sábado, 10 de janeiro de 2009

 

Budismo de Nitiren – polêmicas e verdades

Paulo Stekel



Introdução

Como budista que somos, temos a obrigação de respeitar todas as linhagens. Como universalista, nos dispomos a respeitar todas as religiões e todas as formas de culto, das mais ortodoxas às mais alternativas e exóticas. Esse parece ser o caminho politicamente correto que muitos têm adotado nas últimas décadas. Não o vemos como inadequado. Pelo contrário, pode ser uma ótima forma de diminuir a violência global motivada ou incitada pela religião, como vemos em Gaza, Sri Lanka, Cachemira e em muitos outros lugares. Há que se abraçar mais do que litigar, dizemos nós. Mas, quem escuta o óbvio? Somente aqueles que se dispõem a praticar.

Acostumados que somos às polêmicas envolvendo as várias tendências cristãs, que permeiam nossas vidas ocidentais, raramente nos damos conta de que picuinhas e rusgas religiosas existem em praticamente todos os cultos do mundo. A coisa fica séria quando um deles pensa (e diz) que sua verdade é superior à dos demais. Nenhuma das grandes religiões escapa ou escapou em algum momento de sua História de tal tipo de afirmação disparatada. Não faz muito o Papa Bento XVI reafirmou a supremacia do Cristianismo Católico Romano sobre todos os demais e sobre as outras religiões.

Desde a época em que nos convertemos ao Budismo (o Tibetano, embora, para o Buda, só haja um Budismo: o que conduz ao Despertar), lá pelos idos de 1995, ouvimos falar de uma outra forma de prática budista, repudiada por muitos como sendo pseudobudista ou não budista: o Budismo de Nitiren. Um lama tibetano chegou mesmo a nos afirmar serem seus adeptos fanáticos proselitistas desavergonhados. Como o Budismo não é proselitista, via de regra, isso nos chocou um pouco. Durante muitos anos não soubemos (e nem nos interessamos em saber) absolutamente nada sobre Nitiren, sobre as escolas que o seguem, seja a Soka Gakkai ou outras. A Soka Gakkai, aliás, era a mais perigosa, segundo o lama que nos advertia na época... Mas ela não é uma religião... é apenas uma ONG composta de membros leigos! O que teria de errado?

Às vezes o desconhecimento é o maior aliado do medo, do preconceito e da agressão, necessariamente nesta ordem. A regra de ouro que seguimos há anos é esta: se um assunto não lhe prejudica o sono e você consegue dormir bem sem se aprofundar nele, tudo bem, esqueça. Mas se algum dia ele lhe incomodar, vá atrás e se informe, para não emitir opinião preconceituosa que venha a interferir negativamente no caminho escolhido pelos outros. Foi o que fizemos quando o assunto “Budismo de Nitiren” começou a cercar-nos, seja através de amigos, de reportagens ou de dúvidas dos leitores.

Nitiren: todos podem se iluminar!

Esta afirmação é a base do Budismo de Nitiren Daishonin, sendo também a essência do Budismo Mahayana, a maior das divisões do Budismo, caracterizada pelo espírito de benevolência e de altruísmo.

Mas o próprio Budismo Mahayana possui inúmeras divisões, a que alguns se referem incorretamente como “seitas”. Na verdade, tudo é uma coisa só: Budismo. As diferenças não alteram isso. As bases são as mesmas. Uma das mais importantes escolas mahayana da China foi fundada por Tientai (538-597), a Escola Tendai. Esta escola ensina que o Sutra de Lótus é o mais elevado de todos os sutras Mahayana e que todas as coisas, animadas e inanimadas, possuem um potencial adormecido para o Despertar Último.

O Budismo de Tientai chegou ao Japão no Séc. IX, e mais tarde, no Séc. XIII, Nitiren Daishonin estudou no centro da escola Tendai no Japão, entendendo que o Sutra de Lótus constitui a essência de todo o Budismo. Então, começou a pregar o que havia descoberto, nascendo o que hoje se chama “Budismo de Nitiren”.

Para Nitiren, tudo está sujeito a uma única lei universal. Compreendê-la é libertar-se. Nitiren Daishonin definiu esta lei universal com o mantra Nam-myoho-rengue-kyo, uma fórmula que representa o fundamento do Sutra de Lótus e é conhecida como Daimoku. Ele é inscrito num pergaminho, o Gohonzon, como lembrete dos ensinamentos sobre a lei universal aqueles que, praticando o mantra, desejam atingir a Iluminação.

Saber um pouco da vida de Nitiren é importante para se entender como as doutrinas ensinadas por ele têm sido adotadas por tanta gente no Ocidente.

Nitiren Daishonin, ao contrário de Sakyamuni, que era filho de um rei, era filho de pescadores. Como os pescadores tiravam a vida de seres para sobreviver, eram desprezados na sociedade da época. Nitiren começou a estudar Budismo aos doze anos, tendo percebido logo várias contradições entre os ensinamentos. Isso o levou a procurar uma resposta definitiva para o sofrimento humano. Depois de muito estudo e contemplação, chegou (em 1253) a suas próprias conclusões, as quais passou a apresentar sistematicamente. Em especial, declarou que os verdadeiros ensinamentos do Budismo são encontrados apenas no Sutra de Lótus, que apresenta os ensinamentos dos últimos oito anos de vida do Buda Sakyamuni. Eis o ponto de maior choque com o Budismo Mahayana como um todo... Ao expôr pela primeira vez o Nam-myoho-rengue-kyo em 1253, proclamando que a devoção e a prática do Sutra de Lótus eram a única forma correta de Budismo para a época atual, Nitiren desagradou a muitos e ofendeu a outros tantos... Mas também conquistou muitos seguidores, especialmente entre a classe dos samurais.

Primeiros anos de ensino: perseguição e fé

Nitiren foi muito controverso, e essa controvérsia persiste em muitas escolas que seguem seus ensinamentos ainda hoje. O motivo principal de controvérsia é o fato dos praticantes do “Budismo de Nitiren” acreditarem serem os únicos que seguem a forma correta de Budismo, uma convicção que vem do próprio Nitiren. Poderíamos compará-lo a um Reformador, um “lutero” budista, mas não é o caso. Ele não queria reformar as escolas. Na verdade, queria que o governo deixasse de sustentar as outras escolas budistas e que as pessoas as abandonassem, pois se convencera de que seguiam ensinamentos errados. Essa atitude pode ser encontrada na origem de muitas cisões religiosas pelo mundo, mormente as cisões cristãs...

A conseqüência óbvia da atitude de Nitiren foi a perseguição, que veio tanto das escolas budistas populares da época como do governo que as protegia. Ele mesmo declarou que era essencial que "o soberano reconheça e aceite a única forma verdadeira e correta de Budismo" e a única maneira de "atingir paz e prosperidade para a terra e seu povo e dar um fim ao sofrimento". Foi uma atitude radical, com certeza, e na contramão do que se busca atualmente no campo religioso: complementaridade e não sectarismo! Devemos aprender que não se pode contrapôr nem misturar “fés”, apenas praticar uma e respeitar (além de estudar) as demais... Isso é muito mais produtivo e pacífico.

Da mesma forma que os antigos Profetas de Israel, Nitiren atribuiu a ocorrência de fomes, doenças e desastres naturais da sua época ao fato das pessoas não seguirem a “forma verdadeira e correta de Budismo”. Isso realmente beira o proselitismo, algo que o Buda não ensinou. Por isso, Nitiren foi atacado, exilado, seqüestrado e quase assassinado...

Depois de passar por tudo isso e sobreviver, dizem seus seguidores, Nitiren teria descartado sua identidade provisória de simples sacerdote e revelou-se como a reencarnação do Bodhisattva Jogyo ou como um Buda, conforme o que aceite cada escola. Seguiram-se três anos de banimento para a ilha de Sado, onde Nitiren escreveu tratados importantes que descrevem sua doutrina.

Terminado o banimento, Nitiren exilou-se no Monte Minobu, onde montou um templo e continuou escrevendo (mais de 700 obras!), pregando e treinando discípulos até a morte, em 1282.

O efeito Nitiren

Após a sua morte, os ensinamentos de Nitiren foram interpretados de diversas maneiras por seus seguidores, o que em geral acontece com todos os líderes religisos. Por isso, o Budismo de Nitiren possui diversas linhas e escolas, sendo as mais importantes a Nitiren Shu e a Nitiren Shoshu, cada uma com suas particularidades. A maior (e mais polêmica) diferença está se a escola considera Nitiren como O Verdadeiro Buda ou O Buda Original, como é o caso da Nitiren Shoshu e da Soka Gakkai, ou se o consideram como um grande mestre, como é o caso da Nitiren Shu. Mas todas afirmam que o Sutra de Lótus é o sumum bonum do Budismo, em detrimento de todos os demais sutras, que são considerados verdades parciais. Mas, qual texto, de qualquer religião que seja, poderia conter A Verdade Total??? Como o Sutra de Lótus, ao contrário dos demais, poderia ter sido ensinado pelo Buda a partir de um ponto absoluto, se seus seguidores ainda estão imersos no relativo??? Como podem entender o absoluto, então?

Essa atitude nos parece contrária à visão do Budismo Tibetano, por exemplo, no qual não se exclui sutras ou demais textos, mas apenas se inclui. O Budismo Tibetano estuda não só seus próprios textos, mas todos os demais textos do Mahayana (em tibetano, chinês e sânscrito) e imprescindivelmente os textos em páli do Budismo Theravada conhecidos como “Tipitaka”, quase uma “bíblia páli”. Excluir todos os demais em detrimento de um único texto parece uma atitude temerária. Mas é o direito de Nitiren e de seus seguidores e o reconhecemos. Mas também podemos nos reservar o direito de pensar diferente...

Há ainda três pontos a considerar nos ensinamentos de Nitiren. Um, é a a utilização de um único mantra (o Daimoku), o Nam-myoho-rengue-kyo, que, numa tradução simples, significa "Devoto-me à lei mística do Sutra de Lótus", mas cujas sílabas desdobram-se em muitos significados. Rezar apenas este mantra conduziria ao Despertar. Isso é uma prática de fé, não de conhecimento. Mas isso também não é um problema.

O segundo ponto essencial do Budismo de Nitiren é a possibilidade de se atingir o Estado de Buda na vida atual. Ainda que seja possível, mas virtualmente difícil, o Budismo Tibetano também possui este ensinamento. Não custa tentar... Afinal, como saber até onde já chegamos na busca por sabedoria nas vidas anteriores?

O último ponto ensina, através da disseminação dos ensinamentos (chakubuku), a se buscar a paz mundial (chamada kossen-rufu). Nunca a paz mundial foi tão bem vinda! Uma prática religiosa ter a paz mundial como uma de suas bases essenciais é algo realmente louvável.

Nitiren: um Buda ou O Buda???

Em algumas escolas, Nitiren ou Nichiren (1222-1282), também chamado de Nichiren Daishonin, acabou sendo elevado à condição de Buda original da era de Mappô. Assim o consideram os membros da Nitiren Shoshu e da associação de leigos, a Soka Gakkai (representada no Brasil pela BSGI, uma ONG). Mas escolas como a Nitiren Shu consideram Nitiren como um patriarca, mas não deixam de seguir o Buda Shakyamuni.

Para a Escola Nichiren Shoshu, uma ordem monástica, conforme a predição do Buda Sakyamuni revelada no Sutra de Lótus, na época denominada Era do Fim do Darma – iniciada dois mil anos após o falecimento do Buda Sakyamuni - Nichiren Daishonin apareceu como o Verdadeiro Buda para a salvação dos seres. Nichiren ensina que todos que acreditarem no Gohonzon (objeto de adoração), a essência do Sutra de Lótus, e recitarem o Nam-myoho-rengue-kyo, poderão atingir a condição de Buda.

