sábado, 10 de janeiro de 2009

 

Budismo de Nitiren – polêmicas e verdades

Paulo Stekel



Introdução

Como budista que somos, temos a obrigação de respeitar todas as linhagens. Como universalista, nos dispomos a respeitar todas as religiões e todas as formas de culto, das mais ortodoxas às mais alternativas e exóticas. Esse parece ser o caminho politicamente correto que muitos têm adotado nas últimas décadas. Não o vemos como inadequado. Pelo contrário, pode ser uma ótima forma de diminuir a violência global motivada ou incitada pela religião, como vemos em Gaza, Sri Lanka, Cachemira e em muitos outros lugares. Há que se abraçar mais do que litigar, dizemos nós. Mas, quem escuta o óbvio? Somente aqueles que se dispõem a praticar.

Acostumados que somos às polêmicas envolvendo as várias tendências cristãs, que permeiam nossas vidas ocidentais, raramente nos damos conta de que picuinhas e rusgas religiosas existem em praticamente todos os cultos do mundo. A coisa fica séria quando um deles pensa (e diz) que sua verdade é superior à dos demais. Nenhuma das grandes religiões escapa ou escapou em algum momento de sua História de tal tipo de afirmação disparatada. Não faz muito o Papa Bento XVI reafirmou a supremacia do Cristianismo Católico Romano sobre todos os demais e sobre as outras religiões.

Desde a época em que nos convertemos ao Budismo (o Tibetano, embora, para o Buda, só haja um Budismo: o que conduz ao Despertar), lá pelos idos de 1995, ouvimos falar de uma outra forma de prática budista, repudiada por muitos como sendo pseudobudista ou não budista: o Budismo de Nitiren. Um lama tibetano chegou mesmo a nos afirmar serem seus adeptos fanáticos proselitistas desavergonhados. Como o Budismo não é proselitista, via de regra, isso nos chocou um pouco. Durante muitos anos não soubemos (e nem nos interessamos em saber) absolutamente nada sobre Nitiren, sobre as escolas que o seguem, seja a Soka Gakkai ou outras. A Soka Gakkai, aliás, era a mais perigosa, segundo o lama que nos advertia na época... Mas ela não é uma religião... é apenas uma ONG composta de membros leigos! O que teria de errado?

Às vezes o desconhecimento é o maior aliado do medo, do preconceito e da agressão, necessariamente nesta ordem. A regra de ouro que seguimos há anos é esta: se um assunto não lhe prejudica o sono e você consegue dormir bem sem se aprofundar nele, tudo bem, esqueça. Mas se algum dia ele lhe incomodar, vá atrás e se informe, para não emitir opinião preconceituosa que venha a interferir negativamente no caminho escolhido pelos outros. Foi o que fizemos quando o assunto “Budismo de Nitiren” começou a cercar-nos, seja através de amigos, de reportagens ou de dúvidas dos leitores.

Nitiren: todos podem se iluminar!

Esta afirmação é a base do Budismo de Nitiren Daishonin, sendo também a essência do Budismo Mahayana, a maior das divisões do Budismo, caracterizada pelo espírito de benevolência e de altruísmo.

Mas o próprio Budismo Mahayana possui inúmeras divisões, a que alguns se referem incorretamente como “seitas”. Na verdade, tudo é uma coisa só: Budismo. As diferenças não alteram isso. As bases são as mesmas. Uma das mais importantes escolas mahayana da China foi fundada por Tientai (538-597), a Escola Tendai. Esta escola ensina que o Sutra de Lótus é o mais elevado de todos os sutras Mahayana e que todas as coisas, animadas e inanimadas, possuem um potencial adormecido para o Despertar Último.

O Budismo de Tientai chegou ao Japão no Séc. IX, e mais tarde, no Séc. XIII, Nitiren Daishonin estudou no centro da escola Tendai no Japão, entendendo que o Sutra de Lótus constitui a essência de todo o Budismo. Então, começou a pregar o que havia descoberto, nascendo o que hoje se chama “Budismo de Nitiren”.

Para Nitiren, tudo está sujeito a uma única lei universal. Compreendê-la é libertar-se. Nitiren Daishonin definiu esta lei universal com o mantra Nam-myoho-rengue-kyo, uma fórmula que representa o fundamento do Sutra de Lótus e é conhecida como Daimoku. Ele é inscrito num pergaminho, o Gohonzon, como lembrete dos ensinamentos sobre a lei universal aqueles que, praticando o mantra, desejam atingir a Iluminação.

Saber um pouco da vida de Nitiren é importante para se entender como as doutrinas ensinadas por ele têm sido adotadas por tanta gente no Ocidente.

Nitiren Daishonin, ao contrário de Sakyamuni, que era filho de um rei, era filho de pescadores. Como os pescadores tiravam a vida de seres para sobreviver, eram desprezados na sociedade da época. Nitiren começou a estudar Budismo aos doze anos, tendo percebido logo várias contradições entre os ensinamentos. Isso o levou a procurar uma resposta definitiva para o sofrimento humano. Depois de muito estudo e contemplação, chegou (em 1253) a suas próprias conclusões, as quais passou a apresentar sistematicamente. Em especial, declarou que os verdadeiros ensinamentos do Budismo são encontrados apenas no Sutra de Lótus, que apresenta os ensinamentos dos últimos oito anos de vida do Buda Sakyamuni. Eis o ponto de maior choque com o Budismo Mahayana como um todo... Ao expôr pela primeira vez o Nam-myoho-rengue-kyo em 1253, proclamando que a devoção e a prática do Sutra de Lótus eram a única forma correta de Budismo para a época atual, Nitiren desagradou a muitos e ofendeu a outros tantos... Mas também conquistou muitos seguidores, especialmente entre a classe dos samurais.

Primeiros anos de ensino: perseguição e fé

Nitiren foi muito controverso, e essa controvérsia persiste em muitas escolas que seguem seus ensinamentos ainda hoje. O motivo principal de controvérsia é o fato dos praticantes do “Budismo de Nitiren” acreditarem serem os únicos que seguem a forma correta de Budismo, uma convicção que vem do próprio Nitiren. Poderíamos compará-lo a um Reformador, um “lutero” budista, mas não é o caso. Ele não queria reformar as escolas. Na verdade, queria que o governo deixasse de sustentar as outras escolas budistas e que as pessoas as abandonassem, pois se convencera de que seguiam ensinamentos errados. Essa atitude pode ser encontrada na origem de muitas cisões religiosas pelo mundo, mormente as cisões cristãs...

A conseqüência óbvia da atitude de Nitiren foi a perseguição, que veio tanto das escolas budistas populares da época como do governo que as protegia. Ele mesmo declarou que era essencial que "o soberano reconheça e aceite a única forma verdadeira e correta de Budismo" e a única maneira de "atingir paz e prosperidade para a terra e seu povo e dar um fim ao sofrimento". Foi uma atitude radical, com certeza, e na contramão do que se busca atualmente no campo religioso: complementaridade e não sectarismo! Devemos aprender que não se pode contrapôr nem misturar “fés”, apenas praticar uma e respeitar (além de estudar) as demais... Isso é muito mais produtivo e pacífico.

Da mesma forma que os antigos Profetas de Israel, Nitiren atribuiu a ocorrência de fomes, doenças e desastres naturais da sua época ao fato das pessoas não seguirem a “forma verdadeira e correta de Budismo”. Isso realmente beira o proselitismo, algo que o Buda não ensinou. Por isso, Nitiren foi atacado, exilado, seqüestrado e quase assassinado...

Depois de passar por tudo isso e sobreviver, dizem seus seguidores, Nitiren teria descartado sua identidade provisória de simples sacerdote e revelou-se como a reencarnação do Bodhisattva Jogyo ou como um Buda, conforme o que aceite cada escola. Seguiram-se três anos de banimento para a ilha de Sado, onde Nitiren escreveu tratados importantes que descrevem sua doutrina.

Terminado o banimento, Nitiren exilou-se no Monte Minobu, onde montou um templo e continuou escrevendo (mais de 700 obras!), pregando e treinando discípulos até a morte, em 1282.

O efeito Nitiren

Após a sua morte, os ensinamentos de Nitiren foram interpretados de diversas maneiras por seus seguidores, o que em geral acontece com todos os líderes religisos. Por isso, o Budismo de Nitiren possui diversas linhas e escolas, sendo as mais importantes a Nitiren Shu e a Nitiren Shoshu, cada uma com suas particularidades. A maior (e mais polêmica) diferença está se a escola considera Nitiren como O Verdadeiro Buda ou O Buda Original, como é o caso da Nitiren Shoshu e da Soka Gakkai, ou se o consideram como um grande mestre, como é o caso da Nitiren Shu. Mas todas afirmam que o Sutra de Lótus é o sumum bonum do Budismo, em detrimento de todos os demais sutras, que são considerados verdades parciais. Mas, qual texto, de qualquer religião que seja, poderia conter A Verdade Total??? Como o Sutra de Lótus, ao contrário dos demais, poderia ter sido ensinado pelo Buda a partir de um ponto absoluto, se seus seguidores ainda estão imersos no relativo??? Como podem entender o absoluto, então?

Essa atitude nos parece contrária à visão do Budismo Tibetano, por exemplo, no qual não se exclui sutras ou demais textos, mas apenas se inclui. O Budismo Tibetano estuda não só seus próprios textos, mas todos os demais textos do Mahayana (em tibetano, chinês e sânscrito) e imprescindivelmente os textos em páli do Budismo Theravada conhecidos como “Tipitaka”, quase uma “bíblia páli”. Excluir todos os demais em detrimento de um único texto parece uma atitude temerária. Mas é o direito de Nitiren e de seus seguidores e o reconhecemos. Mas também podemos nos reservar o direito de pensar diferente...

Há ainda três pontos a considerar nos ensinamentos de Nitiren. Um, é a a utilização de um único mantra (o Daimoku), o Nam-myoho-rengue-kyo, que, numa tradução simples, significa "Devoto-me à lei mística do Sutra de Lótus", mas cujas sílabas desdobram-se em muitos significados. Rezar apenas este mantra conduziria ao Despertar. Isso é uma prática de fé, não de conhecimento. Mas isso também não é um problema.

O segundo ponto essencial do Budismo de Nitiren é a possibilidade de se atingir o Estado de Buda na vida atual. Ainda que seja possível, mas virtualmente difícil, o Budismo Tibetano também possui este ensinamento. Não custa tentar... Afinal, como saber até onde já chegamos na busca por sabedoria nas vidas anteriores?

O último ponto ensina, através da disseminação dos ensinamentos (chakubuku), a se buscar a paz mundial (chamada kossen-rufu). Nunca a paz mundial foi tão bem vinda! Uma prática religiosa ter a paz mundial como uma de suas bases essenciais é algo realmente louvável.

Nitiren: um Buda ou O Buda???

Em algumas escolas, Nitiren ou Nichiren (1222-1282), também chamado de Nichiren Daishonin, acabou sendo elevado à condição de Buda original da era de Mappô. Assim o consideram os membros da Nitiren Shoshu e da associação de leigos, a Soka Gakkai (representada no Brasil pela BSGI, uma ONG). Mas escolas como a Nitiren Shu consideram Nitiren como um patriarca, mas não deixam de seguir o Buda Shakyamuni.

Para a Escola Nichiren Shoshu, uma ordem monástica, conforme a predição do Buda Sakyamuni revelada no Sutra de Lótus, na época denominada Era do Fim do Darma – iniciada dois mil anos após o falecimento do Buda Sakyamuni - Nichiren Daishonin apareceu como o Verdadeiro Buda para a salvação dos seres. Nichiren ensina que todos que acreditarem no Gohonzon (objeto de adoração), a essência do Sutra de Lótus, e recitarem o Nam-myoho-rengue-kyo, poderão atingir a condição de Buda.

