domingo, 6 de janeiro de 2008

 

Glozel Decifrado! Proposta de decifração de uma escrita antiga feita por um brasileiro

Paulo Stekel


[Tabuletas de Glozel contendo inscrições alfabetiformes. Para Stekel, pertencem a uma cultura pré-celta que influenciou as escritas grega, latina e mesmo o sistema fenício consonantal.]

Situando o Caso Glozel

Glozel é uma pequeníssima aldeia a sudeste de Vichy, na França. No dia 1º de março de 1924, o jovem de 17 anos Émile Fradin, juntamente com seu avô, lavrava uma área de pastagem quando um dos animais que puxava o arado se atolou devido ao brusco afundamento do terreno. Ao desenredar o animal, Fradin constatou a existência de uma construção, afundada no terreno. Escavando, encontrou pedras assentadas, tijolos, cacos de cerâmica, uma tábua coberta de curiosos sinais e alguns instrumentos de pedra.

Os achados começaram a ser analisados por um médico de Vichy e também arqueólogo amador, o Dr. Antonin Morlet, que em seu primeiro relatório afirmou que o achado não tinha qualquer ligação com os estabelecimentos romanos ou gauleses conhecidos. As escavações continuaram, e começaram a sair vasos de cerâmica, pedras com inscrições e diversos implementos de pedra e osso de rena. Dois anos após o primeiro achado, o número de objetos retirados era da ordem de dois mil, bem como ossos humanos, uma parte dos quais se apresentava fossilizada. [NOTA: As escavações continuaram até 1941, e muitas outras tabuletas com inscrições foram encontradas].

Mesmo assim, devido à política nada científica dos cientistas oficiais, o achado foi considerado uma fraude. O conservador chefe do Museu de Saint Germain, professor Salomon Reinach, de sólida reputação, escavou no local, e no tocante às inscrições afirmou aceitar a existência de uma escrita, bem como sua originalidade, sem qualquer ligação com as identificadas até então. Ao mesmo tempo, pesquisadores portugueses chegaram à conclusão de que também em seu país havia um sítio com material similar em Alvão (região de Trás-os-Montes), que foi localizado em 1894 [são as famosas “Pedras do Alvão”, atualmente em um museu daquela cidade e não abertas à visitação pública].

Fradin chegou a ser processado por falsificação em 1930, mas foi absolvido, por total falta de provas (era muito material para ser falsificado por um homem só, ignorante em arqueologia e sistemas de escrita). Com o início da Segunda Guerra Mundial e a morte do Dr. Morlet, o silêncio caiu sobre o assunto, para somente ser ressuscitado nos anos de 1970.

Émile Fradin, que se tornou um eminente arqueólogo, com muito esforço veio a formar um importante museu com o material recolhido em Glozel – ver o website oficial do museu - www.museedeglozel.com – , no qual encontram-se quase duas mil e quinhentas peças, entre cerâmicas, pedras trabalhadas e gravadas, ossos humanos e de animais, sendo que os ossos mostram uma tendência generalizada para a fossilização, o que pode indicar grande antigüidade.

Os ossos de animais apresentam-se com desenhos, similares ao do período pré-histórico denominado Magdalenense, pois mostram lobos, caçadores, renas, e diferem daqueles pelo fato de existirem alguns com sinais de escritura, do tipo denominado “glozeliano”. Isso não significa que o material seja do período Magdalenense, mas é um fato intrigante!

Depois de décadas, uma parte do material de Glozel terminou por ser autenticado. Assim, o Museu Nacional de Antigüidades da Escócia, a Comissão de Energia Atômica Dinamarquesa de Risö e o Centro Francês de Estudos Nucleares de Fontenay-aux-Roses, em exames paralelos de termoluminescência, concluíram que as peças eram autênticas, datadas de pelo menos 2500 anos (cerca de 500 a.C.). Posteriormente foram realizados testes de carbono-14 em diversos ossos com inscrições; obteve-se uma datação de pelo menos 8 mil anos, havendo inclusive algumas peças que atingiram 12 mil anos [tais peças foram descartadas depois, sendo consideradas como “contaminadas” por substâncias que interferiram na datação].

As ossadas humanas revelaram datas bem diferenciadas, sendo algumas contemporâneas dos ossos com inscrições, outras medievais e outras bem mais antigas, com até 18 mil anos [contudo, podem não ter relação direta com a cultura que produziu as inscrições].

Devido a essa confusão de datas, e pelo fato de as descobertas não se encaixarem nos paradigmas caducos da ciência oficial, não é de admirar que ainda não exista uma conclusão “oficial” para a questão de Glozel. A hipótese de falsificação, felizmente, foi abandonada.