Apenas para esclarecer, Soka Gakkai é a designação de uma organização não governamental (ONG) que tem como objetivos o estabelecimento da paz, da cultura e da educação. Tudo isso com base no Budismo de Nitiren, religião da qual seus integrantes são praticantes leigos. Possui aproximadamente 15 milhões de membros no mundo. Até o início dos anos de 1990, a Sokka Gakkai era associada à Escola Nitiren Shoshu, mas graves divergências as separaram em definitivo. Por causa disso, atualmente é uma organização laica, sem uma ordem monástica associada. É liderada desde 1960 por Daisaku Ikeda, conhecido filósofo, escritor, fotógrafo e poeta, responsável por seu rápido crescimento no mundo. No Brasil é representada pela BSGI (Brasil Soka Gakkai Internacional).

A Escola Nichiren Shu chama Nitiren de Nichiren Shonin. Para ela, Nichiren foi um grande professor e reformador, que rejeitou o elitismo do budismo japonês e o restaurou como uma prática popular, entendendo o Sutra de Lótus como o ponto culminante dos ensinamentos de Buda. Para esta escola, Nitiren não é um Buda, nem O Buda Original, mas um grande mestre. Por isso, o diálogo da Nichiren Shu com outras escolas budistas, como as do Mahayana e o Theravada tem se mostrado no mínimo viável.

Algumas críticas ao Budismo de Nitiren

Conversando com várias pessoas pela Internet, em Redes Sociais, recebemos vários relatos e críticas ao chamado “Budismo de Nitiren”, bem como algumas defesas. Só para exemplificar, eis alguns argumentos (os nomes são fictícios, por insistência de seus autores):

“Fui numa reunião e não gostei. Ali pregam que Sidarta não é o verdadeiro Buda. Dizem ainda que nos textos Sidarta apontou que Nitiren viria esclarecer o mundo sobre o verdadeiro budismo após 2000 depois de sua morte de sidarta.” [Arlete]

“A Sokka Gakkai prega que Nitiren é a encarnação do Buda Gautama e que veio para restaurar o verdadeiro Budismo. (...) Já visitei vários grupos desta seita e constatei muita ignorância, arrogância e ingenuidade em relação aos ensinamentos de outras escolas budistas, que para eles são desencaminhadores do verdadeiro budismo.” [Renan]

“Verdadeiro Budismo? Acho que a frase está mal colocada. Nunca vi essa abordagem. Existem discussões filosóficas entre as eEscolas, mas não chega ao ponto de uma ser melhor que a outra. Sinceramente não entendi.” [Bira]

“O que já discuti diversas vezes foi a falta de ética dos membros da Nitiren nos seguintes fatos: Ao falar "o verdadeiro Budismo" deixando a entender que os outros são falsos; ao dizer que o mantra deve ser usado por todos desconsiderando que todas as outras escolas não usam esse mantra; ao dizer que o Sutra de Lótus é o mais importante do Budismo e que todos os outros devem ser estudados com base nele, o que desrespeita as outras escolas que não acreditam nesse Sutra. Não estou falando que é para os membros da Nitiren deixarem de praticar ou acreditar no que diz essa filosofia. Mas que o que ela prega é bastante particular no Budismo, portanto entra em conflito com as outras escolas.” [Gilvan]

“Nitiren Daishonin não é uma escola budista porque não possui os Quatro Selos do Dharma [ver nota 1]. Nenhuma escola budista tradicional reconhece esta seita como budista. Nem o Theravada, nem o Mahayana, nem o Vajrayana. Nenhum grande mestre budista faz sequer menção a este pretenso "budismo", que em verdade desencaminha as pessoas da verdadeira prática budista, e apresenta obstáculos como se fossem caminho de iluminação (culto a personalidades, adoração de objetos, desconhecimento das Quatro Nobre Verdades).” [Antônio]

Nota 1: Os Quatro Selos do Dharma são - Todos os fenômenos compostos são impermanentes; todos os fenômenos contaminados são insatisfatórios; todos os fenômenos são vazios e desprovidos de realidade intrínseca; o Nirvana é a verdadeira paz.

“Nitiren não é budismo. Qual é a outra linhagem budista que é acusada com tanta freqüência de não ser budista pelos próprios budistas e por não-budistas bem esclarecidos? (...) todos já ouvimos praticantes de todas as linhagens afirmar que Nitiren viola os mais básicos preceitos budistas: não possui os Quatro Selos (vício fundamental); não propaga as Quatro Nobres Verdades [ver Nota 2]; não prioriza o treinamento da mente; pratica culto à personalidade e ao ego; pratica materialismo descaradamente; pratica idolatria (adoração de objetos).” [Flávia]

Nota 2: As Quatro Nobres Verdades, de acordo com os textos canônicos, são a Verdade do Sofrimento, a Verdade da Causa do Sofrimento, a Verdade da Extinção do Sofrimento e a Verdade do Caminho de Oito Aspectos para a Extinção do Sofrimento.

Esta é a opinião das pessoas. Deve haver verdades e equívocos nela. Ninguém agrada a todos, diz o próprio povo. Por isso solicitamos ao Monge Hakuan (Antonio Carlos Rocha) uma defesa mais consistente do Budismo de Nitiren, e ele nos enviou prontamente um artigo esclarecedor. Monge Hakuan tem escrito vários artigos para a Revista Horizonte – Leitura Holística, e ele mesmo é seguidor de Nitiren, Gatukô (auxiliar sacerdotal) da Escola Honmon Butsuryu Shu, que considera Nitiren (que ele escreve Nichiren) como um grande mestre. Depois de lermos o que ele tem a dizer, reflitamos cada um de nós sobre o assunto e, se conseguirmos dormir sem nos incomodarmos com ele, ótimo. Caso contrário, aprofundemos nossos estudos, para não cair no preconceito e na ignorância de muitos. Segue, logo abaixo, o artigo de Monge Hakuan:

Nichiren – O Lótus Sol

Hakuan (Antonio Carlos Rocha) - Gakutô (Auxiliar Sacerdotal do Budismo Primordial HBS)



No âmbito das muitas linhagens budistas que conhecemos hoje em todo o mundo, as linhagens Nichiren são, curiosamente, muito amadas por uns e detestadas por outros. Incluo-me entre os primeiros. Sou daqueles que muito amam estudar, pesquisar e praticar quase todas as linhagens budistas que me são possíveis, como um leitor entusiasta que fica maravilhado diante de magnífica e diversificada biblioteca.

Aprendi muito cedo com o Buda Sakyamuni que a beleza e importância da floresta está na diversidade. Podemos afirmar que o Budismo é atualmente um Ecossistema de escolas, veículos, linhagens, sub-linhagens, ramos, filosofias e pelo visto, não vai parar de crescer, pois isso é próprio da vida.

O parágrafo acima me fez lembrar que, em artigo anterior, já publicado nesta ótima Revista Horizonte - Leitura Holística, citei o Venerável Anagárika Govinda, aprovando as novas interpretações e vivências budistas.

A grande questão é o chamado “Budismo Nichiren” que nasceu no Japão, na Idade Média, e que hoje abriga muitas escolas (há até quem afirme a existência de 40 linhagens). Alguns budistas de outros ramos afirmam que o Budismo Nichiren não é Budismo, ou então chamam de “Budismo Evangélico”. Esquecem-se, estes queridos e iluminados irmãos que se há Budismo Teravada, Budismo Zen, Budismo Terra Pura, Budismo Chan, Budismo Tibetano, Budismo Chinês, Budismo Coreano, Budismo Norte-Americano, já se fala até em Budismo Brasileiro e etc., por que não pode haver um Budismo Nichiren?

Em primeiro lugar é preciso notar que o próprio Sakyamuni esclareceu a existência de muitos Budas, antes e depois dele. Logo, quando a linhagem a qual pertenço, Budismo Primordial HBS, reverencia o Buda Sakyamuni e afirma que o Buda Primordial é o Adhi Buddha e que esta energia primeva da vida incorporou-se em Sidarta Gautama, de forma mediúnica, e que portanto, se quisermos, podemos considerar os termos Deus e Buda Primordial como sinônimos, estes irmãos budistas, de outras linhagens, discordam e dizem que isso não é Budismo.

Se Sidarta disse que houve muitos Budas antes dele e que após ele viriam muitos outros Budas, qual é o problema de também chamarmos Nichiren de Buda? A linhagem Soka Gakkai afirma que Nichiren é o Buda Original e Sakyamuni, o Buda Histórico. Ora, é Original porque ele fez uma interpretação original, diferente em alguns pontos do Ensinamento de Sakyamuni. Original no sentido de criatividade.

Constato então que eles, os irmãos budistas que discordam, com todo o respeito escrevo isso, estão presos, apegados a conceitos antigos, ortodoxos e não conhecem, novamente com todo o respeito, as escrituras budistas de uma forma mais ampla. No citado artigo que nos referimos acima, o Venerável Anagárika Govinda, afirma que, mesmo um alimento, congelado por muito tempo no freezer, vai precisar de um tempero atualizado, de forma que o sabor ganhe o merecido destaque. Ainda nesse mesmo artigo citamos um trecho do Mahaparanibhanasutta ou “O último sermão de Buddha”, dentro da tradição ortodoxa Teravada onde, textualmente Sidarta declara que, se a ordem quiser (a Sanga), após o desencarne dele, poderá alterar todos os preceitos menores. E comentamos que os preceitos maiores são os três tesouros: o Buda, o Darma e a Sanga e os menores os demais aspectos.

Mas, se o Budismo que os seguidores de Nichiren praticam refere-se a um Buda anterior a Gautama, não há motivo para tanta polêmica. Lembro que, certa feita, conversando com uma conceituada monja no Rio, da tradição Terra Pura japonesa, ela me disse que as imagens de Buda que tem nos altares dos templos Terra Pura de sua linhagem, em todo o mundo, não são de Sakyamuni, que geralmente aparece sentado na clássica postura de meditação, mas sim, do Buda Darmákara, que viveu bem antes de Sidarta. E Darmákara sempre aparece nas estátuas e imagens de pé, e nunca sentado e é por isso que, em geral, nos templos Terra Pura, existem bancos e cadeiras comuns e não as tais almofadas de outras tradições.

O mesmo acontece com as seis linhagens Nichiren presentes no Brasil. Existem bancos e cadeiras nos templos, como se fosse uma igreja. Talvez a única exceção à regra, seja o nosso núcleo no Rio, que por funcionar em uma academia de yoga, tem almofadas sobre pequenos pedaços de carpetes. Como, aliás, era na antiguidade japonesa, quando todos sentavam em tatames.

No Brasil temos as seguintes linhagens do Budismo Nichiren:

Budismo Primordial HBS – Honmon Butsuryu Shu = www.budismo.com.br (na capital carioca nós chamamos de HBS-Rio, ou seja Herdeiros do Buda Sakyamuni na Cidade Maravilhosa = http://budismoprimordialrio.blogspot.com);

Soka Gakkai = www.bsgi.org.br;

Risho Kosei Kai = www.rkk.org.br;

Nichiren Shu = www.nichirenshu.org.br;

Nichiren Shoshu = www.ns.org.br;

Reiyukai = www.reiyukai.or.jp (é o site oficial em inglês; no Japão; há um link em espanhol).

Além dos sites oficiais, há vários sites não oficiais e blogues autônomos, como o meu.

