese mística e esotérica, não seríamos honestos com os leitores se omitíssemos a nossa opinião sobre o perigo – para as pessoas sem cultura mística e sem experiência selectiva – de certas práticas tratadas por Rampa nos seus livros. Mormente da incorrecta e superficial apresentação de alguns ensinamentos nas suas obras, emergentes de um nítido objectivo de êxito comercial e sensacionalismo, os quais visaram insensatamente satisfazer um público consumista ainda não exigente e pouco esclarecido.
Das correntes importantes do Budismo – o Maayana, o Hinayana e o Zen – o Vajrayana (Lamaísmo, ou Budismo Tibetano) é o mais completo e profundo sistema Budista. Que nos conste, nem os Dalai Lamas, seus chefes espirituais, nem mesmo os Lamas, escreveram livros, mesmo enquanto seu sistema de governo religioso não foi perturbado e eles puderam viver tranquilamente em seus mosteiros no Tibete.
Conhecemos apenas uma obra oriunda do Tibete, que remonta a um antigo manuscrito em poder dos monges desde o ano de 732 e que, depois de traduzido para o Chinês com permissão especial do Dalai Lama da época, foi posteriormente traduzido para Inglês, em 1749, e publicado na Inglaterra em 1760. Esta obra parece ter sido escrita pelo Faraó Akhnaton (Amenhotep IV) do Egipto, entre 1360 e 1350 antes de Cristo. Seu título é: “A Vós Confio...”. É uma verdadeira Bíblia de ensinamentos místicos. Uma obra rara e iluminada.
Julgo interessante, agora que o Budismo está muito divulgado no Ocidente, esclarecer um pouco mais sobre ele. Actualmente é considerado dividido entre duas grandes correntes, que decorreram do cisma ocorrido cem anos depois da morte de Buda, em 380 Ac: a “Theravada”, denominada “Escola dos Anciãos” ou “Veículo Pequeno” (Hinayana), e o Maayana, o veículo da solidariedade ou “Grande Veículo”.
Basicamente, a Theravada, (ou Hinayana), considera-se mais exegético e original, como sendo um caminho de salvação individual e auto-redenção, cabendo a cada discípulo, leigo ou monge, responsabilizar-se pelo seu desenvolvimento religioso e ético. Todavia, apenas os monges poderão chegar à sua salvação.
Todavia, a corrente Maayana concebe e acredita que todos os crentes poderão alcançar a redenção, monges ou leigos, pois considera o Buda como o verdadeiro salvador, enquanto no Hinayana Buda é somente um ideal, uma Luz para o alcance do Nirvana. O Maayana segue o exemplo de Buda que renunciou a alcançar o Nirvana (Iluminação ou Consciência Cósmica) que, não obstante, atingiu, por compaixão com os semelhantes, sendo hoje muito diferente do Budismo Hinayana na sua filosofia e prática.
É especialmente interessante o estudo do Budismo, pela diferença entre estas duas correntes, no que respeita à sua visão intrínseca sobre a Lei do Karma, estudo que o espaço não nos permite explicar neste artigo.
Acrescentamos, apenas, que nas últimas décadas houve um interesse especial sobre dois movimentos desencadeados no interior do Maayana, o Vajrayana tibetano, ou Lamaísmo, (Veículo Diamante), que decorreu da fusão com a religião local, a Bon, e o Zen Japonês (meditação) muito mais disseminado no Japão de que na China.
Os autores ocidentais que estudaram profundamente o Budismo são raros, até hoje. Destacamos Allan Watts, teólogo inglês e D. T. Suzuki, um japonês que escrevia em inglês, os quais divulgaram o Budismo Zen no Ocidente. O Lamaísmo foi divulgado por Evans-Wentz e Alexandra David-Neel, esta de origem francesa, a única mulher que, (com excepção de Madame Blavatsky, co-fundadora da Teosofia), viveu com os Lamas e foi iniciada por eles; suas obras são autênticas e importantes sobre o Budismo Tibetano.
Depois da ocupação do Tibete pela China Marxista, em 1951, da fuga do Dalai Lama e de alguns Lamas para a Índia, em 1959, e depois de muitos monges terem vindo para o Ocidente, alguns deles fundaram Instituições Budistas na Escócia e Estados Unidos, como o “Nyingma Institute”. E então escreveram alguns livros sobre o Budismo. Que saibamos, Lobsang Rampa não foi nenhum deles e não esteve ligado às Lamaserias ou às organizações budistas, quer no Tibete quer na Escócia ou nos Estados Unidos.
O próprio Dalai Lama, em 1972, questionado por um jornalista canadiano, esclareceu que nem Lobsang Rampa nem seus trabalhos literários mereciam qualquer crédito, por serem fruto de imaginação e ficção do autor.