Tentativas de decifração

Imaginamos que as tabuletas escritas mais antigas sejam de 1500-1000 a.C., mais ou menos. Uma escrita européia há tanto tempo assim? Os acadêmicos não aceitam esta possibilidade. Exatamente por este motivo praticamente ninguém têm se aventurado nos meios acadêmicos a tentar uma decifração dos sinais glozelianos. Os mais corajosos foram Donald B. Buchanan (EUA – 1981) e Hans-Rudolph Hitz (Suíça – 1997 a 2005), que apresentaram propostas de decifração. Contudo, seus sistemas de decifração foram equivocados (Buchanan imaginou que a língua era semítica, feita por mercadores fenícios) ou pouco convincentes e incompletos (Hitz não chegou a traduzir as tabuletas, apenas materiais menores, de uma a duas linhas curtas de texto).

Donal B. Buchanan (EUA), em 1981, publicou um artigo sobre a decifração preliminar do glozélico. Como dissemos, ele acreditava ser o glozélico uma língua semítica. Quando o contatamos por e-mail, em 2004, reconheceu que havia uma pesquisa mais fundamentada que a sua, feita pelo filólogo suíço Hans-Rudolph Hitz, que começou o trabalho de decifração no final da década de 1990. Seus artigos mais recentes são de 2005 [ver www.glozel.net].

Como estudamos línguas antigas desde 1988, tanto línguas semíticas (hebraico, aramaico) quanto indo-européias (latim, grego, sânscrito), lançamo-nos à difícil tarefa de buscar uma decifração para os escritos de Glozel. Ao longo das décadas, muitas teorias foram tecidas sobre como seria a cultura glozeliana. A hipótese com a qual trabalhamos foi a de uma cultura pré-céltica que não usava metais (eles não foram encontrados associados a essa cultura e escrita).

Pensamos que, se as inscrições de Glozel têm uma antigüidade média de 3 mil e 500 anos, sendo muito semelhantes à escrita fenícia e à grega, parecem ser no mínimo 700 anos mais antigas que a escrita grega e, talvez, a sua origem. Mas, por que os sinais de Glozel figuram tão semelhantes aos do fenício, sendo, talvez, contemporâneos deste último? Na verdade, os sinais glozelianos assemelham-se aos sinais fenícios, gregos antigos, latinos e etruscos, e mesmo rúnicos, todos, ao que parece, derivados do mesmo padrão. Até pouco tempo imaginava-se que este padrão era o talhe fenício feito a partir do egípcio ou do proto-sinaítico. Agora, permitimo-nos dizer que o padrão pode ser Glozel!

A proposta brasileira de decifração

Em 1994 apresentamos nossa proposta de tradução para os 118 sinais “fenícios” da maior das tabuletas de Glozel. Tal tradução foi enviada ao Museu de Glozel em mãos através de um amigo. Como não tínhamos certeza da existência deste material atualmente, enviamos em 2004 uma cópia eletrônica da tradução em inglês, que está atualmente depositada nos arquivos do Museu como uma das opções de decifração da “escrita glozeliana”. Em 2005 encerramos nosso trabalho de decifração da escrita glozélica. Está tudo publicado em inglês (os textos foram escritos originalmente nesta língua) no site oficial do Museu de Glozel. O trabalho está disponível para download gratuito em http://www.museedeglozel.com/Trad2000.htm#Stekel. Ao final do trabalho estabelecemos um "glossário glozélico" preliminar.

Começamos nosso trabalho pessoal de decifração da escrita glozélica em 1993, mas só apresentamos o relatório final ao Museu de Glozel em novembro de 2006, depois de nos ter sido enviado bastante material já autenticado contendo as inscrições na tal escrita. Neste relatório, propomos três fases históricas para a escrita glozélica, conforme os sinais gráficos encontrados nas tabuletas de argila cujas cópias nos foram fornecidas pelo próprio Museu.

As três Fases propostas são:

Fase 1 - PRIMITIVA - cerca de 1500?-1000 a.C.: O alfabeto possui 18 letras. Seus sons seriam: Â, Da, E, Ga, I, Ka, La, Ma, Na, O, Ô, Pa, Ra, Sa, Ta, U, Û e Za. Se estivermos certos, o alfabeto glozélico pode ser mais antigo que o fenício, podendo mesmo ser a sua origem. Neste caso, o movimento de disseminação do alfabeto não teria sido fenícia – israel – grécia – roma – glozel, mas glozel – grécia – fenícia – israel – roma. Isto solapa a teoria da origem fenícia e cria a teoria da origem glozélica do alfabeto.

Fase 2 - ORIENTAL - cerca de 1000-800 a.C.: O alfabeto possui 20 letras. Foram incluídos o "Ê" longo e o "Qa", correspondentes ao Eta [Ηη] e ao Qopa [q] gregos. Esta fase é chamada de "oriental" por causa da presença do "qopa", letra utilizada no grego oriental.