Em inglês há um site ótimo: www.nichirenscofeehouse.net. De lá o leitor encontra links para diversas linhagens históricas e tradicionais, além de muitas do Budismo Nichiren em todo o mundo; há até grupos budistas nichiren independentes. Veja também outro site muito bom: www.nichirenshueuropa.org (em várias línguas).

A reforma religiosa que Nichiren promoveu no Japão foi tão importante que até hoje influencia direta ou indiretamente diversas correntes religiosas neobudistas, não budistas, xintoístas, neoxintoístas e afins como Seicho-No-Ie, Igreja Messiânica, PL – Perfeita Liberdade, Sukyo Mahikari, etc. Todas têm altares semelhantes ao Gohouzen com inscrições em caracteres chineses ou nipônicos. Inclusive, as muitas linhagens de Reiki que percorrem hoje o Ocidente, lembram os sinais e os ideogramas que Nichiren inscreveu em seu Gohonzon. Por exemplo, a linhagem a qual pertenço, HBS, tem a prática da água fluidificada que os espíritas muito usam.

Nos altares de algumas linhagens do Budismo Nichiren existem imagens de Sidarta, em outras não, em algumas existem só imagens de Nichiren, em outras não, em algumas existem só um quadro ou mandala com caracteres nipônicos ou chineses explicitando o mantra Namu Myou Hou Ren Gue Kyou (que significa “Eu me refugio no Buda Primordial”) e a presença dos muitos Budas, Bodhisatvas, Mahasatvas e altos seres celestiais afins.

Não vemos problema nessa não existência de imagens de Sidarta Gautama; o próprio Sakyamuni, desde seus primeiros pronunciamentos no cânon páli, nunca fez questão de ser representado por uma estátua, e foi justamente isso que fez com que Nichiren não desse muita importância ao uso de imagens. Talvez por isso, muitos nos rotulam como “budistas evangélicos”, visto que os evangélicos do cristianismo não são afeitos às imagens. E também porque a jovem linhagem, Soka Gakkai, fundada em 1930, utiliza métodos de conversão semelhantes aos pentecostais.

Nichiren tinha uma profunda e reverente admiração por Sakyamuni e em função disso, compreendendo que ele foi um ser preparado e escolhido pelo Buda Primordial para nos revelar o Sutra Lótus, então preferiu inscrever em um pergaminho a reverência a todos os Budas, bodhisatvas etc, como já citamos. É importante frisar que ele não escreveu os nomes no pergaminho, mas inscreveu e por isso este sagrado pergaminho é chamado de Gohonzon e é isto o que temos em nossos altares. Os altares têm o nome de Gohouzen. O pergaminho é como se fosse um diploma, um cartão de banco ou de crédito, uma senha, e assim, todo iniciado tem em casa uma cópia deste pergaminho que também é conhecido como mandala.

Podemos afirmar que em quase todos os países do mundo há um pequeno grupo de praticantes que seguem alguma linhagem inspirada ou em Nichiren ou no Sutra Lótus e seguem o sagrado mantra já citado.

Uma das curiosidades deste tipo de budismo é que ele se reúne com mais freqüência nas casas, nas residências, em pequenos grupos e só eventualmente nos templos.

Vejamos um bom exemplo do preconceito que cerca os nichirenistas. No ótimo livro publicado no Brasil pela Editora Cultrix, “Budismo – uma introdução concisa”, os renomados especialistas norte-americanos em religião, Huston Smith e Philip Novak, ao longo de 208 páginas falam muito bem de diversas correntes, linhagens, veículos, etc. Mas o espaço dedicado a Nichiren é ínfimo, nada mais que 20 linhas. Ora, pensamos que os referidos autores não tiveram uma atitude imparcial, conforme recomenda uma pesquisa acadêmica séria. Só 20 linhas para falar de um conjunto de escolas, sub-escolas, interpretações que abrigam milhões de praticantes em todo o mundo?

É comum também pessoas que não conhecem a vida e a obra de Nichiren afirmarem que o significado do mantra é apenas “Louve o Lótus da Boa Lei”, como sugerem os citados autores na página 135 do referido volume. A postura é semelhante a uma pessoa que, não sabendo do que trata a astronáutica, tece considerações, definições e juízo de valor sobre a arte de enviar foguetes interplanetários para investigar o cosmo.

Talvez, toda esta celeuma tenha sua origem no seguinte: Nichiren (1222-1282) era uma monge politicamente bem acordado, um monge militante, revolucionário verbalmente falando, e mais de uma vez afrontou os poderes constituídos dizendo verdades aos poderosos. Conclusão: foi preso e condenado à morte por decapitação. Mas há uma história interessante que muitos afirmam ser lenda. Na hora do martírio, em praça pública, o carrasco não teve coragem de cortar a cabeça do sacerdote Nichiren. Nos céus apareceram sinais estranhos, houve trovoada, raios, a Terra tremeu, etc. Então, os algozes decidiram enviá-lo para o exílio. Anos depois voltou com a anistia.

Há uma outra história também de que em alguns dos textos escritos por Nichiren ele criticou o Budismo Zen e o Budismo Terra Pura. No primeiro caso é porque ele tinha uma devoção muito grande ao Buda Sakyamuni e mesmo tendo sido praticante e estudioso do Zen, não conseguia entender ou aceitar muito bem a irreverência e iconoclastia das linhagens zen que, às vezes, até recomendam “matar” o Buda, não respeitar a hierarquia sacerdotal, queimar as imagens do Buda, etc. Claro que isto é uma linguagem simbólica. O outro aspecto é que, contam, praticantes da Terra Pura, certa feita queimaram a cabana onde morava Nichiren, porque ele havia criticado os chefes e fundadores da linhagem Terra Pura. Então, alguns seguidores de Nichiren fizeram o mesmo e queimaram um templo da Terra Pura. E assim, hoje, ficamos sem saber quem iniciou a briga... Uns dizem que é um, outros dizem que é o outro.

Nessa época havia também muita corrupção no clero budista, que estava se utilizando das benesses do poder governamental em detrimento do povo. E Nichiren foi veemente com eles. Assim, nosso Patriarca “Nini”, fugiu ao padrão de que monge é sempre bonzinho, caladinho, bonitinho, arrumadinho, só meditativo e não fala nada diante das mazelas dos poderes corruptos e seus apaniguados.

Imparcialmente falando, Nichiren foi muito rude com as linhagens Zen e Terra Pura; a meu modo de ver, jamais deveria ter escrito isso, pois esqueceu da compaixão que Sidarta sempre ensinou. Ele poderia até discordar educadamente dos poderes governamentais da época, sem perder as estribeiras. Parece que morreu assim, meio brigão, valentão, verbalmente falando. Mas o que não faz sentido, hoje, novamente, na minha maneira de ver, é ficarmos nós brasileiros, reproduzindo uma briga da Idade Média japonesa, que não tem nada a ver conosco, tupiniquins, com a nossa realidade em pleno século XXI, e sim que o acontecido foi um fato local, isolado, dentro da belíssima história do budismo mundial. Com todo o respeito e reverência penso que estão equivocados os brasileiros nichirenistas quando afirmam que só o Budismo Nichiren está certo e os outros budismos estão errados; da mesma forma, discordo respeitosamente dos praticantes brasileiros, das demais denominações budistas, quando afirmam que Budismo Nichiren não é Budismo.

Quanto a afirmar que o Budismo Nichiren é Budismo Evangélico, não vejo problema nenhum, pois nada tenho contra os evangélicos cristãos, nem contra qualquer outra religião ou filosofia. Não me sinto diminuído ou agredido quando um budista de outra linhagem estranha nossa afirmação de que o Budismo Nichiren é um Budismo de Fé e vemos os vocábulos Deus e Buda como sinônimos, aliás, o nome oficial da linhagem a qual pertenço é Religião Budista Primordial - HBS.

Poderia listar ainda diversas outras muito bonitas linhagens Nichiren que não estão presentes no Brasil, mas por motivos de espaço recomendo o site em inglês www.lotus.net. De lá há um link para uma linhagem Nichiren 100% pacifista, ecumênica e inter-religiosa: http://www.niponzanmyohoji.org. Seu fundador foi o grande e Venerável Mestre japonês Nichidatsu Fujii Guruji (1885-1985). O último nome “Guruji” era a forma carinhosa como o Mahatma Gandhi chamava Nichidatsu. O monge japonês Fujii andava pelo mundo tocando um pequeno tambor do Darma do Buda, conforme ensinado por Nichiren e viveu durante três anos, na Índia, no ashram do Mahatma Gandhi, durante as lutas de libertação contra o Império Colonial Britânico. Diariamente pela manhã, juntos recitavam as orações de Gandhi inspiradas no Bhagavad Gita, no Evangelho de Jesus e nos Ensinamentos de Nichiren, através do Sagrado Mantra citado. Portanto, o exemplo de Gandhi, de não-violência ativa, tem muito de Nichiren.

Um outro grande mestre e monge budista Theravada, que ficou conhecido como o Gandhi do Camboja, também morou no ashram e acompanhava o Mahatma chamando Nichidatsu de Gurujii. Maha Ghosananda, o Gandhi do Camboja, foi indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz. Portanto, nichirenistas ou não nichirenistas, a convivência pacífica e harmoniosa é possível e recomendável.

Recomendo dois ótimos livros: o primeiro, de autoria de Nichiko Niwano, atual presidente mundial da linhagem Risho Kosei Kai, que está presente no Brasil há 30 anos, “O Caminho Interior”, Editora Cultrix, 1996. E o segundo, de autoria do pai de Nichiko, Nikkyo Niwano, fundador da referida linhagem: “Shakyamuni Buddha – uma biografia narrativa do Buda histórico”, publicado pela editora católica Cidade Nova, em 1987, pertencente ao Movimento dos Focolares. Aliás, em 1979, o Vaticano outorgou a Nikkyo o “Prêmio Templeton” por motivos de aproximação ecumênica e inter-religiosa com diversos segmentos budistas e cristãos.

Ryuho Okawa, fundador e mestre da linhagem Ciência da Felicidade, uma espécie de Budismo Mediúnico, afirma em um de seus vários livros que Nichiren errou ao condenar as linhagens Zen e Terra Pura, mas que hoje, nas esferas celestiais, onde vive, é um Espírito de Luz e já se arrependeu do que escreveu na Idade Média. Logo, os praticantes hoje, devem também perdoar o Mestre Nichiren pela imprudência nas críticas. Veja o site em inglês (há link em português): www.kofuku-no-kagaku.or.jp.

Contudo, é bom frisar, que a Soka Gakkai tem até um partido político no Japão, ou seja, aproximaram política partidária com Nichiren, o subversivo de sua época. Contou-me um praticante da SGI – Soka Gakkai International que a intransigência de sua linhagem era em função da estreita ligação com a ex-radical Nichiren Shoshu, mas que, desde 2001, estão devidamente separadas, autônomas e independentes e que a Soka está cada vez mais light.

Assim seja!

Marcadores: , , , , , , , , ,


quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

 

Resposta de Paulo Stekel a Fernando Ramalho e a Ademar Gevaerd, da Revista UFO, sobre os falsos círculos de Ipuaçu



Assim que publicamos o artigo “Os falsos círculos de Ipuaçu” na edição de dezembro (nº 26) da Revista Horizonte - Leitura Holística, recebemos dois emails: um de Fernando Ramalho, conselheiro da Equipe UFO, e outro de Ademar Gevaerd, editor da Revista UFO. Ambos parecem bastante indignados por termos contestado, como muitos outros, a veracidade daqueles círculos toscos em Ipuaçu, SC.