Apenas para esclarecer, Soka Gakkai é a designação de uma organização não governamental (ONG) que tem como objetivos o estabelecimento da paz, da cultura e da educação. Tudo isso com base no Budismo de Nitiren, religião da qual seus integrantes são praticantes leigos. Possui aproximadamente 15 milhões de membros no mundo. Até o início dos anos de 1990, a Sokka Gakkai era associada à Escola Nitiren Shoshu, mas graves divergências as separaram em definitivo. Por causa disso, atualmente é uma organização laica, sem uma ordem monástica associada. É liderada desde 1960 por Daisaku Ikeda, conhecido filósofo, escritor, fotógrafo e poeta, responsável por seu rápido crescimento no mundo. No Brasil é representada pela BSGI (Brasil Soka Gakkai Internacional).

A Escola Nichiren Shu chama Nitiren de Nichiren Shonin. Para ela, Nichiren foi um grande professor e reformador, que rejeitou o elitismo do budismo japonês e o restaurou como uma prática popular, entendendo o Sutra de Lótus como o ponto culminante dos ensinamentos de Buda. Para esta escola, Nitiren não é um Buda, nem O Buda Original, mas um grande mestre. Por isso, o diálogo da Nichiren Shu com outras escolas budistas, como as do Mahayana e o Theravada tem se mostrado no mínimo viável.

Algumas críticas ao Budismo de Nitiren

Conversando com várias pessoas pela Internet, em Redes Sociais, recebemos vários relatos e críticas ao chamado “Budismo de Nitiren”, bem como algumas defesas. Só para exemplificar, eis alguns argumentos (os nomes são fictícios, por insistência de seus autores):

“Fui numa reunião e não gostei. Ali pregam que Sidarta não é o verdadeiro Buda. Dizem ainda que nos textos Sidarta apontou que Nitiren viria esclarecer o mundo sobre o verdadeiro budismo após 2000 depois de sua morte de sidarta.” [Arlete]

“A Sokka Gakkai prega que Nitiren é a encarnação do Buda Gautama e que veio para restaurar o verdadeiro Budismo. (...) Já visitei vários grupos desta seita e constatei muita ignorância, arrogância e ingenuidade em relação aos ensinamentos de outras escolas budistas, que para eles são desencaminhadores do verdadeiro budismo.” [Renan]

“Verdadeiro Budismo? Acho que a frase está mal colocada. Nunca vi essa abordagem. Existem discussões filosóficas entre as eEscolas, mas não chega ao ponto de uma ser melhor que a outra. Sinceramente não entendi.” [Bira]

“O que já discuti diversas vezes foi a falta de ética dos membros da Nitiren nos seguintes fatos: Ao falar "o verdadeiro Budismo" deixando a entender que os outros são falsos; ao dizer que o mantra deve ser usado por todos desconsiderando que todas as outras escolas não usam esse mantra; ao dizer que o Sutra de Lótus é o mais importante do Budismo e que todos os outros devem ser estudados com base nele, o que desrespeita as outras escolas que não acreditam nesse Sutra. Não estou falando que é para os membros da Nitiren deixarem de praticar ou acreditar no que diz essa filosofia. Mas que o que ela prega é bastante particular no Budismo, portanto entra em conflito com as outras escolas.” [Gilvan]

“Nitiren Daishonin não é uma escola budista porque não possui os Quatro Selos do Dharma [ver nota 1]. Nenhuma escola budista tradicional reconhece esta seita como budista. Nem o Theravada, nem o Mahayana, nem o Vajrayana. Nenhum grande mestre budista faz sequer menção a este pretenso "budismo", que em verdade desencaminha as pessoas da verdadeira prática budista, e apresenta obstáculos como se fossem caminho de iluminação (culto a personalidades, adoração de objetos, desconhecimento das Quatro Nobre Verdades).” [Antônio]

Nota 1: Os Quatro Selos do Dharma são - Todos os fenômenos compostos são impermanentes; todos os fenômenos contaminados são insatisfatórios; todos os fenômenos são vazios e desprovidos de realidade intrínseca; o Nirvana é a verdadeira paz.

“Nitiren não é budismo. Qual é a outra linhagem budista que é acusada com tanta freqüência de não ser budista pelos próprios budistas e por não-budistas bem esclarecidos? (...) todos já ouvimos praticantes de todas as linhagens afirmar que Nitiren viola os mais básicos preceitos budistas: não possui os Quatro Selos (vício fundamental); não propaga as Quatro Nobres Verdades [ver Nota 2]; não prioriza o treinamento da mente; pratica culto à personalidade e ao ego; pratica materialismo descaradamente; pratica idolatria (adoração de objetos).” [Flávia]

Nota 2: As Quatro Nobres Verdades, de acordo com os textos canônicos, são a Verdade do Sofrimento, a Verdade da Causa do Sofrimento, a Verdade da Extinção do Sofrimento e a Verdade do Caminho de Oito Aspectos para a Extinção do Sofrimento.

Esta é a opinião das pessoas. Deve haver verdades e equívocos nela. Ninguém agrada a todos, diz o próprio povo. Por isso solicitamos ao Monge Hakuan (Antonio Carlos Rocha) uma defesa mais consistente do Budismo de Nitiren, e ele nos enviou prontamente um artigo esclarecedor. Monge Hakuan tem escrito vários artigos para a Revista Horizonte – Leitura Holística, e ele mesmo é seguidor de Nitiren, Gatukô (auxiliar sacerdotal) da Escola Honmon Butsuryu Shu, que considera Nitiren (que ele escreve Nichiren) como um grande mestre. Depois de lermos o que ele tem a dizer, reflitamos cada um de nós sobre o assunto e, se conseguirmos dormir sem nos incomodarmos com ele, ótimo. Caso contrário, aprofundemos nossos estudos, para não cair no preconceito e na ignorância de muitos. Segue, logo abaixo, o artigo de Monge Hakuan:

Nichiren – O Lótus Sol

Hakuan (Antonio Carlos Rocha) - Gakutô (Auxiliar Sacerdotal do Budismo Primordial HBS)



No âmbito das muitas linhagens budistas que conhecemos hoje em todo o mundo, as linhagens Nichiren são, curiosamente, muito amadas por uns e detestadas por outros. Incluo-me entre os primeiros. Sou daqueles que muito amam estudar, pesquisar e praticar quase todas as linhagens budistas que me são possíveis, como um leitor entusiasta que fica maravilhado diante de magnífica e diversificada biblioteca.

Aprendi muito cedo com o Buda Sakyamuni que a beleza e importância da floresta está na diversidade. Podemos afirmar que o Budismo é atualmente um Ecossistema de escolas, veículos, linhagens, sub-linhagens, ramos, filosofias e pelo visto, não vai parar de crescer, pois isso é próprio da vida.

O parágrafo acima me fez lembrar que, em artigo anterior, já publicado nesta ótima Revista Horizonte - Leitura Holística, citei o Venerável Anagárika Govinda, aprovando as novas interpretações e vivências budistas.

A grande questão é o chamado “Budismo Nichiren” que nasceu no Japão, na Idade Média, e que hoje abriga muitas escolas (há até quem afirme a existência de 40 linhagens). Alguns budistas de outros ramos afirmam que o Budismo Nichiren não é Budismo, ou então chamam de “Budismo Evangélico”. Esquecem-se, estes queridos e iluminados irmãos que se há Budismo Teravada, Budismo Zen, Budismo Terra Pura, Budismo Chan, Budismo Tibetano, Budismo Chinês, Budismo Coreano, Budismo Norte-Americano, já se fala até em Budismo Brasileiro e etc., por que não pode haver um Budismo Nichiren?

Em primeiro lugar é preciso notar que o próprio Sakyamuni esclareceu a existência de muitos Budas, antes e depois dele. Logo, quando a linhagem a qual pertenço, Budismo Primordial HBS, reverencia o Buda Sakyamuni e afirma que o Buda Primordial é o Adhi Buddha e que esta energia primeva da vida incorporou-se em Sidarta Gautama, de forma mediúnica, e que portanto, se quisermos, podemos considerar os termos Deus e Buda Primordial como sinônimos, estes irmãos budistas, de outras linhagens, discordam e dizem que isso não é Budismo.

Se Sidarta disse que houve muitos Budas antes dele e que após ele viriam muitos outros Budas, qual é o problema de também chamarmos Nichiren de Buda? A linhagem Soka Gakkai afirma que Nichiren é o Buda Original e Sakyamuni, o Buda Histórico. Ora, é Original porque ele fez uma interpretação original, diferente em alguns pontos do Ensinamento de Sakyamuni. Original no sentido de criatividade.

Constato então que eles, os irmãos budistas que discordam, com todo o respeito escrevo isso, estão presos, apegados a conceitos antigos, ortodoxos e não conhecem, novamente com todo o respeito, as escrituras budistas de uma forma mais ampla. No citado artigo que nos referimos acima, o Venerável Anagárika Govinda, afirma que, mesmo um alimento, congelado por muito tempo no freezer, vai precisar de um tempero atualizado, de forma que o sabor ganhe o merecido destaque. Ainda nesse mesmo artigo citamos um trecho do Mahaparanibhanasutta ou “O último sermão de Buddha”, dentro da tradição ortodoxa Teravada onde, textualmente Sidarta declara que, se a ordem quiser (a Sanga), após o desencarne dele, poderá alterar todos os preceitos menores. E comentamos que os preceitos maiores são os três tesouros: o Buda, o Darma e a Sanga e os menores os demais aspectos.

Mas, se o Budismo que os seguidores de Nichiren praticam refere-se a um Buda anterior a Gautama, não há motivo para tanta polêmica. Lembro que, certa feita, conversando com uma conceituada monja no Rio, da tradição Terra Pura japonesa, ela me disse que as imagens de Buda que tem nos altares dos templos Terra Pura de sua linhagem, em todo o mundo, não são de Sakyamuni, que geralmente aparece sentado na clássica postura de meditação, mas sim, do Buda Darmákara, que viveu bem antes de Sidarta. E Darmákara sempre aparece nas estátuas e imagens de pé, e nunca sentado e é por isso que, em geral, nos templos Terra Pura, existem bancos e cadeiras comuns e não as tais almofadas de outras tradições.

O mesmo acontece com as seis linhagens Nichiren presentes no Brasil. Existem bancos e cadeiras nos templos, como se fosse uma igreja. Talvez a única exceção à regra, seja o nosso núcleo no Rio, que por funcionar em uma academia de yoga, tem almofadas sobre pequenos pedaços de carpetes. Como, aliás, era na antiguidade japonesa, quando todos sentavam em tatames.

No Brasil temos as seguintes linhagens do Budismo Nichiren:

Budismo Primordial HBS – Honmon Butsuryu Shu = www.budismo.com.br (na capital carioca nós chamamos de HBS-Rio, ou seja Herdeiros do Buda Sakyamuni na Cidade Maravilhosa = http://budismoprimordialrio.blogspot.com);

Soka Gakkai = www.bsgi.org.br;

Risho Kosei Kai = www.rkk.org.br;

Nichiren Shu = www.nichirenshu.org.br;

Nichiren Shoshu = www.ns.org.br;

Reiyukai = www.reiyukai.or.jp (é o site oficial em inglês; no Japão; há um link em espanhol).

Além dos sites oficiais, há vários sites não oficiais e blogues autônomos, como o meu.

Em inglês há um site ótimo: www.nichirenscofeehouse.net. De lá o leitor encontra links para diversas linhagens históricas e tradicionais, além de muitas do Budismo Nichiren em todo o mundo; há até grupos budistas nichiren independentes. Veja também outro site muito bom: www.nichirenshueuropa.org (em várias línguas).

A reforma religiosa que Nichiren promoveu no Japão foi tão importante que até hoje influencia direta ou indiretamente diversas correntes religiosas neobudistas, não budistas, xintoístas, neoxintoístas e afins como Seicho-No-Ie, Igreja Messiânica, PL – Perfeita Liberdade, Sukyo Mahikari, etc. Todas têm altares semelhantes ao Gohouzen com inscrições em caracteres chineses ou nipônicos. Inclusive, as muitas linhagens de Reiki que percorrem hoje o Ocidente, lembram os sinais e os ideogramas que Nichiren inscreveu em seu Gohonzon. Por exemplo, a linhagem a qual pertenço, HBS, tem a prática da água fluidificada que os espíritas muito usam.