Terminamos com a nossa opinião particular de que Cyril Hoskins – ou Carl Kuansuo – ou Dr. Kuan – ou, finalmente, Tuesday Lobsang Rampa – pagou um preço caro para tornar verosímil a sua personagem de monge Tibetano, em termos de saúde, intranquilidade e frustração, lutando a vida inteira contra os cépticos e mantendo um obsessivo conflito com os jornalistas de todo o Mundo que, sem lhe darem tréguas, procuraram desmascará-lo.
Escondendo-lhes as mil facetas de sua vida aventurosa, tentando impor uma coerência impossível para as inúmeras justificativas e contradições quanto à sua verdadeira identidade, isolando-se e tornando-se amargo, distante, auto-suficiente e cínico, Lobsang Rampa descoloriu e ofuscou o flagrante valor divulgador e pioneiro da sua obra, para um público carente de conhecimento místico, na época, não obstante a sua duvidosa legitimidade e as imperfeições que a enfermam.
Todavia, “Quem não passou por Lobsang Rampa que atire a primeira pedra...”
Sem falar na sua posição de ataque à mídia, fazendo críticas de condutas em tons agressívo.
Um espirita, budista ou algo parecido encontra argumentos mais armoniosos e até logícos para se contrapor a certas coisas.
Não é o caso dele.
Traz ainda alguns preconceitos existente em culturas ocidentais na década de 60 e 70, como a movimentos sociais envolvendo estilos musicais inovadores, e que muitas vezes, embora expressassem rebeldia, era muitas vezes um grito de liberdade e justiça. (rock n' Roll e Jazz, este último, uma das mais belas expressões culturais de afro-descendentes norte americanos, em meio a persseguições e racismo em 60, 70 e final de 80.
Eu não recomendo!
Há pouco tempo escrevi um comentário, depois li um artigo feito por vós, confesso que não gostei, pois tal é superficial e baseado em terceiros. É sabido que Lobsang foi contrário à escolha do Dalai Lama, por conseguinte são desafetos. A bem da verdade, o certo seria uma abreviação neste tipo de indagação, pois a obra de Rampa não maltrata ninguém, ao contrário, ilumina ela aos que procuram e que podem receber este tipo de orientação. Para mim, garanto que percebi a essência dela e foi de grande valia. Agradeço a atenção desejando felicidades a todos. a Moreti Barros
Foi esse autor que me abriu caminho para uma serie de práticas que me deram experiências maravilhosas na minha descoberta.
Por tal razão, hoje, lhe agradeço por tudo quanto contribuiu, directa ou indirectamente para a minha evolução.
Charlatão para uns, credível para outros, pouco importa.
Para mim foi autêntico.
Que a transmigração espiritual é possível, É! Se aconteceu com ele ou não, não me preocupa.
Que segundo o meu ponto de vista os seus ensinamentos eram válidos e positivos, sim!
Que na sua vida como cidadão apresentava algumas desvirtudes.
Aqui cabe-me afirmar: Quem as não tiver que atire a primeira pedra!
Não vi pedra alguma a voar.
Fiquem na LUZ de Deus.
J.L.F.N.
É mediocridade este comportamento pífio, ainda mais quando não se entende nem mesmo qual a intenção própria, pior na apropriada, ou seja, para direcionar algo contra algo, necessita-se pelo menos um motivo, mesmo que fútil, e não vulgar. Ora, a obra de T. L. Rampa é sobre Filosofia Universal, e quando se refere à religiosidade, alerta ao leitor que se mantenha em sua religião de batismo, ou a que melhor lhe proveu a rotina em sua vida, ainda sobre o risco da mudança. Num assunto semelhante ele mencionou também o risco da variação multi direcional em "linhagens filosóficas". Assim, termino tornando eminente aquilo que é a essência da Obra, doutrinar a Fé daquele que está preparado, este que poderá sentir o Alento Divino passando entre as frestas obscuras do sofrimento.
Leia "Doutrina teosófica" em Wikipedia. a. Moreti Barros.
O que mais me interessa atualmente é mesmo ver o ser humano tentando se descobrir, se achar, tentando entender o que ele está fazendo aqui nessa bagaça; cade o manual de como se vive? o que eu vim fazer aqui? quem me me colocou nesse buraco? porque eu estou aqui nesse buraco? niguem me perguntou e se me perguntasse eu responderia nao!!!
continuem estudando, por favor...
obrigado..
O budismo tibetano é uma mistura da antiga religião Bon e o Budismo, onde trouxeram para o budismo a clarividência, a telepatia, a viagem astral, que eram da Bon.
Os seguidores do budismo tibetano no Brasil descartam essas habilidades de seus costumes religiosos. Então os próprios praticantes do budismo tibetano no brasil já descartam essas possibilidades, como poderiam concewber real a história de Lobsang?
No começo do texto começa num discurssão sobre o preconceito e o ato de julgar, depois desce a lenha no cara, dizendo que ele é uma fase inicial do processo de evolução espiritual, com base no conhecimento oriental budista.
De certa forma quem diz isso é alguém preso a algum dogma religioso, e tem que defender a sua idéia dogmatica religosa
. De qualquer forma abra é muito importante, transforma conheciento .
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