Para conhecimento de todos os leitores, e por não termos nada a esconder de ninguém, reproduzimos o teor completo dos dois emails que recebemos e, logo após, nossa resposta que foi enviada a Ramalho e a Gevaerd:


Email de Fernando Ramalho:
.................................................
Quais são suas verdadeiras perspectivas holíticasr?‏
From: FAR UFO-Conselho (fernando.ramalho@ufo.com.br)
Sent: Thursday, December 11, 2008 4:36:44 AM
To: hug.horizonte@gmail.com; paulostekel@hotmail.com

Paulo Stekel, boa noite.

Não o conheço, mas recebo sua publicação há alguns meses, por indicação de uma amiga esotérica, a qual me incluiu em sua lista de destinatários sem que eu o quisesse. Mas como ela é uma pessoa holista e de boas intenções, permiti a recepção dessa revista eletrônica, sem pedir a exclusão da lista de “spams”.

A publicação é filtrada pelo meu outlook, e automaticamente levanda à caixa de “lixo eletrônico”, que raramente abro. Se as mensagens são consideradas “spams”, geralmente são sumariamente deletadas. Mas, às vezes, reviro o que está no “lixo”, para ver se não estou jogando algo de valor fora. Hoje, foi um desses dias reservados para revolver o “lixo”. Não sei se por sorte ou por azar, achei a capa da “Horizonte Holístico” interessante. Agora vejo que o último termo circunstancial se aplica mais. Então, vamos ver se o azar foi meu ou de quem assina o quadro.

Stekel, sua capa me lembrou a época em que estudei as Afro-religiões e suas influências no Brasil. Esse é um assunto que muito me interessa, por causa das inserções e semelhanças com os feitos dos “deuses astronautas”, relatados em escrituras religiosas de línguas quase mortas, assim como acontece com o yorubá, falado há mais de 3.000 anos do centro ao nordeste da África, região em que alguns pontos os Dogons habitaram. É, a Ufologia também deveria estudar a teologia. Bem, mas depois de abrir o PDF, o que me prendeu mais a atenção foi a chamada sobre os primeiros círculos ingleses brasileiros. Vasculhei e achei essa “primazia” de investigação, opiniões e afirmações na página 12, abaixo transcrita.

Bom, deixe apresentar-me, ainda que tardiamente. Meu nome é Fernando Ramalho. Considero-me um ufólogo holista, cujos objetivos e opiniões são diametralmente opostos aos que você divulga em sua matéria. Na minha visão, os seus são pressupostos e opiniões míopes, deslocadas de contexto e de visão sistêmica mais profunda dos fatos. Partes como as proferidas na matéria, do tipo: “a Ufologia anda mal das pernas”, ou “a Ufologia nunca será uma ciência reconhecida”, não fazem parte no meu vocabulário, muito menos da minha conduta. Sou conselheiro da Revista UFO, a qual deves conhecer pela sua área de atuação. Sou também da CBU, que já começou a divulgar os primeiros arquivos ufológicos do governo, fato que certamente começará a chamar a atenção dos cientistas. Espero que nenhum preconceito acometa-o, depois dessa identificação e das palavras que continuarei a proferir.

Essa Ufologia, que segundo seu julgamento “anda mal das pernas” é obra da Equipe UFO, que faz da Revista UFO a mais antiga publicação do gênero em atividade no mundo, respeitada nos quatro cantos deste planeta. Nela encontram-se pessoas que, com muito custo, perceberam a profundidade e a seriedade do assunto, passando a se dedicar ao estudo deste fenômeno inegável, a altos custos sociais, familiares e emocionais. O capitão desta “nau”, como sabes, é o renomado Ademar Gevaerd, que nada tem a ver com essa sua visão decrépita imputada a ele, e por extensão, à Ufologia brasileira. Vamos atrás das provas e as conseguimos, tendo sempre humildade, mas orgulho de falar e conjeturar sobre um assunto que conhecemos a fundo. Não ficamos sentados na frente das telas, tecendo críticas sem nenhuma base cognitivo-experimental, do tipo “fulano me falou”. Ainda mais em se tratando de certos fulanos. Grande parte destes ufólogos, aqui e fora daqui, estão carecas de saber que esta é uma tarefa hercúlea, que mas nos consome em termos financeiros, mas que nos traz grandes satisfações ao rever amigos, esclarecer aos leigos e partilhar as experiências.

Aqui não existe esse “oba-oba” de dizer que é da Equipe UFO, sem nada fazer pela Ufologia. Os que são devidamente identificados nesta categoria de trabalhadores, continuam ajudando e construindo o que somos hoje. Os que não se enquadram, depois de uma análise criteriosa e prolongada, caem fora. É certo que, entre nós, ainda existem algumas “traíras”, que são difíceis de identificá-las, já que são mais de 300 ufólogos agregados ao quadro. Mas a maioria absoluta é formada de ufólogos assumidos, das mais variadas áreas de formação científica, que vestem a camisa. Aqueles escondidos que apenas ladram na escuridão são poucos, e só ladram lá fora, de forma dissimulada. Logo serão devidamente identificados e extirpados do meio, como vários já o foram.

Assim sendo, se você, Stekel, ainda não percebeu isso, se ligue, pois os falsos ufólogos que daqui saem, podem muito bem estar entre seus fornecedores dessa efêmera conclusão sobre os primeiros “crop circles” brasileiros. Este fenômeno é mundial, logicamente não tardaria a chegar a um país de dimensões continentais, como é o Brasil. Muito provavelmente ele já deveria ter chegado aqui, mas não tínhamos evidências concretas, justamente por causa da falta de pessoas dispostas a gastar dinheiro e pesquisar tal fenômeno.

Por outro lado, analisando e concluindo sobre seu ponto de vista expresso na matéria anexa, a boa lógica nos mostra que uma simples peneirada deixa tudo muito claro. Infelizmente percebemos que seu editorial, eivado de um perceptível rancor que já se desconfia de onde vem, não segue pelas bases do bom senso e do conhecimento ufológico, ferramentas fundamentais em que uma proposta universalista deveria se basear. Senão, vejamos.

Seu julgamento, estampado pela matéria mote, em relação às afirmações do Gevaerd, foi baseado no que você sabe da experiência dele, e no que lhe disseram seus informantes “outros ufólogos”. Este seria ainda baseado no que leu das declarações do editor de UFO num jornal de SC. Pois bem, então, você deve saber qual é a experiência dele, Gevaerd, um dos poucos, aliás único a se manifestar sobre o assunto, que realmente pisou os verdadeiros “crop circles” ingleses. Percebendo as lógicas conclusões que podem vir dessas premissas, lanço um pergunta: os fatos, a credibilidade e as conclusões dos mesmos, expostos em sua matéria, devem ser depositados em sua maioria naquele editor da UFO, ou nos que você julga serem seus informantes “outros ufólogos”? Qua é a via mais correta a se seguir?

Paulo, sem querer atropelar a carroça com os cavalos, posso sinceramente afirmar que na opinião deste seu leitor por acidente, seu FELIZ 2009 deverá começar com uma drástica revisão nos seus entrevistados e “criteriosos” ufólogos, colaboradores que só “aguardam” pelos trabalhos dos outros, já que eles nunca os fizeram, nem nunca vão fazê-lo. Como holista, você deveria conhecer mais da verdadeira UFOLOGIA, antes de se basear em (essas sim) bobagens faladas por quem nem chegou perto do fenômeno, e que se considera o “tal” para falar de algo que acontece embaixo de seus bigodes, mas não se dignam a ir “in locu” investigar. Se você soubesse o que é um ufólogo, não cairia nessa armadilha. Aliás, você é de SC. Visitou algum desses círculos para dizer que todos são falsos?

Não se esqueça que holista fala de tudo, mas o bom holista, pra bem falar, tem que conhecer pelo menos um pouco de tudo. Até que você foi bem, ao falar da Umbanda e suas tendências universalistas. Mas quando entrou no “Sensacionalismo da Ufologia”... fala sério meu caro, que holismo é esse?

Meu conselho é que você se especialize num assunto e passe a falar das relações dele com o holismo. Algo do tipo “afro-espírita holista”, que homenageia os 100 anos da Umbanda falando do seu sincretismo com o catolicismo, candomblismo e outros “insmos”, mas pense bem antes de falar sobre Ufologia. Vai pegar muito melhor do que prestar este papelão de escutar e repetir para sua lista de spams galhofas como a do seu colaborador “kumara”. O pior é distribuir isso para alguns que entendem do assunto. Dessa forma, sua revista holística continuará a ir para o nosso “lixo eletrônico”, mas agora, para aquele que não tem direito a ser revolvido.

[ ]’s

F.A.R.

Email de Ademar Gevaerd:
.......................................................

Fw: [Equipe UFO] ENC: Quais são suas verdadeiras perspectivas holíticasr?‏
From: A. J. Gevaerd (Revista UFO) (aj@gevaerd.com)
Sent: Thursday, December 11, 2008 11:37:14 AM
To: hug.horizonte@gmail.com; paulostekel@hotmail.com
Cc: Equipe_UFO@yahoogrupos.com.br


Olhe Paulo, há muito tempo que eu deleto automaticamente suas mensagens, como fiz com a última, que conteve seu artigo sobre Ipuaçu. Faço isso não por não gostar do assunto, mas pelo tamanho dos e-mails, que, como já te adverti, de forma construtiva, atrapalham o recebimento por muita gente. Não é meu caso, tenho 6 Mb de banda larga, mas o de muita gente. Interessante: eu quis que sua mensagem fosse lida por um maior número de pessoas, daí a sugestão.

Bem, agora fui surpreendido por isso que vc escreveu. Sabe o que é mais curioso em tudo o que vc disse? É que se eu erro por dizer que os círculos são legítimos, sem ter bases para isso, segundo vc, vc erra igualmente por dizer que são falsos, porque tb não tem bases para isso. Não é lógico? Ou seja, tanto vc quanto eu não teríamos, em tese, elementos para julgar A ou B. Mas o que nos coloca em lados opostos é que, ao contrário de vc e dos "ufólogos" citados (um deles afirma vir de Vênus: http://www.vigilia.com.br/sessao.php?categ=0&id=398), EU FUI AO LOCAL E EXAMINEI OS FATOS. Vc não, seus citados não. Este é teu jornalismo?

Vc não acha no mínimo espantoso que critique meu trabalho -- cujo resultado sairá na edição de janeiro da UFO -- sem ter sequer feito outro, seja melhor ou pior, para fundamentar suas opiniões? E também não é muito estranho que use citações de terceiros para apoiar suas opiniões, sendo que eles -- pelo menos um reside no mesmo estado dos círculos -- também não tenham ido ao local para atestarem os fatos? Que espécie de holista é vc?

Diga pra mim, numa boa: vc conhece alguém em sua vida que tenha publicado no Brasil o único livro sobre os círculos, que seja um dos poucos ufólogos brasieliros a ter estado nos trigais ingleses e de outros países, e que tenha lançado não apenas um, mas 3 títulos hj em DVD sobre o tema? E mais: vc experimentou, como eu fiz, enviar um relatório pormenorizado dos fatos de Ipuaçu para os grandes conhecedores mundiais de círculos, junto de fotos em alta resolução e detalhadas, gente como Nancy Talbot, Peter Sorenson, Colin Andrews, Mark Fusssel, Busty Taylor (consulte quem são)? E sabe o que eles me disseram? Leia meu artigo...

Lamento muito ter que, hoje, uns 10 anos após ficar sem entender porque o Hernán Mostajo te escurraçou naquela noite em Santa Maria, para minha tristeza, que vc é exatamente tudo aquilo que ele disse que era, e que me viu repreendê-lo por fazer o que fez, em seguida a vc sair do encontro. O Hernán estava certo a seu respeito, e a julgar por seu texto, vc é realmente um mal-caráter. Sorte minhaa o dia em que me vi ocupado demais para responder à sua entrevista.