Nos altares de algumas linhagens do Budismo Nichiren existem imagens de Sidarta, em outras não, em algumas existem só imagens de Nichiren, em outras não, em algumas existem só um quadro ou mandala com caracteres nipônicos ou chineses explicitando o mantra Namu Myou Hou Ren Gue Kyou (que significa “Eu me refugio no Buda Primordial”) e a presença dos muitos Budas, Bodhisatvas, Mahasatvas e altos seres celestiais afins.

Não vemos problema nessa não existência de imagens de Sidarta Gautama; o próprio Sakyamuni, desde seus primeiros pronunciamentos no cânon páli, nunca fez questão de ser representado por uma estátua, e foi justamente isso que fez com que Nichiren não desse muita importância ao uso de imagens. Talvez por isso, muitos nos rotulam como “budistas evangélicos”, visto que os evangélicos do cristianismo não são afeitos às imagens. E também porque a jovem linhagem, Soka Gakkai, fundada em 1930, utiliza métodos de conversão semelhantes aos pentecostais.

Nichiren tinha uma profunda e reverente admiração por Sakyamuni e em função disso, compreendendo que ele foi um ser preparado e escolhido pelo Buda Primordial para nos revelar o Sutra Lótus, então preferiu inscrever em um pergaminho a reverência a todos os Budas, bodhisatvas etc, como já citamos. É importante frisar que ele não escreveu os nomes no pergaminho, mas inscreveu e por isso este sagrado pergaminho é chamado de Gohonzon e é isto o que temos em nossos altares. Os altares têm o nome de Gohouzen. O pergaminho é como se fosse um diploma, um cartão de banco ou de crédito, uma senha, e assim, todo iniciado tem em casa uma cópia deste pergaminho que também é conhecido como mandala.

Podemos afirmar que em quase todos os países do mundo há um pequeno grupo de praticantes que seguem alguma linhagem inspirada ou em Nichiren ou no Sutra Lótus e seguem o sagrado mantra já citado.

Uma das curiosidades deste tipo de budismo é que ele se reúne com mais freqüência nas casas, nas residências, em pequenos grupos e só eventualmente nos templos.

Vejamos um bom exemplo do preconceito que cerca os nichirenistas. No ótimo livro publicado no Brasil pela Editora Cultrix, “Budismo – uma introdução concisa”, os renomados especialistas norte-americanos em religião, Huston Smith e Philip Novak, ao longo de 208 páginas falam muito bem de diversas correntes, linhagens, veículos, etc. Mas o espaço dedicado a Nichiren é ínfimo, nada mais que 20 linhas. Ora, pensamos que os referidos autores não tiveram uma atitude imparcial, conforme recomenda uma pesquisa acadêmica séria. Só 20 linhas para falar de um conjunto de escolas, sub-escolas, interpretações que abrigam milhões de praticantes em todo o mundo?

É comum também pessoas que não conhecem a vida e a obra de Nichiren afirmarem que o significado do mantra é apenas “Louve o Lótus da Boa Lei”, como sugerem os citados autores na página 135 do referido volume. A postura é semelhante a uma pessoa que, não sabendo do que trata a astronáutica, tece considerações, definições e juízo de valor sobre a arte de enviar foguetes interplanetários para investigar o cosmo.

Talvez, toda esta celeuma tenha sua origem no seguinte: Nichiren (1222-1282) era uma monge politicamente bem acordado, um monge militante, revolucionário verbalmente falando, e mais de uma vez afrontou os poderes constituídos dizendo verdades aos poderosos. Conclusão: foi preso e condenado à morte por decapitação. Mas há uma história interessante que muitos afirmam ser lenda. Na hora do martírio, em praça pública, o carrasco não teve coragem de cortar a cabeça do sacerdote Nichiren. Nos céus apareceram sinais estranhos, houve trovoada, raios, a Terra tremeu, etc. Então, os algozes decidiram enviá-lo para o exílio. Anos depois voltou com a anistia.

Há uma outra história também de que em alguns dos textos escritos por Nichiren ele criticou o Budismo Zen e o Budismo Terra Pura. No primeiro caso é porque ele tinha uma devoção muito grande ao Buda Sakyamuni e mesmo tendo sido praticante e estudioso do Zen, não conseguia entender ou aceitar muito bem a irreverência e iconoclastia das linhagens zen que, às vezes, até recomendam “matar” o Buda, não respeitar a hierarquia sacerdotal, queimar as imagens do Buda, etc. Claro que isto é uma linguagem simbólica. O outro aspecto é que, contam, praticantes da Terra Pura, certa feita queimaram a cabana onde morava Nichiren, porque ele havia criticado os chefes e fundadores da linhagem Terra Pura. Então, alguns seguidores de Nichiren fizeram o mesmo e queimaram um templo da Terra Pura. E assim, hoje, ficamos sem saber quem iniciou a briga... Uns dizem que é um, outros dizem que é o outro.

Nessa época havia também muita corrupção no clero budista, que estava se utilizando das benesses do poder governamental em detrimento do povo. E Nichiren foi veemente com eles. Assim, nosso Patriarca “Nini”, fugiu ao padrão de que monge é sempre bonzinho, caladinho, bonitinho, arrumadinho, só meditativo e não fala nada diante das mazelas dos poderes corruptos e seus apaniguados.

Imparcialmente falando, Nichiren foi muito rude com as linhagens Zen e Terra Pura; a meu modo de ver, jamais deveria ter escrito isso, pois esqueceu da compaixão que Sidarta sempre ensinou. Ele poderia até discordar educadamente dos poderes governamentais da época, sem perder as estribeiras. Parece que morreu assim, meio brigão, valentão, verbalmente falando. Mas o que não faz sentido, hoje, novamente, na minha maneira de ver, é ficarmos nós brasileiros, reproduzindo uma briga da Idade Média japonesa, que não tem nada a ver conosco, tupiniquins, com a nossa realidade em pleno século XXI, e sim que o acontecido foi um fato local, isolado, dentro da belíssima história do budismo mundial. Com todo o respeito e reverência penso que estão equivocados os brasileiros nichirenistas quando afirmam que só o Budismo Nichiren está certo e os outros budismos estão errados; da mesma forma, discordo respeitosamente dos praticantes brasileiros, das demais denominações budistas, quando afirmam que Budismo Nichiren não é Budismo.

Quanto a afirmar que o Budismo Nichiren é Budismo Evangélico, não vejo problema nenhum, pois nada tenho contra os evangélicos cristãos, nem contra qualquer outra religião ou filosofia. Não me sinto diminuído ou agredido quando um budista de outra linhagem estranha nossa afirmação de que o Budismo Nichiren é um Budismo de Fé e vemos os vocábulos Deus e Buda como sinônimos, aliás, o nome oficial da linhagem a qual pertenço é Religião Budista Primordial - HBS.

Poderia listar ainda diversas outras muito bonitas linhagens Nichiren que não estão presentes no Brasil, mas por motivos de espaço recomendo o site em inglês www.lotus.net. De lá há um link para uma linhagem Nichiren 100% pacifista, ecumênica e inter-religiosa: http://www.niponzanmyohoji.org. Seu fundador foi o grande e Venerável Mestre japonês Nichidatsu Fujii Guruji (1885-1985). O último nome “Guruji” era a forma carinhosa como o Mahatma Gandhi chamava Nichidatsu. O monge japonês Fujii andava pelo mundo tocando um pequeno tambor do Darma do Buda, conforme ensinado por Nichiren e viveu durante três anos, na Índia, no ashram do Mahatma Gandhi, durante as lutas de libertação contra o Império Colonial Britânico. Diariamente pela manhã, juntos recitavam as orações de Gandhi inspiradas no Bhagavad Gita, no Evangelho de Jesus e nos Ensinamentos de Nichiren, através do Sagrado Mantra citado. Portanto, o exemplo de Gandhi, de não-violência ativa, tem muito de Nichiren.

Um outro grande mestre e monge budista Theravada, que ficou conhecido como o Gandhi do Camboja, também morou no ashram e acompanhava o Mahatma chamando Nichidatsu de Gurujii. Maha Ghosananda, o Gandhi do Camboja, foi indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz. Portanto, nichirenistas ou não nichirenistas, a convivência pacífica e harmoniosa é possível e recomendável.

Recomendo dois ótimos livros: o primeiro, de autoria de Nichiko Niwano, atual presidente mundial da linhagem Risho Kosei Kai, que está presente no Brasil há 30 anos, “O Caminho Interior”, Editora Cultrix, 1996. E o segundo, de autoria do pai de Nichiko, Nikkyo Niwano, fundador da referida linhagem: “Shakyamuni Buddha – uma biografia narrativa do Buda histórico”, publicado pela editora católica Cidade Nova, em 1987, pertencente ao Movimento dos Focolares. Aliás, em 1979, o Vaticano outorgou a Nikkyo o “Prêmio Templeton” por motivos de aproximação ecumênica e inter-religiosa com diversos segmentos budistas e cristãos.

Ryuho Okawa, fundador e mestre da linhagem Ciência da Felicidade, uma espécie de Budismo Mediúnico, afirma em um de seus vários livros que Nichiren errou ao condenar as linhagens Zen e Terra Pura, mas que hoje, nas esferas celestiais, onde vive, é um Espírito de Luz e já se arrependeu do que escreveu na Idade Média. Logo, os praticantes hoje, devem também perdoar o Mestre Nichiren pela imprudência nas críticas. Veja o site em inglês (há link em português): www.kofuku-no-kagaku.or.jp.

Contudo, é bom frisar, que a Soka Gakkai tem até um partido político no Japão, ou seja, aproximaram política partidária com Nichiren, o subversivo de sua época. Contou-me um praticante da SGI – Soka Gakkai International que a intransigência de sua linhagem era em função da estreita ligação com a ex-radical Nichiren Shoshu, mas que, desde 2001, estão devidamente separadas, autônomas e independentes e que a Soka está cada vez mais light.

Assim seja!

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sábado, 8 de novembro de 2008

 

Viagem Astral – O que realmente se projeta?

Paulo Stekel



Introdução

Você já teve a sensação de flutuar durante o sonho? Já teve a sensação de cair? Já teve a sensação de não estar de fato dormindo, mas vendo a si mesmo deitado na cama? Se sua resposta é sim, provavelmente você experimentou a projeção astral (termo mais adequado) ou, como dizem outros, uma viagem astral, um desdobramento astral ou uma experiência fora do corpo.

Para quem entende do assunto, a projeção astral é a capacidade que temos de sair do corpo físico e viajarmos por planos invisíveis, utilizando o que se chama de “corpo astral”. É um fenômeno comum a todos nós, mesmo que não tenhamos consciência do fato.

Contudo, quem é esse “eu” que “sai” ou se projeta do corpo? O espírito, a mente, a consciência? São termos para a mesma coisa? Orientais e ocidentais pensam da mesma forma sobre o assunto? Eis algumas dúvidas suscetíveis de controvérsias.

O astral

O corpo astral é considerado pelos espiritualistas em geral como a parte extra-física do corpo físico. Parece ser igual ao físico (daí a noção popularizada de “duplo astral”), mas menos denso, e normalmente invisível e intangível. Quando estamos em estado de vigília, o corpo astral repousa junto ao físico. Quando dormimos, ele se destaca e se projeta segundo as tendências mentais. Desta forma, parece que o corpo astral depende das disposições da mente do indivíduo, não sendo, portanto, confundível com a mesma.