Fase 3 - GRECO-ROMANA - cerca de 800-200 a.C.: O alfabeto possui 27 letras. Foram incluídos: "Ça", "Ja", "Kha", "Ksa", "Pha", "Spa" e "Tha". As duas primeiras são de origem estranha e as cinco últimas são de origem "grega", correspondentes a Kha [Ψψ], Ksa [Ξξ], Pha [Φφ], Spa [M] e Tha [Θθ]. Podemos dividir esta fase em dois momentos, dependendo dos sinais envolvidos:

Fase 3A - cerca de 800-200 a.C.: Inclui as letras "Kha", "Pha", "Tha" e "Spa", que têm seus correspondentes gregos mais antigos conhecidos em Melos, Thera, Atenas e Mileto, cerca de 900-800 a.C.

Fase 3B - cerca de 300-200 a.C.: Inclui as letras "Ça", "Ja" e "Ksa", que têm seus correspondentes mais antigos conhecidos nas runas futhark, cerca de 200 a.C. Estas letras só são encontradas nas tabuletas e não nos materiais menores. Elas estão, então, entre os materiais mais recentes.

Em 1993 trabalhávamos com um modelo semítico para a decifração do glozélico. Contudo, a partir de 2003, com os materiais enviados por Donal Buchanan e pelo Museu de Glozel, não pudemos mais sustentar esta teoria, e mudamos para um modelo indo-europeu, que se mostrou muito preciso. A nova análise nos permitiu escrever um glossário etimológico glozélico, com mais de 400 raízes e cerca de 600 termos na linguagem “glozélica”.

No caso da maior das 45 tabuletas de argila encontradas em Glozel, a tradução das 12 linhas originais de texto que apresentamos pela primeira vez em um artigo em Português, para que se tenha uma idéia do seu conteúdo, é a seguinte:

Texto reconstituído: "Gnate ela zade pame kêjla teta rege omaçe kapja îza gowâ takja dala nupe sgama gyôrî kraksê kî-ôyte owû onaça reypjo magne kî-eqa para tama dala papa taga spîye eme kama gazye dâga respoçî datja kaka mutône jala maga qaseu."

Tradução: "Para o filho [que] adianta-se para a execução/realização; para a bebida [sagrada], o companheiro para o rei Teta; para a gordura das tripas [oferecida] obter o comando de Gow, [que] estrangula [e] divide; Nupe ilumina as pedras lá em Gyôra; para o juramento [feito] nas ovelhas [que são] carregadas [oferecidas] para o grande de Reypja, embora o movimento [i.e. a oferta] procure a morte [delas?]. A parte de Papa agrada à minha esperança. Para o devorador Kama sejas bem intencionado na resposta. A doação para o perverso Mutôna; o inchamento [do pênis?] aumenta pelos movimentos violentos."

Este texto – espécie de oferenda – cita sete deuses, a maior parte deles desconhecida da História. Em nosso "Glossário glozélico", as explicações etimológicas sobre estas divindades são:

"Teta - [subst.] Pode ser nome próprio de divindade – Teta.
*Gow – [subst.] Pode ser nome próprio - Gow. Daí: Gowâ - [subst. + abl. Sing.] "por Gow".
Nupe - [subst.] O original é "nup-a". O grego tem νυφη [nüphe] ("noiva; recém-casada"). O latim tem "Niphe" ("Nife: companheira de Diana"). O sentido é "noiva, recém-casada". Pode também ser o nome próprio "Nupe" [correspondente a Niphe] . Aqui, "Nupe".
*Reypja - [subst.] O protocelta tem *reipp-e/o- ("rasgar[-se]"). O sentido pode ser de um nome de lugar - Reypja. Daí: Reypjo - [subst. + gen. Sing.] "de Reypja" + Magne - [adj. + dat. sing.] "para o grande". Assim: "para o grande de Reypja".
Papa - [subst.] O latim tem "papa" ("a papa, a comida dos meninos"), "pappas" ("o pedagogo, o aio do menino: epíteto de Júpiter"). Pode ser um nome próprio - Papa - correspondente ao "Pappas" latino como epíteto de Júpiter.
Kama - [subst.] O grego tem καμενος [kamenos] ("crestado, chamuscado, carbonizado"). O protocelta tem *kamawo- ("pesar, tristeza, dor, desgosto"). O significado é "crestar, chamuscar; crestação". O deus gaulês "Camma"?
Mutôna - [subst.] O latim tem "muto, mutonis" ("membro viril, pênis") e "mutoniatus" (adj. "que tem um grande membro viril"). O protocelta tem *muto- ("pênis"). O sentido deve ser "membro viril, pênis". Contudo, parece ser nome próprio de divindade - Mutôna. Daí: Mutône - [subst. + dat. sing.] "para Mutôna"."