Elimine meus e-mails de sua lista de remessa. Se antes os boletins eram deletados por tamanho, hj serão por motivos de higiene.

Gevaerd

.......................................................

Resposta de Paulo Stekel a Fernando Ramalho e a Ademar Gevaerd:

Inicialmente dirigindo-me a Fernando Ramalho:

Prezado Fernando,

Também não o conheço. Quanto a seus motivos para continuar recebendo a revista digital “Horizonte – Leitura Holística” em arquivo PDF por causa de uma amiga que é “uma pessoa holista e de boas intenções”, isso não me diz respeito. Todos da revista queremos que apenas pessoas realmente interessadas em nossa publicação a continuem recebendo. Não queremos fazer número em caixas de spam. Por isso mesmo nós descadastramos todos os emails que retornem por “caixa cheia” (por mais de duas vezes) ou por qualquer impedimento de envio de arquivos anexos.

O interessante é você dizer que nunca lê a revista, apesar de recebê-la, mas que agora, meio que “por acaso”, e exatamente quando publicamos matéria pertinente a seu meio, você resolveu “revirar” seu lixo e a encontrou. Diga o que quiser que acreditaremos. Mas isso é de somenos importância.

Você se considera um “ufólogo holista”, o que parece bom e adequado. Contudo, na visão de nossa revista, ser um holista (ufólogo ou não) não significa acreditar em tudo o que é propalado por aí, desde mensagens de Ashtar Sheran a absurdos como a vinda de um suposto planeta Nibiru utilizando-se de fotos fraudadas, como muito bem o comprovou Kentaro Mori, amigo nosso, em seu ótimo website “Ceticismo Aberto”, e que acaba de nos autorizar a reprodução de artigos que julguemos úteis para nossos leitores.

Só para constar: acredito em Ets, em discos voadores, em espiritualidade e muitas outras coisas, mas não sou ingênuo de engolir tudo o que chega à redação da revista todos os dias. Sou cético na maior parte das vezes, dando chance para as pessoas apresentarem suas provas.

Quando disse que “a Ufologia anda mal das pernas” sabia bem o que dizia. A Ufologia brasileira foi tomada de um comercialismo (a que chamo UFOMarketing) há muito anos, um comercialismo que aceita tudo, no afã de vender livros, revistas e Cds. Antigamente, nos bons tempos das revistas de Ufologia da “Planeta”, havia mais ideologia e seriedade. Agora, o que mais se vê, são fraudes e enganos de todos os lados. Como perceber o real no meio de tanta falcatrua tentando sobressair-se? Não julgue nossos leitores como sendo pessoas ignorantes, iludidas ou sem opinião própria.

Ao afirmar que “a Ufologia nunca será uma ciência reconhecida”, quero dizer que, se o que ela se propõe é a estudar “objetos voadores não-identificados”, quando os identificar, deixa de ser Ufologia e passa a ser qualquer outra coisa. Teorizando, se um dia, e o creio, fizermos um contato final com seres de outros planetas que parecem estar a nos visitar há milênios, a Ufologia deixará de fazer sentido e será substituída por uma – aí sim – ciência para estudar estes seres recém contatados. Para mim, assim como para muitos, a Ufologia é (como diria o saudoso Moacir Uchôa) um “campo de investigação científica” provisório, mas não uma ciência de bases firmes. Então, não é ciência. Mas isso também não depõe contra ela. Nem invalida as pesquisas. Agora, pesquisa séria é uma coisa. Fazer afirmações do tipo “nenhum ser humano conseguiria fazer isso” quando se trata de simples círculos amassados em plantações, é uma afronta a todos nós, seres humanos.

“Essa Ufologia, que segundo seu julgamento “anda mal das pernas” é obra da Equipe UFO...” Essa sua afirmação não parece um tanto pedante? Mais antigo é o trabalho pioneiro iniciado pela “Revista Planeta”, desde a década de 1970. Foi ali que conheci a Ufologia, através de artigos dos mais renomados pesquisadores nacionais e internacionais. Não tiro os méritos da “Revista UFO”, mas gostaria de dar uma fatia de bolo a cada responsável por sua feitura. A Ufologia brasileira não se resume à “Planeta” e à “Revista (e Equipe) UFO”. Diga o contrário e lhe choverão emails de pesquisadores sérios e indignados por terem sido desconsiderados.

“Não ficamos sentados na frente das telas, tecendo críticas sem nenhuma base cognitivo-experimental...” Ótimo, então temos algo em comum e podemos nos entender, pois igualmente não sou assim. Mas também não sou ingênuo, nem de todo crédulo, nem de todo cético – prefiro o caminho do meio: um terço de crédito e dois terços de ceticismo. Por que? Porque devemos agir assim em qualquer situação que saia fora do comum. É a única forma que temos de chegar a alguma resposta satisfatória. Afinal, se um fenômeno vem nos forçar a sair de nossa visão comum de mundo, o que é um risco, o mínimo que devemos exigir é que as provas sejam tão contundentes quanto a mudança que a realidade do fenômeno requer em nossas vidas. Não parece justo e saudável? Qualquer psicólogo, e mais ainda, qualquer psiquiatra concordaria comigo.

Já que você diz que a Equipe UFO é formada por “mais de 300 ufólogos agregados ao quadro” e que “a maioria absoluta é formada de ufólogos assumidos, das mais variadas áreas de formação científica”, muito me admira que todos (ao que parece) tenham aceitado a avaliação feita por Gevaerd sem qualquer questionamento. Será que ninguém viu ali simples círculos que nossa tecnologia do século XXI (nem precisa tanto!) consegue reproduzir? Não há nada de extraordinário neles! Isso deixa estes 300 pesquisadores em maus lençóis perante a mídia e à opinião pública...

“Este fenômeno é mundial, logicamente não tardaria a chegar a um país de dimensões continentais, como é o Brasil.” Será? Só concordarei se surgirem círculos realmente sofisticados. Até agora, só fraudes. Por que digo “fraude”? Que outro qualificativo se poderia usar num caso desses? Simples brincadeira? Não, os irresponsáveis que fizeram os círculos queriam mais que isso. E a Equipe UFO comprou a idéia e se comprometeu em defender algo duvidoso. Não sou eu, ao dizer que os círculos são humanos, que tenho que provar isso. Afinal, esse é o status vigente: se não é natural, é humano! O Direito está do meu lado. Quem discorda do status é que deve provar a origem “extraterrestre” dos círculos de Ipuaçu, o que seria um serviço realmente louvável da Equipe UFO para toda a humanidade.

“...os fatos, a credibilidade e as conclusões dos mesmos, expostos em sua matéria, devem ser depositados em sua maioria naquele editor da UFO, ou nos que você julga serem seus informantes “outros ufólogos”?” Como assim “outros ufólogos”? Por que o medo de dar nomes? Refere-se a Eustáquio Patounas? Só para constar: não foi Eustáquio o autor da idéia do artigo. A idéia foi minha, a partir do que vi na imprensa de todo o país. Percebi, navegando pela Internet, que não apenas o Eustáquio contestava Gevaerd, mas também Kentaro Mori (“Ceticismo Aberto”) e Everton Spolaor (“Sombras da Realidade”), entre outros. A todos estes pertencem a credibilidade e as conclusões! Este último, por sinal, foi tão ofendido por Gevaerd, que resolveu publicar no seu website as mensagens ofensivas que o renomado editor da Revista UFO lhe enviou (coisas do tipo “você é um boçal”, “completo tolo”, “arrogante e ignorante”, etc.). Não me demorarei nisso, pois está lá para todos lerem. Me considero lisonjeado por não ter recebido um email de Gevaerd tão inadequado para menores de idade quanto o que recebeu Spolaor.

“Como holista, você deveria conhecer mais da verdadeira UFOLOGIA...” Já sei o suficiente da verdadeira Ufologia para entender o que é uma anti-Ufologia, que, na pretensão de chegar na frente, passa por vexames e expõe todos os pesquisadores sérios ao ridículo! Quero, sim, que tudo aquilo no qual acredito seja verdadeiro, mas não às expensas da lógica, do bom senso e da imperiosa necessidade de provas incontestáveis. Se não for possível assim, que se fique apenas no terreno da crença. Para mim, tudo bem! Afinal, quem poderia provar incontestavelmente a existência de Deus ou então, que o Buda de fato se iluminou? Ninguém! Mas a crença é válida, com certeza.

“Aliás, você é de SC. Visitou algum desses círculos para dizer que todos são falsos?” Não, não sou de SC, mas do RS. Sempre deixei isso claro. Não visitei os círculos porque não há nada de extraordinário neles. Não sou cego. Vi as fotos, os vídeos e li as matérias. Não há nada “não-humano” ali. Eu e muitos outros pesquisadores por aí pensam assim. É só visitar as comunidades de Ufologia nas redes sociais para comprovar o que digo.

“Mas quando entrou no “Sensacionalismo da Ufologia”... fala sério meu caro, que holismo é esse?” Não é sensacionalismo? Então, o que é? Você confunde “holismo” com aceitar tudo goela abaixo sem questionar? Desculpe, não sei como é na Equipe UFO, mas aqui quem manda é a lógica e o espírito crítico e livre de todos os nossos leitores e colaboradores. Aqui temos ponto e contraponto. Se o Gevaerd quiser enviar um artigo justificando sua crença na feitura “não-humana” dos círculos, o publicaremos com o maior prazer, apesar da tensão da discordância reinante no momento. Estamos sempre abertos a debates em nossa revista, mas não a chacrinhas ou ofensas pessoais e palavras inadequadas às crianças...

“...pense bem antes de falar sobre Ufologia. Vai pegar muito melhor do que prestar este papelão de escutar e repetir para sua lista de spams galhofas como a do seu colaborador “kumara”.” Primeiro, a Revista Horizonte não é spam. Para comprovar, basta ler o que vai no final da mensagem-padrão que todos os leitores recebem junto com a revista. Nossa mala direta só possui emails de pessoas que desejam recebê-la, podendo as mesmas pedir exclusão a qualquer momento. Não nos interessa distribuir a revista a quem não a deseja. Segundo, Eustáquio Patounas, a quem você chama de “colaborador kumara” não é nosso colaborador, pois nunca publicou artigo em nossa revista. Ele foi, sim, entrevistado, mas isso é diferente. Eu não me embasei exclusivamente no que ele me repassou. Pelo contrário, minha fonte é tudo o que está na mídia. Não me envolva nas questões pessoais entre Eustáquio e Gevaerd. Não é tarefa minha dizer quem tem razão, mas dos juízes que estão cuidando disso.

Fraternalmente,

Paulo Stekel
(editor)

Dirigindo-me agora a Ademar Gevaerd:

Prezado Gevaerd,

Quanto a sua sugestão sobre o tamanho dos arquivos da Revista Horizonte – Leitura Holística, agradecemos muito sua preocupação. Mas hoje, os nossos leitores jám conseguem visualizar nossa revista sem problemas. Isso ocorre porque só temos gente interessada no que publicamos, pessoas que pacientemente baixam nossos arquivos e apreciam o que escrevemos. A lentidão da Internet brasileira, uma infocarroça patética, aos poucos vai sendo vencida. Até o website da Revista UFO, antes muito pesado, agora se mostra mais rápido quando se usa novos navegadores disponíveis.