Muitos pesquisadores da projeção astral dizem que o corpo astral se mantém ligado ao físico por uma espéice de “cordão de prata”, um laço energético, também chamado cordão astral ou cordão vital, que vai diminuindo de espessura à medida que o corpo astral se afasta do corpo. Isso parece discutível, pois muitas pessoas que relatam tais experiências dizem não ter visto nada semelhante. De fato, isso parece um pouco como resquício da visão materialista que vigorou até poucas décadas, segundo a qual tudo tinha que ter seu substrato físico. Se a projeção for um processo mental, não há qualquer necessidade de um cordão de ligação. A conexão seria literalmente “sem fio”. Esta é uma visão mais sofisticada perfeitamente explicável pela nossa atual tecnologia “wireless”. Se, no mundo físico, há a energia eletromagnética que pode ser transmitida assim, por que não haveria um processo similar sendo coordenado por nossa mente?

O plano astral é visto como um Universo Paralelo ao nosso. Este universo é regido pelas formas-pensamento, que são geradas pelo ato de pensar com intensidade quando se está consciente no mesmo. Não existe ali espaço nem tempo, mas sim forma-pensamento, de modo que ao se pensar em um lugar, quase de imediato se é transportado para lá.

Onde, então, situa-se o plano astral, se este parece totalmente dependente de nossa mente? Seria uma espécie de “zona neutra” dentro de nossa mente ou manifestando-se através dela? Se não pensarmos no plano astral com as mesmas regras do plano físico, isso pode fazer muito sentido. Contudo, ainda não significaria sua não existência ou um simples fenômeno psicológico. Seria algo real, para a mente, segundo a perspectiva da mente. A propósito, as filosofias orientais deixam claro que mesmo nosso mundo físico ilusório é bem real quando visto pela perspectiva da mente, mostrando-se, contudo, bastante limitado e impermanente quando a mente o percebe a partir de outros níveis mais sutis.

Adaptação de linguagem e novas respostas

Estamos acostumados a uma literatura em linguagem muito arcaica quanto ao que tange a viagem astral, plano astral e corpo astral. Muito do que ainda se apresenta vem dos textos de teosofia, que são do século XIX (Blavatsky, Leadbeater, Besant). A nomenclatura nunca foi revista adequadamente. Mesmo a nomenclatura da Projeciologia desenvolvida por Waldo Vieira é bastante complexa e não acrescenta argumentos realmente novos, a despeito dos termos etimologicamente elaborados. Os livros de Robert Monroe se detêm muito nos relatos do fenômeno, mas trazem poucas respostas sobre o que realmente se projeta, pois isso requer uma compreensão muito mais profunda da própria essência da mente.

Para os orientais, a mente tem a capacidade de se expandir, de viajar a outros lugares sem o corpo, e mesmo de projetar uma imagem visível a outros do corpo ao qual está ligado, o que é chamado de “espectro” ou “energia fantasma”. Esses relatos vêm geralmente no caso de pessoas mortas. Mas o fato do corpo ter morrido não significa que a mente tenha se inutilizado. Ela ainda mantém a capacidade de projetar uma imagem do corpo ao qual estava ligada por um bom tempo, de anos a séculos, dependendo do caso.

Só para exemplificar a diferença de visão sobre o que sobrevive à morte (deve ser a mesma coisa que se projeta no astral?), analisemos a opinião espírita corrente e a visão do budismo:

Quando se pergunta a um espírita onde se encontra a pessoa que morreu, ou o seu espírito, um médium pode responder: “aqui, do meu lado!” Ou então: “Aí do seu lado, não vê?” Isso evidencia a noção de um espírito “local”, que pode ser definido, localizado e mesmo observado nos mesmos moldes do corpo físico. Ainda que os espíritas possam dizer que o espírito, neste caso, sempre está ligado ao perispírito, e que este é que é percebido, fica clara a noção de que esse conjunto é a consciência, mente ou ser que sobrevive à morte.

Quando se pergunta a um budista tibetano onde se encontra a pessoa que morreu, ele responderá: “Por aí”. E ainda apontará para todos os lados e para o espaço. Por que? Porque para ele, a mente é o ser que partiu. Esta mente abrange o espaço e não pode ser contida. Ele esteve contida enquanto o ser estava vivo. Quando ele morre, a mente se liberta. Mas, pelas tendências cármicas que gerou quando num corpo, tende a retornar em outro corpo, o que chamam os budistas de “renascimento” e nós, ocidentais, erroneamente, de “reencarnação”. Este último termo é equivocado porque nada “reentra na carne”; algo apenas “nasce mais uma vez”, e esse “nascer” equivale a manifestar-se num corpo. Isso nos dá dicas de que a mente manifesta-se no corpo, no cérebro e na personalidade, mas não é nenhuma destas coisas. Não é uma alma, um espírito ou um ego que sobrevive à morte, mas simplesmente um fluxo puro universal. A fonte está em lugar seguro... Isso equivale a dizer que seja lá o que for que anima o corpo, é não-local.

O que queremos dizer é que podemos aceitar quaisquer das duas argumentações sobre a mente e o astral, mas isso afetará a percepção da experiência em si e, de fato, afeta. Quando no astral, as imagens que vemos refletem mais nossas crenças que algo real. Assim, um espírita perceberá um espírito de luz onde um tibetano poderia perceber a energia de um Buda. Mas, o que realmente está lá? É algo que requer estudo mais aprofundado.

Como ocorre?

A viagem astral pode ser involuntária ou voluntária. Pode ocorrer durante um sonho ou nas experiências de quase-morte (EQM). Nós mesmos já vivenciamos a primeira possibilidade (em sonho) por diversas vezes desde a adolescência, mas sempre de modo involuntário, nunca provocado. Mas há muitas pessoas que dizem fazer a viagem astral voluntariamente e de modo controlado. Nunca percebemos nenhum cordão de prata, mas percebemos alguma presença a nos guiar, ainda que se mantivesse invisível. Os próprios pesquisadores reconhecem que ninguém jamais conseguiu tocar o cordão de prata ou esmiuçá-lo detidamente.

Um amigo relatou-nos ter tido experiências de viagem astral quando estava em coma, à beira da morte. Na verdade, tinha sido dado como morto e já o preparavam para ser entregue aos cuidados da funerária. Disse-nos que podia ver seu próprio corpo sendo costurado na mesa de cirurgia após um grave acidente de carro, e relatou ter encontrado uma entidade supostamente feminina do “outro lado”. Esta entidade disse-lhe que ainda não era a hora e que uma nova chance lhe tinha sido dada, pois sua missão não estava completa. Então, ele voltou a si e a enfermeira pasmou-se de ouvi-lo pedir água, quando era dado praticamente como sem volta. Até esta época, sua prática religiosa era nula. Nos anos seguintes, o vimos passar por muitos caminhos diferentes (dos mórmons ao candomblé e à umbanda), de modo que cremos ser ele hoje um autêntico “universalista”. A experiência (e o acidente, obviamente), de fato, mudou sua personalidade, que de egocêntrica, orgulhosa e vaidosa, passou a refletir uma mente mais humana, humilde, serena e menos agressiva. Ele ainda não sabe o que realmente aconteceu, mas foi positivamente afetado.

Uma amiga relatou-nos que em todas as vezes em sua vida em que recebeu anestesia geral (foram algumas vezes), viu-se fora do corpo, ouvia tudo o que os médicos diziam e podia sair do quarto, flutuar sobre a mesa cirúrgica, etc. Contudo, sempre sentiu-se bem com a experiência e não queria retornar, devido ao bem-estar gerado pela experiência. Mas acabava voltando, como que à força. Uma energia, ou consciência, a fazia retornar.

Nós mesmos passamos por algo parecido em uma de nossas experiências. Ela ocorreu por volta de 1998. Mas não é que não queríamos voltar, na verdade não o conseguíamos. Algo parecia nos impedir. Então, tivemos a intuição de entoar um mantra hebraico (o mantra “qadosh”, do qual falamos detidamente em artigo anterior - http://revistahorizonte.blogspot.com/2008/10/msica-canalizao.html#links ), e imediatamente após entoá-lo por três vezes, sentimos como que uma mão puxando-nos para o corpo. Podíamos perceber uma figura branca, numa veste azul-clara, à nossa direita. Então, despertamos, sem maiores problemas. Antes disso, havíamos tido a clara sensação de ter atravessado a parede e de nos postarmos frente a um espelho. Não vimos nossa imagem no espelho, mas apareciam outras imagens nela, de seres que certamente costumam andejar por ali. Na mesma ocasião tivemos, no astral, uma experiência de premonição. Parece que a projeção nos deixa suscetíveis a estas manifestações.

O consenso quase geral é de que estes seres percebidos durante a projeção astral são desencarnados, mas há também quem pense serem ou seres vivos deste próprio plano ou então projeções mentais relacionadas à nossa própria experiência cármica destas e de outras vidas. Esta última é a visão praticamente compartilhada pelo budismo tibetano. Isso não significa que não possam existir outras consciências fora do mundo físico. Mas devemos analisar bem cada experiência e não cair na nomenclatura comum a doutrinas que encapsulam a experiência em moldes absolutos. Para alguns, a projeção astral é como se fosse uma meditação profunda na qual a mente escapa momentaneamente dos limites do corpo e tem a mesma liberdade que teria após a morte, salvo pelo fato de retornar em seguida.

Mas, qual é a sensação que temos no momento em que estamos nos projetando no astral? Há várias características, entre elas: a sensação de se estar no espaço vazio; dificuldade de respirar, mas sem perder os sentidos; percepção do braço esticando; olhar-se no espelho e não se ver (como nos ocorreu); passar pelas pessoas sem ser observado; emitir alguma espécie de luz própria; sentir-se mais leve; não fazer sombra; sentir-se deslizando; sentir-se livre; ter uma visão aperfeiçoada; observar a si próprio e não ver o corpo.

É perigoso viajar no astral?

Quase todos nós já ouvimos de alguém que “sim”, é perigoso viajar no astral através da projeção, pois podemos não mais voltar. Mas, quem fala assim não conhece realmente o assunto, nem se dá conta de que parecemos viajar todas as noites, quando dormimos, desde que nascemos, e não pode haver qualquer perigo extremo nisso. Os mais drásticos dizem que podemos morrer fazendo viagem astral. Mas também podemos morrer dormindo, não é mesmo? Podemos morrer de tantas formas estúpidas não contempladas na categoria “perigo” que esta advertência parece mais querer causar pânico que alertar.

Outra advertência comum dada por amadores é a de que seres trevosos podem cortar o cordão de prata do viajante a seu revés. Isso seria um “assassinato astral”, mas muito difícil de ocorrer sem que o corpo físico fosse atacado diretamente por elementos também físicos. A tendência na viagem astral, no caso do menor risco, é o retorno imediato ao corpo físico. Ademais, a consciência, na projeção, apenas transfere-se do físico para o astral, mantendo uma continuidade. O corpo no qual está manifestando é algo secundário. A consciência é quem comanda os processos. Seres bons e maus existem em todos os planos. Eles se atraem por afinidades. Então, basta cada um saber do que é feito, que tipo de energias emana, e terá condições de saber que energias pode atrair. Se no físico atraímos pessoas afins com nossa ética e comportamento, no astral não pode ser diferente. A culpa não pode ser do plano astral, mas de nós mesmos.

Benefícios da projeção

As pessoas que dizem fazer a projeção astral com freqüência relatam inúmeros benefícios ou vantagens desta prática. Uma delas é a possibilidade de, estando fora do corpo, observar eventos físicos e extrafísicos, sem o uso dos sentidos físicos ordinários. Neste estado, a pessoa que se projeta observa, trabalha, participa e aprende fora do seu corpo, especialmente sobre o novo mundo que se descortina diante de si, um mundo “espiritual” fluido, que torna realidade seus pensamentos (bons ou maus) através da geração das formas-pensamento.

Por vezes a pessoa que viaja pelo astral encontra outros seres, ou o que parecem ser outros seres. Alguns são imagens de pessoas conhecidas do projetor que já morreram. Outras, seres desconhecidos. A pessoa ainda pode vir a lembrar de vidas anteriores ou se ver auxiliada energeticamente por estes “seres astrais”. Mas ela também pode encontrar neste plano o duplo astral de pessoas vivas que também estão dormindo, como pessoas queridas, desafetos, parentes, etc. Este elemento parece corroborar a idéia de que o astral é apenas mais um plano onde nossa consciência pode se manifestar.

Neste nível, por vezes são vistos seres chamados de “amparadores”, outras vezes nomeados de anjos de guarda, guias, mentores, etc. Foi o que nós mesmos experimentamos no que relatamos há pouco. Os amparadores, seja lá o que forem (desencarnados, anjos, mestres) estão sempre presentes, assistindo e orientando o projetor, ainda que este não os perceba. Eles podem mesmo auxiliá-lo a se projetar.

Diferença entre sonho e viagem astral

Na verdade, segundo os pesquisadores, o estado de sono, no qual ocorre a maior parte das experiências de projeção, é constituído de três tipos de estado:

Os Sonhos espontâneos ou naturais: Neles, que são a maioria das experiências, não sabemos que estamos sonhando, não interferimos, mas sentimos todos os acontecimentos. As pessoas muito estressadas ou doentes sequer lembram destes sonhos comuns.

Sonhos lúcidos: Nestes, sabemos que estamos sonhando e podemos mudar os eventos, tomando decisões. Segundo os especialistas, um sonho lúcido nada mais é uma projeção astral do tipo semi-consciente.

Projeção astral ou viagem astral: Sua condição imprescindível é que se saiba, se tenha a certeza de que se está vivenciando uma Experiência Fora do Corpo. Mesmo não se sabendo onde se está, é importante que se tenha a certeza de não se estar sonhando, nem no corpo físico. Há graus desta lucidez, mas em qualquer grau, deve-se ter a certeza da singularidade da experiência.

Comparando o sonho comum e a projeção astral, podemos dizer que: No sonho, ocorre a atividade mental habitual – na projeção, ela é muito mais rica; no sonho, as imagens que surgem não podem ser controladas – na projeção, podemos controlar tudo à nossa volta, incluso fazer surgir ou desaparecer imagens; no sonho, o senso crítico está ausente – na projeção, ele se faz presente sempre, como no estado de vigília; no sonho não nos lembramos claramente das imagens e do enredo – na projeção, podemos lembrar de tudo como num evento ocorrido em estado de vigília; no sonho, não temos a sensação de sair do corpo – na projeção, essa sensação é uma experiência única e inesquecível; no sonho, as imagens são deformadas e irreais – na projeção, são nítidas; no sonho, as imagens são menos claras que no estado de vigília – na projeção, podem ser ainda mais intensas; no sonho, as lembranças podem ser mais fortes quando comparadas com projeções mais longas, o que parece ser um paradoxo.

A visão oriental

No Budismo há o conceito de siddhis, as “perfeições” ou espécies de poderes supra-humanos, como clarividência, clariaudiência, telepatia, telecinese, etc. Há os siddhis inferiores e os siddhis superiores. Os fenômenos psíquicos comuns estudados pela Parapsicologia geralmente recaem na categoria dos siddhis inferiores. Os superiores são aqueles poderes que conduzem os seres ao despertar. Um exemplo, é a capacidade que seres elevados, como Mestres, Bodhisattvas e Buddhas têm de dar aos seres não apenas o que eles desejam, mas o que necessitam. Assim, os ensinamentos espirituais vindos destes seres são legítimos siddhis superiores, ainda que aqueles ligados à fenomenologia física não os entendam como poderes superiores. Na mesma categoria está a capacidade de conhecer as vidas anteriores de alguém, o que habilita um ser superior a prescrever o melhor método para que um discípulo avance no caminho espiritual.

O Budismo reconhece fenômenos como a mediunidade e a viagem astral, mas eles não são considerados como o que há de mais importante, além de serem referidos com termos diferentes dos usados no Ocidente. Estariam na categoria dos siddhis inferiores. Os budistas consideram o que chamamos de plano astral como um lugar inferior ao que chamamos de plano mental. Na verdade, o mental coordena o astral, o etérico e o físico.

A consciência ou mente dos mortos ainda se manifesta no astral por um tempo após a morte, mas deveríamos deixá-los seguir seu curso em paz, sem tentar atraí-los pelo apego que restou de nossa parte. Agindo assim, em pouco tempo eles encontram seu caminho e os resquícios de sua personalidade desaparece, deixando-os aptos a renascer em outro corpo. Na verdade, só existe um continuum mental, não um eu que sobreviva à morte. Só há estados de consciência. Um estado é um modo de ser. Então, só há modos de consciência. Não há uma alma concreta, como vista pelo espiritismo, pelo cristianismo e por algumas tendências do movimento “nova era”. Há um fluxo linear, um fluxo mental puro que vai se obliterando pelos níveis mais físicos à medida que se reveste deles para se manifestar, mas não um eu que saia imutável da experiência de uma vida, pois as experiências não são lineares. Se nossas células todas mudam no curso de poucos anos, de modo que não podemos dizer que temos o mesmo corpo desde o nascimento, o que dizer da mente, da consciência, que passa por tantas fases ao longo da vida?

Mais importante que desenvolver os siddhis inferiores (no qual a viagem astral se enquadra) é desenvolver os siddhis superiores, como as virtudes, por exemplo. Contudo, isso não significa não reconhecer a realidade da viagem astral ou proibí-la. Há muitos especialistas em viagens astrais no mundo hinduísta e budista. Contudo, sem um objetivo nobre – o benefício de todos os seres –, nada pode ser alçado à categoria de siddhi superior. A viagem astral pode ser útil nas mãos de pessoas compassivas e que buscam a sabedoria, mas não nas mãos daquelas que encantam-se com fenômenos impermanentes ou que buscam ambiciosamente todo o poder a qualquer custo.

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quinta-feira, 9 de outubro de 2008

 

[Entrevista] Monge Shaku Shoshin (Dr. Joaquim Monteiro)

Budismo vivo no Século XXI – Questões pertinentes

Entrevista concedida a Paulo Stekel



Sempre tivemos o desejo de entrevistar o Dr. Joaquim Monteiro, cujo nome religioso é Rev. Shaku Shoshin. Este desejo tornou-se mais intenso por sua visível participação em protestos pró-Tibete no Brasil, a partir de março deste ano. O vimos de relance durante o encerramento do ano novo tibetano, no Chagdud Gonpa Brasil, e não pudemos conversar.

Em março, o Rev. Shaku Shoshin foi uma das cerca de 30 pessoas que participaram dos protestos em prol do Tibete junto ao Consulado da China, em São Paulo. Em maio, participou, no Plenário da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, do debate público sobre a questão tibetana, manifestando contundentes e compassivas ponderações. Por fim, em 23 de agosto, o monge estava presente, aliás, era o único sacerdote budista presente, no protesto de luz promovido por Mariane Alexandre, atualmente a Coordenadora Estadual (SP) do movimento Tibete Livre – Brasil, protesto este realizado em frente ao Consulado da China, em São Paulo. Ali entoou mantras e celebrou preces. Inequivocamente, o Rev. Shaku Shoshin é um budista engajado em causas sociais, como poucos budistas brasileiros, infelizmente.

Joaquim Monteiro (seu nome verdadeiro) é psicólogo, escritor, tradutor e Doutor em estudos Budistas pela Universidade de Komazawa (Tóquio, Japão), na especialidade “Budismo Chinês” (2000). É autor de diversos livros e artigos acadêmicos, a grande maioria deles em japonês. Pertence ao Budismo Terra Pura japonês, uma escola do Budismo Mahaiana.

A entrevista a seguir é pautada por questões atuais do Budismo no mundo e no Brasil, a questão tibetana, os direitos humanos e o Budismo Engajado:

Horizonte: Depois de cerca de 2500 anos de história, o Budismo agora se encontra com realidades como a globalização, a era da Internet, o laicismo, etc., onde tudo parece integrado e as informações fluem de modo a refletir uma diversidade cultural, mas uma necessidade de unidade moral e ética. Como você vê o futuro da prática budista a partir do século XXI, no mundo e no Brasil?

Rev. Shaku Shoshin: É um fato indiscutível que o Budismo confronta uma situação absolutamente inédita nesse começo de século. Acredito que seja necessário um esforço de pensamento no sentido de refletir sobre a sociedade do capitalismo globalizado a partir de premissas budistas. Só um esforço de pensamento capaz de pensar a sociedade contemporânea a partir das premissas da tradição budista poderá fornecer os fundamentos de uma nova modalidade de prática budista no mundo e no Brasil. Acredito que essa seja uma necessidade premente no Brasil, na medida em que a prática budista entre nós ainda não está alicerçada em uma reflexão a partir da tradição.

Horizonte: Está nascendo um "budismo ocidental" e um "budismo brasileiro"? O que estas formas teriam de diferente das tradicionais?

Rev. Shaku Shoshin: Parece-me realmente que está em curso a formação de um Budismo especificamente ocidental. Como o Budismo se faz presente em muitas sociedades ocidentais de um caráter completamente diverso e praticamente todas as tradições budistas estão presentes no Ocidente acho difícil prever o rumo que esse “Budismo ocidental” em formação irá assumir. É mais fácil responder a respeito da formação de um “Budismo brasileiro”, pois não só participei diretamente de alguns períodos de sua formação como também estou engajado em suas atuais questões. Assim sendo, se torna mais fácil pensar a respeito do atual “Budismo brasileiro” tanto em termos de seus avanços mais significativos quanto em termos dos obstáculos que vem encontrando.

Acredito que o desenvolvimento do “Budismo brasileiro” na sociedade do pós-guerra pode ser dividido grosseiramente em três períodos. O primeiro está centrado nas décadas de 60 e 70. Trata-se de um Budismo fortemente marcado pela mentalidade da contracultura e por uma perspectiva essencialmente individualista. A influência desse período ainda é muito forte no atual “Budismo brasileiro”, mas uma parte considerável de sua mentalidade me parece ser constituída de um saudosismo nostálgico que precisa ser urgentemente superado. Em termos de escolas esse período foi marcado por uma influência dominante do Theravada e do Zen, mas acredito existirem algumas seqüelas nessa influência que precisam ser superadas criticamente. A visão do Theravada nesse período era fortemente marcada por uma perspectiva falsamente modernista dessa escola como o “Budismo original” compreendido como um racionalismo e como um humanismo em contraste com as “distorções” do Budismo posterior. Isso se traduz até hoje em uma visão extremamente pobre da própria tradição Theravada: acredito que a superação critica dessa mentalidade é uma das grandes tarefas do atual Budismo brasileiro. No caso do Zen ocorreram distorções ainda mais severas: a influência de D.T.Suzuki provocou terríveis distorções como o anti-intelectualismo e o desprezo pela doutrina e pelo pensamento budistas. Acredito que uma crítica severa ao pensamento de D.T.Suzuki se constitua em uma das questões mais importantes do atual “Budismo brasileiro”. A meu ver Suzuki apresenta uma perspectiva essencialmente mágica do Budismo que ajudou a enraizar uma postura individualista que despreza o pensamento budista e que se constitui em um sério obstáculo ao desenvolvimento da Sangha budista em nosso país.

O segundo se deu a partir dos meados da década de 90 através da introdução das diversas linhagens do Budismo tibetano em nosso país. Nesse período o Budismo começou a ter uma visibilidade social bem maior e sua influência se expandiu bastante para além das comunidades étnicas de origem oriental.

Acredito que o terceiro período, que agora vivenciamos se constitua em uma avaliação crítica dos avanços e dos obstáculos presentes nos dois períodos anteriores. Com a expansão das comunidades budistas brasileiras e com sua crescente presença na sociedade não será possível evitar a questão da relação dessas comunidades com a sociedade brasileira. Acredito assim, que o essencial no momento é fortalecer a educação e o estudo sistemático do Budismo. Acredito também que só existirá um “Budismo brasileiro” no momento em que os budistas começarem a pensar a sociedade brasileira a partir das premissas da tradição budista.

Horizonte: Durante o levante tibetano de março deste ano, você foi um dos poucos praticantes budistas do Brasil a falar e escrever abertamente sobre a questão, condenando a repressão patrocinada pelo regime autoritário chinês. O que o moveu nesta direção e o que parece ter impedido que outros líderes budistas se manifestassem com a mesma veemência?