Você escreveu: “É que se eu erro por dizer que os círculos são legítimos, sem ter bases para isso, segundo vc, vc erra igualmente por dizer que são falsos, porque tb não tem bases para isso. Não é lógico?” Sim, é lógico, mas... como podemos estar ambos errados numa questão aristotélica tão simples: os círculos são legitimamente humanos ou “não-humanos”? (Concordamos que não são naturais!) Como poderiam ser as duas coisas, ou então, nenhuma? Nem precisamos chamar um consultor em lógica, não é mesmo? Para mim, eles não têm nada de extraordinário e pronto! É a lógica. Quem afirme que eles são extraordinários, “não-humanos”, etc., é que tem a necessidade da prova. Não se prova o “normal”, mas o “anormal”. Também não precisamos chamar um consultor em lógica do Direito para confirmar isso, não é mesmo?

“Mas o que nos coloca em lados opostos é que, ao contrário de vc e dos "ufólogos" citados (um deles afirma vir de Vênus: (...), EU FUI AO LOCAL E EXAMINEI OS FATOS. Vc não, seus citados não. Este é teu jornalismo?” Como já respondi ao seu conselheiro Fernando: “Não visitei os círculos porque não há nada de extraordinário neles. Não sou cego. Vi as fotos, os vídeos e li as matérias. Não há nada “não-humano” ali. Eu e muitos outros pesquisadores por aí pensam assim. É só visitar as comunidades de Ufologia nas redes sociais para comprovar o que digo.” Portanto, não leve tudo para cima do Eustáquio. A divergência de vocês não conheço em pormenores porque não me interessa, mesmo porque não sou porta-voz nem defensor de nenhum dos dois. Tenho mais o que fazer, como atender os leitores, por exemplo. Ademais, o Eustáquio já reconheceu publicamente que aquelas afirmações de ser “kumara”, de vir de Vênus e outras coisas eram sua verdade antes. Agora ele diz que tudo aquilo é ficção. Se ele mesmo é quem está dizendo isso, e o afirmou na entrevista que concedeu à Revista Horizonte em fevereiro de 2007, bem como em seu próprio programa de televisão, o que mais posso dizer? Louvável é a atitude dele de reconhecer publicamente que acreditou um dia em coisas equivocadas e passar agora a alertar as pessoas sobre o perigo deste tipo de coisa. Que bom que outros seguissem o mesmo caminho do bom senso... Este tipo de atitude, sim, tem a ver com o “meu” jornalismo, um jornalismo holístico, crítico, aberto, mas não cego!

“vc conhece alguém em sua vida que tenha publicado no Brasil o único livro sobre os círculos, que seja um dos poucos ufólogos brasieliros a ter estado nos trigais ingleses e de outros países, e que tenha lançado não apenas um, mas 3 títulos hj em DVD sobre o tema? E mais: vc experimentou, como eu fiz, enviar um relatório pormenorizado dos fatos de Ipuaçu para os grandes conhecedores mundiais de círculos, junto de fotos em alta resolução e detalhadas, (...)? E sabe o que eles me disseram? Leia meu artigo...” Se eles TAMBÉM não estiveram lá, mas você aceita a avaliação deles à distância, como pode me enquadrar nessa lógica simplista? Se você estudou tanto assim os círculos ingleses, e acredito nisso, muito me admira suas conclusões no caso dos círculos toscos de Ipuaçu! Não julgue todos aqueles que o contestam como “boçais” (coitado do Everton Spolaor, um Engenheiro Mecânico gaúcho prestes a ter MBA em Logística de Exportação).

A inteligência crítica das pessoas merece respeito. Respeito seus méritos pelos serviços prestados à Ufologia desde a grande onda de avistamentos de 1982, quando li suas declarações à “Revista Planeta”. Mas não espere de mim um “prevaricador” da causa ufológica. A crítica é salutar quando baseada no respeito. Não se pode fazer algo “tornar-se” real porque o queremos. Muito menos se pode chegar a isso através do silenciamento das discordâncias, seja de forma sutil, direta, com ameaças de agressão física ou seja lá o que for. Quem age assim, perde a pouca razão que tem. Isso é apenas uma exemplificação, claro. Não é o nosso caso. Sempre nos respeitamos e, apesar de nossas atuais divergências, sei que continuará sendo assim, não é mesmo? Afinal, ambos somos editores, passamos dos trinta, e não ficaria bem rolarmos no chão como menininhos brigando por um pirulito sem gosto, não acha?

“Lamento muito ter que, hoje, uns 10 anos após ficar sem entender porque o Hernán Mostajo te escurraçou naquela noite em Santa Maria, para minha tristeza, que vc é exatamente tudo aquilo que ele disse que era, e que me viu repreendê-lo por fazer o que fez, em seguida a vc sair do encontro. O Hernán estava certo a seu respeito, e a julgar por seu texto, vc é realmente um mal-caráter.” Muito infeliz sua colocação! Como você mesmo diz, saiu sem entender o que ocorreu. Como eram divergências pessoais da época, não vou detalhá-las aqui, pois não acrescentam nada nem para mim, nem para o Mostajo. Aparamos todas as arestas pouco depois dos fatos e nunca mais tivemos qualquer desentendimento. Hoje temos vários amigos em comum e não há qualquer intriga. Agora, Mostajo é o bem-sucedido (assim vejo) diretor do único Museu Ufológico existente (Itaara- RS) e eu o editor da Revista Horizonte – Leitura Holística (Cachoeirinha - RS). Seria até capaz de publicar uma matéria sobre o tal Museu se ele se dispusesse a enviá-la para mim. Acredito que vocês continuam amigos, não é?

Em tempo: apenas corrigindo dois equívocos seus. O correto é “escorraçar” e não “escurraçar”. O termo se refere a expulsar alguém a murros e pontapés, o que não foi o caso. O embate que você citou, que contou com várias testemunhas, inclusive Eustáquio Patounas, entre outras cinco ou seis, não passou do nível verbal. Eu e o Mostajo não temos o hábito de sair batendo em ninguém por aí por divergências de opinião. Somos adultos o suficiente para isso.

O outro termo é “mal-caráter”. O correto é “mau-caráter”. Contudo, uma pessoa “mau-caráter”, segundo o dicionário, é aquela que não tem princípios morais. Decididamente não é o meu caso, e pediria que você retirasse essa ofensa que fere minha dignidade moral. Posso lhe apresentar quantas pessoas quiser que seguramente atestariam (inclusive em juízo) que não sou um “mau-caráter”, embora não precise chegar a isso porque eu é quem estou sendo ofendido.

“Sorte minha o dia em que me vi ocupado demais para responder à sua entrevista.” Pois é. A entrevista “encantada” que você nunca respondeu... Alguns leitores a haviam solicitado e, por isso, o contatei. Mas agora vejo que a sorte não foi só sua...

Quanto às remessas da revista, fique tranqüilo. Assim que lhe enviar esta mensagem, o descadastrarei de nossa mala direta.

Finalizando, reitero minha opinião de que os círculos de Ipuaçu são uma fraude. Deveriam mesmo ser caso de polícia, ou seja, os seus autores deveriam ser procurados pela lei e responsabilizados. O difícil seria enquadrá-los. Rsrs. Como ficaria? Crime de falsidade ideológica por se passarem por Ets?

No mais, espero que possamos manter a razão, a cordialidade e o livre direito à expressão de nossas opiniões, por mais que sejam divergentes. Afinal, vivemos num país livre e somos donos de nossa própria inteligência, o que pode ser uma dádiva... ou um fardo.

Fraternalmente,

Paulo Stekel
(editor)

Marcadores: , , ,


terça-feira, 9 de dezembro de 2008

 

Os falsos círculos de Ipuaçu - Sensacionalismo não é Ufologia!

Paulo Stekel



A Ufologia anda mal das pernas... O que nos faz pensar assim são os fatos mais recentes, entre tantas bobagens, fraudes, sensacionalismos e aproveitamentos comerciais do assunto a que já estamos acostumados.

O fato mais novo foi noticiado em novembro na imprensa de todo o país: supostos círculos simétricos em plantações de trigo na cidade de Ipuaçu, oeste de Santa Catarina, que tem apenas 3 mil habitantes e está a 511Km de Florianópolis.

Com cerca de 300 m², os círculos têm 19 m de diâmetro e foram encontrados em duas propriedades localizadas na comunidade rural de Toldo Velho. São círculos toscos, em nada lembrando a sofisticação dos famosos “crop circles” ingleses, bastante conhecidos dos aficcionados em Ufologia. Mesmo assim, um pesquisador deslocou-se para Ipuaçu para analisá-los: Ademar Gevaerd, editor da Revista UFO, que atualmente reside em Curitiba (PR).

No dia 13 de novembro, Gevaerd afirmou o seguinte para o Diário Catarinense, logo após ter visto os círculos, mas ainda sem ter providenciado qualquer análise criteriosa (uso de bússola, avaliação de possível radiação, estado das sementes, solo, etc.): "isso não foi feito por pessoas (...), se trata de uma ação de seres extraterrestres (...). Estes desenhos foram feitos por seres muito inteligentes (...), houve ação de forças que não são deste planeta. (...) Acredito que esses dois círculos possam ser apenas o início de algumas mensagens que um tipo de inteligência extraterrena queira nos passar." [veja o vídeo postado no YouTube:



[Neste vídeo, Eustáquio Patounas e Beth Farias apresentam suas opiniões criteriosas acerca dos fatos.]

http://www.youtube.com/watch?v=0winepWoH8o&feature=related ]

Gevaerd afirmou categoricamente que os círculos de Ipuaçu assemelham-se aos encontrados no Reino Unido a décadas, bem como em países como Áustria e República Tcheca. Afirmação precipitada e arriscada, com certeza... Ainda mais vindo de alguém que diz já ter analisado os agroglifos europeus, devendo, portanto, conhecer bem a diferença entre fraude e algo realmente inexplicável.

Além disso, só depois desta afirmação sem indícios em seu favor é que pessoas relataram ter visto luzes no período em que os círculos apareceram. Se o imaginário popular já é fértil, imaginem quando favorecido por afirmações ainda mais férteis feitas por gente que se considera qualificada... Por isso sempre dizemos que a Ufologia nunca será uma ciência reconhecida.

Poucos dias depois, apareceu um terceiro círculo em Ipuaçu, mas este Gevaerd não viu pessoalmente, apenas por fotos. Desta vez, afirmou que é cedo para saber o que aquilo realmente é. Poderia ser uma fraude muito bem feita ou então “uma terceira mensagem de fato”. Que terceira mensagem? As duas primeiras não valem! São toscas e, claramente, uma fraude. Mas Gevaerd duvida do terceiro círculo por ser menor (6 metros de diâmetro) e menos complexo que os dois primeiros. Ele acredita na teoria do aumento da complexidade e tamanho dos círculos à medida que vão surgindo e não em sua redução. Seu entusiasmo, mais que precipitado, parece que começou a furar de vez. Como ele previa, novos círculos começaram a surgir, mas mais toscos ainda. Mais um indício de que tudo não passa de brincadeira de desocupados.

Para finalizar o imbróglio, alguns dias depois, mais círculos fraudulentos foram encontrados em Xanxerê, Oeste de Santa Catarina. Desta vez, Gevaerd afirmou que eram uma “fraude deslavada” que não tinha a perfeição e inteligência dos primeiros encontrados em Ipuaçu. Até cordas foram encontradas no local. Se aqui os fraudadores foram mais descuidados, é motivo para crermos na legitimidade dos dois primeiros?