Rev. Shaku Shoshin: As posturas que assumi durante o levante tibetano foram derivadas em parte do estudo e da reflexão que venho desenvolvendo há mais de duas décadas sobre a questão tibetana e em parte de um sentimento de urgência que me fez perceber que estava enfrentando um momento de importância decisiva. Senti que era chegado o momento de passar à ação. No que diz respeito às lideranças budistas a que você se refere não posso dizer nada de conclusivo a respeito dos eventuais obstáculos que as impediram de agir. Com umas poucas exceções os líderes budistas brasileiros responderam à atual situação através de um silêncio para mim incompreensível. Não quero e não posso dar uma resposta conclusiva a respeito da postura dessas lideranças a que se refere, mas acredito que seu silêncio talvez seja uma expressão da mentalidade individualista que tem bloqueado tanto o estudo sistemático do Budismo em sua relação com a sociedade contemporânea quanto a formação de uma visão comunitária conducente à práxis social. Se for esse realmente o caso, acredito que a superação dessa mentalidade seja precisamente a tarefa mais importante das lideranças budistas brasileiras.

Horizonte: Poderíamos dizer que essa omissão na época do levante tibetano por parte de líderes budistas, em especial a comunidade brasileira do Budismo Tibetano, constitui-se num contrasenso? Pelo menos, esta tem sido a opinião que muitas pessoas, budistas ou não, têm remetido a nossa redação!

Rev. Shaku Shoshin: Essa é outra questão que não posso responder de forma conclusiva. Tenho pouco contato cotidiano com as Sanghas tibetanas em nosso país e muito poucas experiências de diálogo com seus líderes. Levantando uma hipótese a ser confirmada, essa postura dos budistas de tradição tibetana pode ser uma falha circunstancial da introdução dessa tradição ou pode ser a expressão de que o processo de introdução do Budismo tibetano no Brasil possui aspectos mais problemáticos do que geralmente se pensa. Tive até hoje muito pouco contato com os budistas de tradição tibetana no Brasil, mas percebi através desses contatos alguns pontos extremamente positivos e alguns aspectos possivelmente problemáticos. O que sinto como a contribuição mais consistente do Budismo tibetano em nosso meio é que ele conseguiu formar uma minoria de estudiosos sérios do pensamento budista em um nível jamais divisado em nosso país. No entanto, sinto que o senso comunitário centrado nas linhagens talvez tenha sérias dificuldades na passagem para a práxis social concreta. Todas essas são questões que gostaria de compartilhar em um eventual diálogo com os líderes das tradições tibetanas no Brasil.

Horizonte: Você faz parte do Colegiado Buddhista Brasileiro (CBB). Qual tem sido a posição do CBB quanto à questão tibetana, em particular, e quanto a questões sociais de ordem geral? Os membros compartilham a noção de um "budismo socialmente engajado" proposto pelo monge vietnamita Thich Nhat Hahn?

Rev. Shaku Shoshin: A formação do CBB foi um acontecimento fundamental para o atual “Budismo brasileiro” pois se constitui em um indício de que o Budismo começa a sentir a necessidade de atuar de forma mais planejada e sistemática no momento em que passa a ultrapassar as antigas fronteiras demarcadas pela mentalidade individualista. No entanto, é um fato que os membros do CBB possuem visões bastante díspares tanto a respeito do Budismo quanto no que diz respeito à sociedade. Existe assim uma séria dificuldade de formar um consenso mínimo que possibilite uma ação concreta em nosso contexto. A respeito da questão tibetana a postura do CBB tem se expressado como um apoio ao movimento de libertação do povo tibetano, mas acredito que seja necessário um debate interno mais intenso e mais sistemático. Como um exemplo, posso apontar para a necessidade urgente de um debate interno a respeito das propostas muito consistentes defendidas pelo Professor Flávio Marcondes Velloso a respeito de um possível encaminhamento pelo governo tibetano no exílio de um processo de reintegração de território para a Corte internacional de Haya. Acho esse um debate inescapável. No que diz respeito às questões sociais em geral acho que seria cruel exigir isso do CBB no momento: uma visão do que fazer na sociedade brasileira só poderá existir a partir do momento em que os budistas começarem a refletir sobre a sociedade brasileira a partir de premissas budistas.

Quanto à influência do “Budismo engajado” defendido por Thich Nhat Hahn posso dizer que ela é fortemente presente em alguns membros do CBB e menos relevante em outros. Embora o CBB encoraje no essencial a participação social dos budistas acredito que não existe uma visão consensual a respeito do “Budismo engajado”.

Horizonte: Você lecionou em Taiwan por praticamente dois anos, no Departamento de Língua Japonesa da Ishou University, não é mesmo? Como é a vida dos taiwaneses, comparada à dos chineses continentais? O budismo é praticado de forma mais livre em Taiwan do que na República Popular da China?

Rev. Shaku Shoshin: Taiwan é uma sociedade extremamente problemática, mas ela foi palco de um dos eventos mais decisivos do fim do século XX: a derrubada da ditadura militar do Guomindang e o estabelecimento de um regime democrático com fortes preocupações sociais. Guardadas as devidas proporções, não hesitaria em dizer que a derrubada dessa ditadura militar sanguinária possui uma importância comparável ao fim do Apartheid na África do Sul dentro da conjuntura de fim de século. A perspectiva da formação de uma nova sociedade Taiwanesa está fortemente ameaçada pelas pressões obscurantistas do governo de Pequim, pelo isolamento internacional de Taiwan e pelo retorno ao poder do Guomindang nas últimas eleições. No entanto, o fim da ditadura militar e o estabelecimento de um regime democrático com fortes interesses sociais se constituíram a meu ver em uma das grandes vitórias da humanidade no fim do século XX. Com todas as dificuldades que enfrenta atualmente Taiwan conseguiu desenvolver realizações no campo da distribuição da renda, da defesa do meio ambiente e da promoção dos direitos humanos que fizeram dela uma sociedade “muito mais à esquerda” ( supondo que termos como “esquerda” e “direita” ainda façam sentido em nossa sociedade atual ) do que o capitalismo selvagem administrado pelo Partido Comunista que existe na China atual. Acredito assim que está na hora de liquidar de vez com a visão derivada da guerra fria que compreendia o conflito entre Taiwan e a China como um conflito entre anticomunismo/comunismo. Essa visão nos fecha completamente os olhos para os problemas atualmente em curso se constituindo em uma distorção ideológica completamente ultrapassada.

No que diz respeito à situação do Budismo em Taiwan e na China existe um forte renascimento budista em curso, mas esse renascimento me parece possuir características completamente diversas nesses dois países. Em Taiwan a participação do Clero budista foi um fator decisivo na derrubada da ditadura militar e isso gerou ao mesmo tempo uma demanda por um Budismo autenticamente taiwanês que fosse algo mais do que um “Budismo chinês em Taiwan”. É importante observar que o pensamento do Rev.Yin-shun (1906-2005), indiscutivelmente a maior figura intelectual e espiritual no moderno Budismo chinês e taiwanês se constituiu em uma influência decisiva nesse processo da luta dos budistas taiwaneses contra a ditadura militar. O renascimento budista na Taiwan pós-1987 (ou seja, pós ditadura militar) foi marcado em parte por um forte engajamento social e em parte pela demanda de um Budismo autenticamente taiwanês.

A situação me parece ser bastante diferente na China. O Partido Comunista pode estar promovendo um renascimento budista como forma de manter a unidade cultural do país, mas os controles estatais ainda são muito fortes e este renascimento me parece estar se dando de uma forma bastante caótica. Existem rumores que apontam para a existência de tendências não conformistas no atual Budismo chinês, mas acredito que essas tendências levarão bastante tempo para se firmar. Acredito que é importante um interesse maior dos budistas brasileiros a respeito do que acontece nos Budismos taiwanês e chinês e que podemos aprender muito com os novos desenvolvimentos do Budismo taiwanês a partir de 1987. Acredito que ele pode ser um marco para os praticantes do “Budismo engajado”.

Horizonte: Que relações você vê entre Budismo e Direitos Humanos? Podemos inserir o mundo budista definitivamente neste âmbito? Como isso poderia ser feito?

Rev. Shaku Shoshin: Essa é outra questão decisiva que exige uma séria consideração. Acredito que o conceito de direitos humanos é um produto da modernidade essencialmente distinto das diversas modalidades de defesa da dignidade humana nas sociedades tradicionais e que ele seja um conceito absolutamente indispensável para a defesa da dignidade humana face à incontrolável violência do capitalismo globalizado. Assim sendo, acredito não só que os budistas devem assumir uma postura essencialmente afirmativa em relação ao conceito dos direitos humanos como também que eles precisam elaborar uma perspectiva própria desse conceito a partir das premissas de sua tradição. Esse é um assunto amplamente discutido no atual Budismo japonês e já escrevi alguns artigos nessa língua que tratam da relação entre Budismo e direitos humanos. A nível filosófico acredito que existem fortes pontos em comum entre o Budismo e a concepção dos direitos humanos que possibilitam a articulação de uma visão especificamente budista nesse campo. Exemplos significativos dessa convergência filosófica são a existência no Budismo de um conceito abstrato da condição humana (no sentido de uma visão da condição humana para além das distinções de etnia, cultura e gênero) e de uma ética social que enfatiza a necessidade de fortes mecanismos de justiça econômica. Tudo isso é muito próximo de uma visão universalista dos direitos humanos como justiça social.

Horizonte: O autoritarismo, a discriminação e o revanchismo religioso por conta de divergências religiosas, preconceito, homofobia, machismo ou outros motivos são coisas raras na história do Budismo, embora não sejam inexistentes. Em certos países budistas alguns destes problemas foram mais intensos que em outros. De qualquer forma, sua intensidade é visivelmente menor que aquela que a história nos mostra no caso das religiões teístas ocidentais? Isso seria explicado pela visão mais empírica e experiencial das práticas religiosas orientais, centradas no indivíduo e não na submissão coletiva, ou pode ser atribuído a outro motivo?

Rev. Shaku Shoshin: Essa é outra questão extremamente complexa que exige uma séria consideração. As enormes diferenças entre as diversas tradições budistas a esse respeito, assim como as diferenças entre países e épocas fazem com que essa questão assuma uma enorme complexidade. Acredito que uma resposta a essa questão exige uma análise rigorosa da história das sociedades envolvidas. Faço no entanto uma única ressalva e o faço de forma bastante incisiva: precisamos superar urgentemente uma visão do Budismo como “exceção absoluta na história da humanidade”. Tomando por exemplo o mito de que o Budismo realmente existente sempre possuiu um caráter pacifista sou obrigado a admitir que a tomada de consciência do apoio dado pelo Budismo japonês às guerras imperialistas desenvolvidas pelo estado japonês no século XX foram para mim a fonte de um intenso sofrimento.

Existe, no entanto, um fator que me anima e que me estimula na relação com o Budismo: a incomparável honestidade e integridade de alguns budistas japoneses do pós-guerra em confrontar de forma contundente esse aspecto problemático de sua tradição. Se destacam aí Professores como Ychikawa Hakugen, Shigaraki Takamaro e Hakamaia Noriaki que se constituem a meu ver no mais elevado patamar ético não apenas do Budismo japonês do pós-guerra como também da própria sociedade japonesa contemporânea. Destacam-se aí também pensadores sem conexão formal com o Budismo, mas fortemente influenciados por seu pensamento como foi o caso do Professor Yenaga Saburo. Esses pensadores japoneses do pós-guerra abriram dimensões radicalmente novas do pensamento e da ação social budistas que estão esperando por um maior reconhecimento pelos budistas brasileiros. Existe aí claramente o aparecimento do melhor através do confronto radical com o pior e mais criminoso aspecto da tradição. O Budismo japonês pode ser marcado por aspectos profundamente problemáticos, mas ele não só foi a primeira tradição budista a dominar as categorias da modernidade e de formular sua própria versão dessa modernidade: ele foi o primeiro a confrontar de forma contundente as profundas contradições dessa sua versão da modernidade. Acredito ser indispensável aprender mais sobre essa dimensão aqui no Brasil.

Horizonte: Em março deste ano você participou do ato de solidariedade ao povo do Tibet diante do Consulado da China, junto com outras trinta pessoas. Em seu relato, escreveu textualmente que "Budismo sem coragem, pensamento e ação não passa de fato de um pseudo-Budismo, possivelmente parecido com a coisa original mas indigno de comparação com ela". O que isso realmente implica? Seria sinal de que os praticantes budistas precisam se inserir mais nos problemas das comunidades em que vivem ou é mais sério ainda?

Rev. Shaku Shoshin: Minhas declarações a esse respeito devem ser tomadas em um sentido absolutamente literal. Acredito que a questão ultrapassa infinitamente o problema do nível relativo do envolvimento dos budistas brasileiros com as questões sociais. O que está em jogo aí é a existência ou não de uma consciência das implicações da tomada de refúgio nas “Três Jóias” do Buddha, do Dharma e da Sangha.

Horizonte: Atualmente, podemos sentir um conflito (ainda sutil) entre a religião (qualquer uma) e o estado, que se define na maior parte do mundo como laico, mas sem a capacidade de promover uma mudança real na vida das pessoas, por ser um corpo decadente desconectado do ser humano como indivíduo. Seria possível uma visão complementar ao invés deste conflito, uma espécie de "caminho do meio" para o bem-estar social E espiritual do ser humano?

Rev. Shaku Shoshin: Essa é outra questão central de nossa época. Acredito que nossa época se caracteriza por entre outras coisas um conflito bastante específico entre o estado laico e as novas tendências fundamentalistas na religião. O estado laico em nossa época é fundamentado em grande parte em uma visão de mundo cientificista incapaz de fundamentar a ética social e passou a possuir uma função essencialmente excludente na medida em que abdicou de promover a justiça social. Por outro lado, tendências fundamentalistas na religião sem fundamentação filosófica têm proporcionado um esteio moral extremamente problemático para as populações excluídas que mantém sua coesão interior às custas de uma cristalização em um universo que não consegue apreender as complexidades da sociedade contemporânea. Como essas duas tendências não possuem quase nenhum terreno comum o diálogo entre elas se torna virtualmente impossível. Isso está conduzindo a meu ver a uma cisão social sem paralelos. Acredito assim que só uma nova perspectiva filosófica capaz de superar tanto o cientificismo quanto o fundamentalismo será capaz de fundamentar uma nova relação entre o estado e as religiões. Essa possibilidade existe, mas precisa ser compreensível ao ponto de se concretizar nas relações do cotidiano.

Horizonte: Agradecemos muito a sua gentileza em ceder-nos esta entrevista e o parabenizamos por sua coragem em defender o povo tibetano, os direitos humanos, e em ser uma das poucas vozes do Budismo brasileiro a denunciar o genocídio promovido pela ditadura de Pequim. Gostaríamos que você deixasse algumas palavras a nossos leitores sobre a responsabilidade social que uma pessoa verdadeiramente religiosa deve demonstrar para com todos os seres humanos, não esquecendo de outros seres, como plantas e animais.

Rev. Shaku Shoshin: Acredito que toda espiritualidade verdadeira se expressa através de uma vida ética e que essa vida possui características que conduzem necessariamente a uma relação tensa com o senso comum de nossa época. Toda espiritualidade ética se expressa também através de um processo de auto-interrogação que inclui necessariamente um questionamento dos valores que norteiam o processo de nossas vidas. Em uma época marcada não só por enormes desníveis de renda, pela inquietante presença do genocídio e pela guerra como também pela ameaça da extinção de todo o processo da vida incluindo aí as realizações humanas em sua totalidade em função de fatores como o aquecimento global essa auto-interrogação assume uma dimensão particularmente severa.

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domingo, 7 de setembro de 2008

 

Budismo no Brasil para o Século XXI - Reflexões e Metas, no Dharma

Flávio Marcondes Velloso



“A religião organizada mata o espírito,
sempre que o acomoda no que fazemos
e o inibe no que somos.”

(FMV, Escritos Esparsos, 2008,
http://fmarcondesvelloso.blogspot.com)

O presente artigo não tem a pretensão de ser uma sentença pronta e tampouco o receituário para a solução dos “problemas do mundo”. Nasceu de honroso convite com que nos distinguiu o Reverendo Genshô, diante de perguntas que formulamos no Colegiado Buddhista Brasileiro, na condição de “Membros Colaboradores”, em face da atenção de dois de seus insignes “Membros Fundadores”.

Difícil “mexer” com o status quo ante, mas o fazemos com espírito aberto e profundo respeito a cada ser humano. As diferenças de nossos corações e mentes nos fazem iguais em nossa condição de sermos homens. À frente, por certo, temos o Dharma em comum escopo, a partir de nós próprios. Eis o intento de nossa reflexão.

Para o que pretendemos propor, alguma segurança nos trazem nossas vidas passadas em berços do Hymalaia, nomeadamente as vividas enquanto monge e lama, para além de nossa formação acadêmica, vivência em continentes vários, prolongada moradia em capitais do chamado “primeiro mundo”, estudos regulares em Universidades, tais como as velhas Sorbonne e Coimbra, nos anos 80 e 90, obras publicadas, especialmente “Direito de Ingerência por Razões Humanitárias, em Regiões de Conflito”, “Tribunal Internacional de Justiça, Caminho para uma Nova Comunidade” etc. Filosofia e Economia em Londres. Magistério de Direito na Universidade Lusófona de Lisboa. Atualmente, escrevendo sobre “Iluminação Crística para o Milênio Terceiro”, esperando uma breve publicação. Encontrando-nos em nossa terra natal, Guaratinguetá, São Paulo, cidade do Presidente Conselheiro Rodrigues Alves e de Frei Galvão, o primeiro “santo” brasileiro.

Mas nada dessa identificação sobre nossa pessoa tem importância. Em mundos mais ditosos, como é sabido, nem de nomes precisamos. Comunicamo-nos em pensamento e nos conhecemos pelo que verdadeiramente somos, dispensando apresentações. Nossa luz simplesmente brilha mais ou brilha menos, conforme a pureza de nossos sentimos e ações. Neles, as palavras são pobres, como pobres são os títulos que conquistamos na Terra. Portanto, não há nenhum envaidecimento de nossa parte respeitante ao parágrafo anterior, pelo contrário! Temos plena lucidez de nossa insignificância. Entretanto, aí estão algumas linhas a nosso respeito, em razão de percebermos a necessidade, para alguns, desses breves esclarecimentos. Infelizmente, mesmo para Membros de um seleto Colegiado revelaram-se ainda indispensáveis perante o que nos foi contraposto.

As perguntas que apresentamos foram motivadas pela quase não-participação das Sanghas brasileiras face aos acontecimentos recentes no Tibete, por seu inafastável anseio de libertação espiritual, social, fim da violência e das transgressões dos direitos humanos pelos últimos cinqüenta anos:

- "No geral, onde estariam as Sanghas? Não seria o momento de o CBB recomendar definições e postura? É sabido de seus respectivos desafios internos, mas as Sanghas continuarão sem responsabilidade social?"

Reflitamos... Não estamos aqui para criticar ou disputar lugares ou louvores. Façamos isso com a elevação de nosso Buda interior. Pensamos que seja fundamental, nessa quadratura, estabelecer um “plano de metas” para os próximos anos e a partir dele trabalhar as comunidades envolvidas. Para tanto, é imprescindível ter a consciência do poder que o CBB detém e exercê-lo como um dever no Dharma. Devemos contar com a luz de cada um dos senhores líderes, do que não seria ajuizado declinar.

O que é uma Sangha? Qual a sua essência senão o Amor? Qual amor? Amar individualmente é humano. Amar universalmente é divino. Qual a dimensão que devemos tomar para o seu efetivo exercício? Na harmonia da convivência comunitária, na mantença da consciência e do seu sentido social. Quando não atingimos isso não podemos considerar o que se denomina uma verdadeira Sangha.

Lembra-nos Thich Nhat Hanh, apontando o evangelho de Mateus: - “Vocês são o sal da terra, mas se o sal se tornar insípido, com que se há de restaurar-lhe o sabor? Para nada mais presta, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens.” Para o cânone budista, os seus Reverendos, Monges, Mestres, Professores do Dharma, no conjunto das Sanghas, são o seu valoroso, temperado sal. Ainda o Venerável Vietnamita: - “o Buda disse que a água nos quatro oceanos tem um só sabor, o sabor do sal, assim como seus ensinamentos têm apenas um sabor, o sabor da liberação. Portanto, os elementos da Sangha são o sabor da vida, o sabor da liberação e temos que praticá-los de forma a nos tornarmos o sal. Quando dizemos que tomamos refúgio na Sangha não é uma declaração, é uma prática. É dito no Sutra da Terra Pura que se somos conscientes, quando o vento tocar as árvores ouviremos os ensinamentos dos Quatro Estabelecimentos de Atenção Plena, o Nobre Caminho Óctuplo... O cosmos todo estará rezando o Dharma do Buda e o praticando. Se formos atentos, estaremos realizando essa Sangha.”

Restamos de inteiro acordo com essas observações. Hoje mais do que nunca não devemos abandonar nossa sociedade, nossa cultura ou nossas raízes. O Budismo deve praticar essa consciência nas Sanghas e levá-las para fora. A prática budista deve formar e ajudar as pessoas a se ajudarem, a redescobrirem valores abafados pelos equívocos dos descaminhos e da “modernidade”. Qual a melhor linhagem? Não há “a melhor”, mas aquela em que mais se identifica cada um e interage em seu interior, “aclimatada” no espaço presente. Nessa abordagem, o Budismo brasileiro, como um todo, deve ter a autenticidade de assumir a sua cara, em parâmetros acertados. Esses parâmetros podem e devem ser estabelecidos pelo CBB. Até onde o CBB deverá recomendar a atuação social na formação e prática das Sanghas brasileiras? O brilho pela ausência das Sanghas no Debate nacional de 12 de maio último é algo emblemático, sintomático do tamanho trabalho e desafio pungente. E não se pode dizer da dificuldade de deslocamento em um país continental para se fazerem presentes, porquanto os sites de quase todas as Sanghas e outros pessoais, cuja postura virtual seria didática, sinalizadora, não assumiram sua insubstituível parcela de atuação. Quase nenhuma notícia, quase nenhuma divulgação, quase nenhuma participação, quase nenhuma campanha, enquanto o Dharma estava e continua a arder naquele espaço do globo.

Por que o Tibete? O Tibete, por motivos óbvios, por ter sido invadido e sofrer há mais de meio-século um genocídio cultural, conseqüente e forçosamente ter o seu líder espiritual e político em exílio por todo esse período - ninguém menos que Sua Santidade o Dalai Lama -, com parte de sua gente igualmente em exílio, passou a representar, naturalmente, os anseios de liberdade e respeito aos direitos humanos dos povos de todo o mundo. Portanto, implicando em lídimo e decisivo exercício de nossa cidadania universal. Não desmerecendo outras regiões necessitadas, mas fortalecendo-as pela comunidade internacional em comunhão e partilha de valores, atuações pontuais. Mianmar etc. etc. etc.

É imperioso fincar raízes aos nossos jovens, os quais, grosso modo, se encontram soltos de suas famílias, de sua sociedade, talvez pela desestrutura desses núcleos, carentes de algo a que possam pertencer e ligar a outros. Se a Sangha alimenta essa disposição formativa e age como uma grande família, os jovens sentem-se mais integrados e, por conseguinte, partícipes de sua comunidade consciente. As Sanghas haverão de ter ciência que a dor do mundo é a sua “salvação”. O amor universal, incondicional, possibilitando que perdoemos a nós mesmos em primeiro. E com a nossa transformação, mudando-se o que precisa ser mudado externamente, com muito respeito, resignação, compreensão, humildade e reconhecimento. Pois essa dor que nos contemplou em chegar até aqui é que possibilitará caminharmos ainda mais, muito mais.