Outros ufólogos, como Beth Farias e Eustáquio Patounas (que foi entrevistado em fevereiro de 2007, na edição nº 04 de Horizonte – Leitura Holística), foram bem mais criteriosos, e preferiram aguardar análises precisas. Eustáquio, que mora em Florianópolis e apresenta o programa “Vida Inteligente” (http://www.vidainteligente.blogspot.com), na TV Floripa, em comunicação pessoal, fez-nos os seguintes comentários sobre o ocorrido:

“Pesquisar é bom, ir ao local é bom, buscar testemunhas é bom. Não criticamos a pesquisa e sim as precipitadas e interesseiras conclusões sem fundamento algum. Isso não é e jamais será Ufologia séria. Isso apenas denigre a Ufologia e quem a pesquisa. Se eu estiver errado, estou aberto às críticas. Não fui ao local nem vou, primeiramente por não ser nada fabuloso dois círculos comuns. Mas gostaria de saber se foi medida radiação no local. Celular funciona no local? A bússola reage? Se foi colhido material, para onde será enviado para análise? Vamos aguardar. Na minha opinião, ao contrário da do "ufólogo" precipitado, é a de que em breve aparecerão os autores dos círculos e nos ridicularizarão a todos mostrando como fizeram a brincadeira. Até prova em contrário, os círculos são ação humana, de gente da região e que conseguiu chamar a atenção da mídia e de gente despreparada. Os brincalhões que fizeram os círculos em Ipuaçu (cidade que eu desconhecia apesar de morar no Estado há 20 anos), criaram-nos não sei com qual propósito, talvez como eu disse em rede nacional e internacional (Record News), quem sabe para promover a região, o município ou para ridicularizar "ufólogos" ávidos por casuística... Santa Catarina tem gente séria, é um Estado sério e tem pesquisadores sérios.”

(Assista o vídeo: O Circo e os Círculos – trechos do programa Vida Inteligente (TV Floripa – SC):



[Em seu programa, Eustáquio Patounas diz o que pensa sobre os círculos de Ipuaçu.]

http://blip.tv/file/1543967?filename=Ceticismoaberto-OCircoEOsCrculos376.flv )

Grandes palavras de alguém que sabe reconhecer erros, mudar seu pensamento quando ele não se revela viável e que tem a sinceridade e a honestidade de caráter que nós mesmos comprovamos há muitos anos atrás.

Não podemos esquecer que até a internet ensina como montar círculos esplêndidos em lavouras de cereais. Eles só aparecem em lavouras de grãos como trigo porque assim podem ser amassados com tábuas. Ou seja, produto de “mentes inteligentes”, mas não de outro mundo...

Da mesma forma, a quantidade de vídeos fraudulentos de UFOs que são postados a cada dia na Internet é impressionante. Se os ufólogos não se atualizarem e ficarem fazendo afirmações precipitadas como as que vimos neste caso de Ipuaçu, o futuro da pesquisa ufológica será muito jocoso, temos certeza.

Nós mesmos, ficamos distantes da pesquisa ufológica por vários anos por conta de pesquisadores que se consideravam o summum bonum do conhecimento, mas estavam apenas querendo fama, dinheiro e holofotes. Hoje temos nosso próprio pensamento, como dissemos ao próprio Eustáquio, um pensamento mais ao estilo “ceticismo aberto”, com a permissão do Kentaro (rsrs). Acreditamos em Ets, em UFOs, mas analisamos cada caso segundo suas peculiaridades antes de fazer qualquer afirmação que depois tenhamos que engolir em seco diante de provas irrefutáveis de fraude mal-intencionada.

Marcadores: , , , , ,


 

Umbanda – uma religião brasileira e universalista comemora seu primeiro centenário

Paulo Stekel



Introdução

Quem nunca foi a uma sessão de Umbanda? Ainda que nem todos confessem, a maioria dos brasileiros já participou de uma “gira”. A Umbanda é uma religião gestada dentro da rica cultura religiosa brasileira que sincretiza elementos de outros cultos, como a religião católica, o espiritismo e as Religiões afro-brasileiras (candomblé, etc.). Em algumas linhas pode-se encontrar mesmo elementos da Cabala hebraica e da filosofia oriental.

No dia 15 de novembro último foi comemorado o Centenário da Umbanda. Cem anos se passaram desde a primeira manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas em Zélio Ferdinando de Moraes, segundo afirmam os próprios umbandistas. Todos os centros e federações umbandistas comemoraram a data relembrando as dificuldades do início, o preconceito e as conquistas, como o reconhecimento da Umbanda como religião pelo estado brasileiro, depois de décadas de perseguição e humilhação.

Este artigo é nossa homenagem aos praticantes desta que é a única religião legitimamente brasileira, uma religião pouco compreendida por quem não a conhece, muito atacada por grupos religiosos de fundamentação cristã e pouco valorizada nos meios espiritualistas considerados “universalistas”. Isso é uma contradição, pois a Umbanda é visivelmente universalista, como se verá.

A Umbanda possui três princípios morais: fraternidade, caridade e respeito ao próximo. O respeito às demais religiões é outra característica marcante da Umbanda. Há uma evidente universalidade em seus cultos, o que está afim com a proposta espiritual deste milênio.

Para os umbandistas, o Deus supremo é chamado Zambi, o criador de tudo, mas também cultuam divindades denominadas Orixás e realizam trabalhos mediúnicos com espíritos chamados Guias, os responsáveis por sua orientação espiritual e doutrinária, por causa de sua sabedoria e consciência da natureza humana.

Os guias se apresentam sob diversos arquétipos através de um processo mediúnico geralmente chamado de “incorporação”. Cada arquétipo está ligado a uma determinada Linha Espiritual, como: Pretos-velhos, Caboclos, Baianos, Boiadeiros, Crianças, Exus, Pomba-giras, etc. Há uma crença cada vez mais difundida de que estes arquétipos são simplesmente roupagens utilizadas pelos guias para se apresentarem nos terreiros e não espíritos que, necessariamente, tenham sido escravos, índios ou crianças. Na verdade, cada terreiro tem a sua forma particular de interpretar e manifestar a Umbanda, e isso ocorre exatamente pela natureza liberal do culto, bem como o fato do direcionamento dos trabalhos ser definido pelos guias, quando estes se manifestam. Assim, o mundo espiritual é que define o culto, e não um corpo sacerdotal externo. Assim, os ritos diferem de terreiro para terreiro: alguns utilizam atabaques, outros não; alguns exigem dos guias uma manifestação bem estereotipada, outros suavizam esta manifestação; alguns usam bebidas alcoólicas em certa quantidade, outros as aboliram e usam apenas perfumes; etc. Contudo, alguns pontos pacíficos do ritual são os pontos cantados, a defumação (queima de ervas e essências, para a limpeza geral), a incorporação e o passe mediúnico.

A (controversa) origem

A Umbanda tem origens controversas. Sua história não está completamente preservada. Um dos motivos é o fato de ser um culto praticista que durante muito tempo privilegiu pouco a leitura e a escrita entre seus adeptos. Assim, os registros escritos surgiram tardiamente.

Contudo, o que se pode dizer é que na época das festas nas senzalas os escravos negros cultuavam os Orixás sincretizando-os com santos católicos que guardavam semelhanças com os deuses africanos, seja nas características, seja na iconografia. Nessas festas eles incorporavam os Orixás, mas com o tempo passaram a incorporar os espíritos de seus ancestrais (Pretos-Velhos, antigos "Pais e Mães de Senzala", escravos mais velhos e conselheiros conhecedores das antigas artes religiosas africanas), que vinham para trazer ajuda espiritual e alívio aos que estavam no cativeiro. Apesar da resistência de alguns, que consideravam os Pretos-Velhos como Eguns (espírito de mortos não cultuados no candomblé por serem considerados perigosos), outros começaram a admirá-los e a devotar-se ao trabalho com eles como seus guias.

No período da Lei Áurea, apareceram as primeiras tendas, posteriormente terreiros, onde os Preto-Velhos podiam se manifestar. Em alguns Candomblés começaram a incorporar também Caboclos (índios brasileiros como Pajés e Caciques), que são a origem do Candomblé de Caboclo (norte e nordeste do Brasil). Os primeiros registros da incorporação de guias no Candomblé de Caboclo são de 1865, quando surgiram entidades como Caboclos, Boiadeiros, Marinheiros, Crianças e Pretos-velhos. Desde aquela época, quando estes guias chegavam em centros espíritas, eram expulsos, por serem consideraodos espíritos involuídos ou obsessores.

No século XX, surgiu o termo “Umbanda”, referindo-se a um novo culto, uma mescla de cristianismo, espiritismo e africanismo. Mas a mais antiga referência registrada ao termo é de Heli Chaterlain, em Contos Populares de Angola (1889), onde aparece a palavra Umbanda como significando: curador, magia que cura, sinônimo de Kimbanda.

Contudo, há correntes mais “esotéricas” na Umbanda que elaboraram explicações sofisticadas e por vezes improváveis para o termo. Uma delas diz que a origem do vocábulo Umbanda viria da raiz sânscrita Aum (o mantra Om) que significa a sílaba sagrada (a trindade em um), com a palavra sânscrita Bandha, que significa laço, ligadura, sujeição, escravidão (a vida nesta terra). Assim, Umbanda seria a junção de Aum e Bandha (o elo de ligação entre os planos divino e terreno), depois de sofrer modificação fonética. Uma explicação elaborada, mas pouco provável.

A versão popularmente mais aceita sobre a origem da Umbanda, embora não possua documentação da época para corroborá-la, é a que a afirma ter sido a mesma trazida a lume pelo médium Zélio Fernandino de Moraes, de apenas 17 anos. No dia 15 de novembro de 1908, estando doente, foi levado à Federação Espírita de Niterói, onde manifestaram-se em Zélio guias que diziam ser de índio e escravo. O dirigente da Mesa pediu que se retirassem, por acreditar serem espíritos atrasados. Em contraposição, os guias deram seus nomes (Caboclo das Sete Encruzilhadas e Pai Antônio) e, não sendo aceitos no espiritismo, resolveram iniciar um novo culto, mais baseado na liberdade e igualdade, onde qualquer espírito pudesse trabalhar pelo bem dos homens.

No dia seguinte (16 de novembro), os guias começaram a atender os necessitados na residência de Zélio, de modo que logo fundaram a Tenda espírita Nossa Senhora da Piedade. A nova religião, sem preconceitos, foi chamada num primeiro momento de Alabanda, mudando depois para Umbanda.

É importante frisar que não existe uma fonte única que reflita a origem da Umbanda. Há várias vertentes. Somente na década de 1970 é que a versão que atribui a Zélio Fernandino de Moraes a função de anunciador da Umbanda atraves do Caboclo das Sete Encruzilhadas passou a ser aceita, facilitando que ela pudesse ser institucionalizada como religião. Porém, o trabalho dos guias parece ser bem anterior a Zélio.

“Umbandas”?

Zélio foi o precursor do culto umbandista voltado à caridade conhecido hoje em dia, uma forma originalmente simples de culto, mas que foi aos poucos abrindo-se à assimilação de formas já existentes vindas do Candomblé (cultos Nagôs e Bantos, que deram origem à Umbanda Omoloko, Umbanda de pretos-velhos), do Espiritismo (Umbanda Branca), da Pajelança (Umbanda de Caboclo) e mesmo do Esoterismo de autores como Papus - Cabala e Magismo, Helena Blavatsky – Teosofia e Saint-Yves d´Alveydre (Umbanda Esotérica, Umbanda Iniciática). Estas mesclas continuam ocorrendo, incorporando elementos do xamanismo norte-americano, do budismo, hinduísmo e de técnicas de cura recentes, como Reiki e outras. Deduz-se, então, que a Umbanda tem duas características importantes que devem ser consideradas em qualquer estudo crítico:

1 – É uma religião em formação. Suas bases doutrinárias e seus ritos ainda estão na fase de desenvolvimento. A Umbanda recém tem cem anos. À medida que for se expandindo para outros países, será influenciada por diversos cultos religiosos.