Valendo-nos da autoridade de Thich Nhat Hanh, “a prática é, portanto, fazer crescer algumas raízes. A Sangha não é um lugar para se esconder de forma a se evitar responsabilidades. A Sangha é um lugar para praticar, para a transformação e a cura do ego e da sociedade. Quando você é forte, pode estar presente de forma a ajudar a sociedade. Se sua sociedade está em confusão, se sua família está desestruturada, se sua igreja não é capaz de te prever vida espiritual, então você trabalha para tomar refúgio na Sangha de forma que possa restabelecer sua força, seu entendimento, sua compaixão, sua confiança. Então, você poderá usar sua força, entendimento e compaixão de volta para reconstruir sua família e sociedade, para renovar sua igreja, para restabelecer comunicação e harmonia. Isto pode ser apenas feito como comunidade, não como indivíduos, mas como uma Sangha. Uma Sangha não é uma comunidade de prática onde cada pessoa é uma ilha, incapaz de comunicar-se com os outros. Isto não é uma Sangha verdadeira. Nenhuma cura ou transformação resultará de tal Sangha. Há muito sofrimento, sim, e temos que abraçar esse sofrimento. Mas para ficarmos fortes, também precisamos tocar os elementos positivos e quando formos fortes, poderemos abraçar o sofrimento em nós e ao nosso redor.”

Quando conseguimos a formação de grupos conscientes, “capazes de sorrir, de amar”, estaremos projetando confiança no futuro de forma a não perder o estímulo necessário para a prática quotidiana no presente. “Em uma Sangha boa e saudável há encorajamento para a mente do principiante, para nossa bodhicitta. Portanto, a Sangha é o solo e somos a semente. Não importa o quanto seja bonita e vigorosa nossa semente, se o solo não nos provê vitalidade, nossa semente morrerá. A mente principiante pode ser quebrada, destruída, perdida se não for nutrida ou apoiada por uma Sangha. Uma Sangha onde todos estão praticando a caminhada atenta, fala atenciosa, alimentação consciente parece ser a única chance para termos sucesso para terminar o círculo vicioso” do momento em curso.

O Colegiado Buddhista Brasileiro já se perguntou quais as contribuições do Budismo que devem ser implementadas para a construção de uma sociedade mais ética, justa e compassiva? O seu contributo para o amadurecimento da democraticidade e do próprio Estado democrático de Direito na sociedade em que está inserido?

O Budismo brasileiro deve ter a sua identidade, a sua voz e natural liderança no Colegiado. Todavia a conquista dessa autoridade está a meio caminho, dependente de uma maior e decidida atuação. É mister o estabelecimento eletivo desses pilares, internamente, de forma tão democrática quanto possível. Definido o seu corpo, sólida e harmonicamente, o mesmo precisará ser externado em nível de projeção nacional, interativamente junto a todas as Sanghas. Observando-se que o pior dos critérios é melhor do que critério nenhum. Para tal sorte, a elaboração de seu Estatuto e de seu Regimento Interno se faz inadiável.

Uma vez aprovados pelo CBB o seu Estatuto e o seu Regimento Interno, então a sua atuação devesse expandir para todas as Instituições, ligadas direta ou indiretamente ao Budismo. Quanto mais Sanghas e Institutos afiliados, com aceitação expressa das diretrizes do Colegiado melhor, mais dinamismo, mais responsabilidades, mais ações, mais resultados, mais inserção e influência positiva, exemplar, na edificação de uma sociedade desejável, com horizontes mais claros de um mundo novo. Ainda nos dias presentes não é vergonhosa a postura do governo federal frente à violação dos direitos humanos por parte do governo chinês? O Ministério das Relações Exteriores respondeu à Carta Aberta do Colegiado? Responderá a essa e outras questões na medida de sua intensidade junto à sociedade brasileira, pelo maior número de brasileiros nas Sanghas e nos demais meios budistas brasileiros. O CBB como voz ativa do Budismo, organizado para ter inquestionável autoridade ética e social, bem como diretrizes ponderadas de sua sabedoria espiritual. O isolamento de iniciativas em suas variadas vertentes não será mais saudável para o crescimento harmônico do conjunto do Budismo brasileiro. O CBB, salvo melhor juízo, não pode parar de liderar, crescer e agir, daqui para frente sempre assumindo novas responsabilidades sociais, para as mudanças e melhorias na qualidade de vida. A prática do CBB, a prática das Sanghas em consonância, a prática dos indivíduos então recebedores de formação consciente são fundamentais para o mundo que queremos. Mas qual o mundo que o CBB quer ver, quer ajudar a construir? Para o sábio Thich Nhat Hanh, “precisamos dar ouvidos ao nosso próprio sofrimento e ao sofrimento de nossa família, comunidade, nação e não só. A Terra está padecendo, nossa sociedade está padecendo e há tanto desespero e violência. É possível ser feliz com uma vida simples, com tempo para tomarmos conta de nós mesmos, de nossa família, daqueles que sofrem e, ao mesmo tempo, promovermos uma justiça social maior. Quando praticamos o segundo treinamento da generosidade para oferecermos nosso tempo, energia e recursos materiais àqueles que necessitam realmente deles, nossa vida torna-se repleta de significado e realização. O Budismo e a prática dos Cinco Treinamentos têm muitos meios para levar mais justiça e compaixão à sociedade. Com plena consciência, compaixão e compreensão dentro de nós, agimos naturalmente, levando a cura a nossas relações, comunidade e sociedade. Devemos estar cientes das situações de injustiça, como desigualdade entre gêneros e a exclusão da mulher, a opressão de minorias, a exploração das crianças e dos pobres. Há muitas formas de falarmos sobre injustiça e de chamarmos a atenção para aqueles que sofrem e não são ouvidos. Podemos organizar passeatas para promover a paz, pois cada passo é um movimento em direção à paz. Não se trata de uma demonstração ou de um protesto, mas sim de uma verdadeira manifestação de paz, de irmandade. Podemos escrever declarações de amor a nossos políticos e representantes. O Budismo Engajado é o primeiro de todos os tipos de Budismo praticado ao longo de todo o dia, ininterruptamente, vivendo em plena consciência e concentração quando caminhamos, dirigimos, cozinhamos, vamos ao banheiro etc. O Budismo Engajado também é a nossa prática dos Cinco Treinamentos da Plena Consciência dentro de nosso ambiente social. Praticamos a compreensão e o amor em nossa família, escola, local de trabalho, hospital, prisão, fábrica, exército, prefeitura e governo. Não precisamos usar termos budistas para trazer a prática à nossa vida diária. Nossa sabedoria é o interser, a Visão Correta Budista do mundo, no sentido de que tudo depende de todo o resto para se manifestar. Não somos apenas nosso corpo e espírito, somos também nosso ambiente. Nosso ambiente é a retribuição de nossa ação coletiva. Viver com simplicidade, desenvolver a compreensão e o amor, cuidar de nosso ambiente, assumir um compromisso em prol do desenvolvimento sustentável. Em outras palavras, seguir o caminho do Buda. Nossa civilização se auto-destruirá se não acordarmos a tempo. A prática da escuta profunda e da bondade amorosa preserva e recupera a comunicação. A prática da plena consciência possibilita a transformação e a cura, fazendo com que os pais protejam-se contra o divórcio e o distanciamento de seus filhos. Os Estudos Budistas se tornaram teóricos demais ao longo do tempo. Podemos ser doutores em estudos budistas e não saber como transformar nosso sofrimento e nossas angústias. Não temos a habilidade necessária para formar uma Sangha, para ajudar a reconciliar conflitos em nossa família ou comunidade, para praticar os treinamentos da plena consciência, a concentração e o insight. Hoje em dia, nosso conhecimento sobre o Budismo só nos permite escrever livros budistas e ensinar o Budismo nas escolas. Temos que reorganizar nossos estudos budistas e transformar nossas instituições de ensino em centros de prática também. Vamos formar instituições de Budismo Aplicado e oferecer cursos e práticas voltados à transformação e à cura. Nas escolas, nossas crianças precisam ter a chance de aprender a lidar com a raiva e a violência que trazem dentro de si, saber como escutar com compaixão e usar a fala amorosa. A instrução cívica e a ética budista devem ser ensinadas de modo que mesmo as crianças mais jovens possam praticá-las. O Dharma está disponível a muitas pessoas nesta Era Digital. Podemos participar de uma palestra no Dharma ao vivo, de uma discussão do Dharma, ou até mesmo de uma sessão de meditação sentados com um Mestre e uma Sangha sem sairmos de nossas próprias casas, a quilômetros de distância do Mestre e da Sangha. Contudo, a construção de uma Sangha requer escuta profunda, fala amorosa, compreensão, amor e apoio. Uma Sangha por correspondência não é suficiente. Uma Sangha com uma boa prática sempre carrega consigo o Buda vivo e o Dharma vivo. Assim, aprender meios de construir uma Sangha torna-se uma prática essencial. É também muito importante modernizar e atualizar nossas tradições para que permaneçam relevantes às pessoas de nossa era. O Buda nos ofereceu uma ferramenta diagnóstica muito boa sob a forma das Quatro Nobres Verdades: o sofrimento, as raízes do sofrimento, o fim do sofrimento e a prática para cessar o sofrimento. O Budismo deve ser praticado à luz das Quatro Nobres Verdades e a transformação e a cura de que necessitamos deverão acontecer aqui e agora, e não posteriormente, em outro mundo. Sabemos muito bem como apresentar teorias budistas, mas ainda não conseguimos colocar seus lindos ensinamentos em prática no aqui e agora. A prática, principalmente o Dharma vivo, deve ser bela no aqui e no agora. Vamos aproveitar esta oportunidade para compartilhar nosso insight e nosso despertar, vamos nos comprometer a viver nossa vida diária à luz deste insight e deste despertar, e apoiar uns aos outros neste caminho de vida. As contribuições do budismo à construção de uma sociedade, justa, democrática e civil devem ser observadas em nossa prática, em nossa vida diária. Através de nossa consciência, nosso despertar, nosso compromisso, podemos ser a própria mudança que queremos ver em nossa sociedade”.

Definidas, sopesadas essas considerações, seriam mais facilmente elencadas as “metas” para o Budismo no Brasil, no enfrentamento dos desafios do Séc. XXI e amadurecimento das questões seguintes:

1º O que o CBB quer para o CBB?

2º O que o CBB quer para o Budismo brasileiro?

3º O que o CBB quer para as Sanghas brasileiras?

4º O que o CBB quer para a Sociedade brasileira?

5º O que o CBB quer para os demais Povos e, de uma forma muita especial, para o Planeta Terra?

6º Em vista das cinco questões anteriores, quais as ações a serem implementadas e o organograma a que se propõe cumprir?

7º Quais as recomendações formais e as atuações a serem passadas às Sanghas, demais Instituições, direta ou indiretamente ligadas ao Dharma, e à Sociedade brasileira, para a construção de uma realidade mais equilibrada e equânime?


A sabedoria dos tempos atuais está em conseguir fora sem deixar morrer dentro. No caminho do meio resta o desafio do homem integral.

Com a máxima vênia, é tempo de mais semeadura. É tempo de mais transformação. Nós, pessoalmente, acreditamos na grande capacidade de cada Membro e no potencial imenso do Colegiado Buddhista Brasileiro. Estamos, portanto, profundamente convosco. Estejam também conosco.



Fraternal e cordialmente,

Flávio Marcondes Velloso, prof.
http://fmarcondesvelloso.blogspot.com
VIII-2008

Post Scriptum

“Que eu me torne em todos os momentos, agora e sempre,
um protetor para os desprotegidos,
um guia para os que perderam o rumo,
um navio para os que têm oceanos a cruzar,
uma ponte para os que têm rios a atravessar,
um santuário para os que estão em perigo,
uma lâmpada para os que não têm luz,
um refúgio para os que não têm abrigo e
um servidor para todos os necessitados.”
(Dalai Lama)

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