2 – É uma religião “universalista”, pois adere a elementos ritualísticos e filosóficos de várias outras religiões, sejam as clássicas, as localizadas ou as mais recentes.

Exatamente por causa do processo de recente de formação, da liberdade que o rege e da tendência universalista desta que é a única religião brasileira, atualmente há vários cultos com o nome de "Umbanda". Alguns estão mais próximos da raiz original, enquanto outros absorveram características de outras religiões, mas mantendo a essência original de caridade, humildade, respeito e fé.

Eis algumas dessas ramificações que chamamos de “umbandas”: Umbanda Popular (praticada antes de Zélio e conhecida como Macumba ou Candomblé de Caboclo, baseada num forte sincretismo - Santos associados a Orixás); Umbanda tradicional (a proposta pelos guias de Zélio Fernandino de Moraes); Umbanda Branca ou de Mesa (em grande parte, sem elementos africanos, nem trabalho com exus e pomba-giras, preferindo o trabalho com caboclos, pretos-velhos e crianças, além do uso de livros espíritas como doutrina); Umbanda Omolokô (trazida da África pelo Tatá Tancredo da Silva Pinto, um misto de culto aos Orixás e trabalho com Guias); Umbanda Traçada, Cruzada ou Umbandomblé (onde o mesmo sacerdote ora vira para a Umbanda, ora vira para o Candomblé – ou o Culto de Nação ou Batuque, no RS – em sessões diferenciadas); Umbanda Esotérica (segmento que intitula a Umbanda como Aumbhandan, "conjunto de leis divinas"); Umbanda Iniciática (derivada da Umbanda Esotérica através de Rivas Neto, busca alcançar o Ombhandhum, o Ponto de Convergência e Síntese, com influência Oriental e uso do sânscrito e mantras indianos); Umbanda de Caboclo (influenciada pela cultura indígena, trabalha com guias conhecidos como "Caboclos").

Uma literatura recente, mas em expansão

A literatura umbandista é diversa em conteúdo e profundidade, tão divergente quanto as ramificações apresentadas acima. Há livros umbandistas a partir da década de 1930, mas a literatura mais elaborada e útil é relativamente recente (mais ou menos desde 1960), sendo a maior parte voltada para os aspectos exteriores da religião. Recentemente, entretanto, tem se intensificado uma parte racional da religião, procurando desenvolver uma filosofia e mesmo uma “teologia umbandista” de consenso.

Entre as obras clássicas da umbanda, temos: Manual dos Chefes de Terreiros e Médiuns de Umbanda (José Antônio Barbosa, 1960 – São Paulo); Evangelho de Umbanda (Academia Eclética Espiritualista Universal, 1960); A Cartilha da Umbanda (Cândido Emanuel Félix, 1972 – Ed. ECO); Os Orixás e a Lei da Umbanda (Byron Tôrres de Freitas e Wladimir Cardoso de Freitas, 1986); obras de João Edson Orphanake (mais de 20, entre elas “Conheça a Umbanda”, “A Umbanda às suas ordens” e “Preces para todos os momentos”); obras de F. Rivas Neto (entre elas, “Umbanda - A Proto-Síntese Cósmica” e “Lições Básicas de Umbanda”).

Entre os autores atuais, temos: Rubens Saraceni (um dos mais divulgados, com dezenas de livros publicados); W. W. da Matta e Silva (já falecido, autor de nove livros sobre princípios filosóficos, metafísicos e proposição de uma base ritualística); Robson Pinheiro (autor de romances psicografados como "Aruanda", "Tambores de Angola" e "Legião"); Silvio da Costa Mattos (autor dos romances umbandistas "O Arraial dos Penitentes" e "A Trajetória de Um Guardião Viking").

Quem são os Guias?

“Guias” são os espíritos (também chamados de “entidades”) que trabalham nas diversas ramificações da Umbanda. O termo também é usado entre os adeptos do Channelling (Canalização), embora com algumas diferenças. Essas entidades “incorporam” nos médiuns de umbanda para realizar seu trabalho (caridade, cura, orientação, trabalhos de contra-magia, etc.).

Na Umbanda, ao contrário do Candomblé, não se incorporam os Orixás, mas sim suas “emanações”, que se manifestam em “linhas”, embora sejam espíritos de desencarnados e até de elementais, segundo alguns. Tanto que no Candomblé o médium fica “ocupado”, enquanto que na umbanda fica “incorporado”.

Há várias “falanges” de guias, grupos que possuem as mesmas características e as mesmas roupagens. As principais são: Pretos-Velhos, Caboclos, Crianças, Boiadeiros, Marinheiros, Sereinhas, Exus/Pombas-Giras, Baianos, Ciganos, Orientais, Mineiros, Cangaceiros, etc.

Na Umbanda o sincretismo religioso com o catolicismo e os seus santos, originado do antigo Candomblé dos escravos, continua apenas por uma questão de tradição, pois agora os cultos afro-brasileiros já não são tão estranhos e desconhecidos, e nem tão perseguidos e combatidos como no passado. Fora o preconceito ignorante de grupos religiosos fanáticos que exigem para si a primazia da verdade única, as coisas hoje são bem mais amenas.

Os fundamentos

Os fundamentos da Umbanda variam bastante de casa para casa, mas alguns deles podem ser considerados ponto pacífico: a existência de uma fonte criadora universal, um Deus supremo (Olorum ou Zambi, nome iorubano e bantu da deidade máxima); uma ética baseada na fraternidade, caridade e respeito ao próximo; o culto aos Orixás como manifestações divinas; a manifestação dos Guias em seus médiuns ou "cavalos"; o mediunismo como forma de contato com o mundo espiritual, manifestado de diferentes formas; uma doutrina, uma regra, uma conduta moral e espiritual particular a cada caso, que direciona os trabalhos de cada terreiro; a crença na imortalidade da alma; a crença na reencarnação e no carma.

A Umbanda crê num Deus único e superior, que em sua benevolência e força emana de si e através dos Orixás e dos Guias seu infinito amor, para auxiliar os homens.

Na Umbanda os Orixás são energias, forças da natureza presentes em todos os lugares, subdivisões da unidade perfeita de Deus, influenciando as pessoas e irradiando energias que mantém o equilíbrio natural dos elementos no universo. Estas energias teriam a missão de organizar grupos de espíritos em progresso espiritual para auxiliar a humanidade e, assim, permitir que estes próprios espíritos se elevem na hierarquia universal. Estes espíritos, os Guias, embora não sejam perfeitos, estão sob a tutela dos Orixás. Na verdade, todos nós estaríamos, pois cada pessoa é regida por um Orixá, de modo que qualquer um, após a morte, poderá se converter em um Guia, se tiver condições espirituais para isso. Neste caso, não se manifestará com o nome que tinha em vida, como ocorre no Espiritismo, mas com um nome de linha (Ogum Beira-mar, Xangô Caô, etc.).

O culto umbandista

A Umbanda tem como lugar de culto o templo, terreiro ou Centro, onde se realizam as sessões ou “giras”. O chefe do culto no Centro é o Sacerdote ou Sacerdotisa (também Babá, Cacique, Zelador, Dirigente, Diretor(a) de culto, Mestre(a), etc.), geralmente um médium mais experiente e com maior conhecimento, por vezes, o fundador do terreiro. É um grande equívoco aplicar-se ao sacerdote de Umbanda os termos “pai-de-santo” ou “mãe-de-santo”, pois estes são oriundos do Candomblé, que é uma religião bem diferente da Umbanda.

Além do sacerdote, uma gira geralmente possui várias classes de médiuns que manifestam os Guias, os atabaqueiros ou tamboreiros que são responsáveis pela harmonia da gira, os Corimbas que comandam os cânticos e os cambones que são encarregados de atender as entidades, suprindo-as de tudo o que necessitem para a realização dos trabalhos.

Polêmicas

Entre as diversas polêmicas envolvendo a Umbanda, a maioria delas puro preconceito religioso, fanatismo e ignorância, há três que requerem atenção especial.

A primeira polêmica se refere ao sacrifício ritual de animais. Há várias ramificações na Umbanda, entretanto na umbanda legítima não se usa sacrificar animais. Esta prática está ligada a algumas linhas que ainda cultuam junto com a umbanda alguns rituais de religiões afro-brasileiras (Candomblé, Batuque, etc.). A umbanda que sacrifica animais é chamada “traçada” ou “cruzada”, e é um misto da umbanda original com cultos afro-brasileiros. Não pode, portanto, ser considerada “a umbanda”, que está mais próxima do Espiritismo que do Candomblé quanto ao uso de animais em rituais. Nós mesmos conhecemos vários umbandistas que não admitem sacrifícios ritualísticos de animais em hipótese alguma.

A segunda polêmica tem a ver com o uso de bebidas alcoólicas durante as giras de umbanda. Na verdade, há três tipos de terreiros no tocante ao uso de bebidas alcoólicas: aqueles nos quais as entidades não usam bebidas nunca; aqueles nos quais as entidades bebem normalmente durante os trabalhos; aqueles que usam bebidas em situações mais veladas e de modo bem rigoroso. O problema do uso do álcool nas giras é que as pessoas não conseguem fazer uso moderado de bebidas no seu dia-a-dia, quanto mais em situações de trabalho espiritual. Por isso, o ideal realmente é o uso moderado e assistido dos fluidos do álcool pelas entidades quando se manifestam. Assim, se evita que médiuns predispostos ao vício atraiam, ao invés de espíritos de luz, espíritos de viciados que já morreram.

A terceira polêmica envolve o fumo. Assim como o álcool, há terreiros que o utilizam e outros que nunca o utilizaram. Álcool e fumo geram fluidos que são utilizados pelos guias em seus passes e trabalhos de magia branca, mas estes elementos podem perfeitamente ser substituídos sem prejuízo aos trabalhos, da mesma forma que os sacrifícios de animais são dispensáveis.

Uma religião preparada para o futuro

A Umbanda prega a paz e o respeito ao ser humano, à natureza e a Deus. Respeita todas as manifestações de fé, independentes da religião. Por causa de suas raízes plurais, a Umbanda tem um caráter pluralista, aceitando a diversidade e valorizando sem conflitos maiores a diferença. Não há dogmas ou sequer uma liturgia universalmente adotada por todos os praticantes, permitindo mais liberdade de manifestação da crença e diversas formas de culto.

Estas características fazem da Umbanda uma religião tão ou mais preparada que muitas outras para os desafios do terceiro milênio, que exigirá dos cultos, para que sobrevivam, muita abertura, abandono de dogmas caducos e relacionamento pacífico com outras visões espirituais de mundo. Como a religião é nova, com seus cem anos recém feitos, é natural que seu desenrolar ainda pareça um tanto caótico e muito diversificado. Mas em algumas décadas isso deve se firmar em definitivo, à medida que certas formas esdrúxulas ou menos populares forem caindo no esquecimento ou sendo preteridas.

A tendência da Umbanda é se aproximar cada vez mais de uma visão ampla e universalista, sem esquecer suas bases e origens. Num mundo globalizado e com crescente influência da Internet, o acesso a novas formas de religião provavelmente afetará o desenrolar das “giras” pelo Brasil afora. Na verdade, elas já ocorrem fora do Brasil, e isso acarretará ainda mais influências. Por ser uma religião aberta e sem dirigentes máximos, esse caminho será percorrido sem limitações. Daqui a mais cem anos, provavelmente a Umbanda como a conhecemos hoje não existirá mais, e terá sido substituída por uma forma muito mais firme de culto, ainda que conserve as mesmas bases.

Marcadores: , , ,


This page is powered by Blogger. Isn't yours?