O alfabeto glozeliano

Em 1994, quando escrevemos nosso livro "Projeto Aurora – retorno a linguagem da consciência" (publicado em 2003), que citava a pesquisa sobre Glozel, tínhamos acesso a apenas uma das cerca de 45 grandes tabuletas glozelianas. Portanto, a tradução que apresentamos na época não era definitiva. Ela continha inúmeras falhas. A principal é que considerávamos o glozélico uma língua semítica (como Buchanan).

Em novembro de 2004, o Museu de Glozel enviou-nos cópia eletrônica de mais 45 tabuletas. Tivemos ainda acesso a um "corpus" parcial dos sinais de Glozel, divididos em 111 grupos. Com isso, concluímos tratar-se de um alfabeto usado para escrever uma língua indo-européia que guarda semelhanças com o gaulês, o grego e o latim, mas muito mais antiga.

O trabalho de decifração foi encerrado em outubro de 2006 e imediatamente enviado ao Museu de Glozel para apreciação da comunidade científica. Desde então, está tudo publicado e disponível no site do Museu de Glozel (http://www.museedeglozel.com/Trad2000.htm#Stekel).

A escrita glozélica conta, além do alfabeto, com dezenas de ligações, algo também comum na escrita ibérica, por exemplo. Há tanto ligações de consoantes (encontros consonantais) quanto de vogais (hiatos).

[Para o corpus completo das inscrições, consulte os arquivos em PDF disponíveis gratuitamente no website do Museu de Glozel.]

Comparando o mundo celta e a cultura de Glozel

Analisando a vida dos antigos povos celtas poderemos fazer comparações com a cultura glozeliana, que deduzimos a partir da decifração dos textos das tabuletas, de pedras, vasos de argila e ossos com inscrições.

A palavra "civilização" não deve ser considerada no sentido antigo, uma vez que estudemos os Celtas. Eles não possuíam palácios, nem construíram cidades, mas conheciam a roda. Não viam as coisas como nós. A suprema tarefa do homem era, para eles, domar as forças da Criação, penetrar plenamente o mistério do destino humano e deixar-se embriagar por ele.

Os grupos Celtas da Gália independente (França) receberam a denominação de Civilização de Tène, por causa do lugar onde foram feitas, na Suíça, as primeiras descobertas.

Em 1846, Ramsauer explorava a necrópole de Hallstatt, na Áustria, encontrando 993 sepulturas da primeira idade do ferro e um quadro completo do estágio de civilização que os Celtas haviam atingido em seu habitat de origem ao norte dos Alpes, entre 900 e 500 a.C. Muitas descobertas seguiram-se a esta.

As cinco fontes de que dispomos para estudar os Celtas são:

As informações pouco precisas, mas úteis, dos escritores da Antigüidade, entre eles, o imperador Júlio Cesar;

A arqueologia monumental: traços ou restos de moradias, fortalezas, campos, estradas, utensílios, etc;

A iconografia: a arte do Tène, a escultura pré-romana, a escultura celto-romana e a numismática gaulesa;

A literatura insular, irlandesa e bretã, já tardias, mas contendo muito das antigas lendas comuns aos Celtas;

A língua.

O grande número de nomes próprios contendo em sua composição a palavra epos, "cavalo", mostra a importância dada ao animal, seja na vida econômica, na guerra ou na mitologia. Em Glozel, isto é perfeitamente evidente.

Éforo cita os Celtas no séc. IV a.C., informando que eles habitavam os Países Baixos. Os anais dos padres romanos nos ensinam que os Gauleses haviam obtido a vitória de Ália em 390 a.C. Aristóteles os chama de Keltoi. Timageno conta-nos como, três séculos antes da intervenção romana, a Terra Céltica tinha a feição de um império cobrindo um terço da Europa.

Segundo a arqueologia, a Terra Céltica, até o momento em que entra em contato com o mundo mediterrâneo, não conhece cidades propriamente ditas.
Os Gauleses não se preocuparam em salvar do esquecimento sua linguagem nacional quando aprenderam a escrever.

A civilização céltica, como indo-européia, se destaca por seu arcaísmo. Não lhe falta a noção de Estado - é uma civilização que, como a dos Germanos, a exclui. Muitos dos traços que a distinguem a vinculam com as mais priscas eras, como a caça, a aliança pelo sangue, os parentescos clânicos, o sistema do Dom ou potlach, que é algo como a renúncia heróica ao direito de propriedade.

Quanto aos mitos celtas, dos quais temos registro pela literatura insular, o número dos dias, dos meses ou dos anos - o tempo em geral - devia ter um valor simbólico. Três ou sete não eram números, mas qualidades. Donde a freqüência dessas cifras e dos múltiplos de três na avaliação das quantidades ou do tempo, sem que tenham o menor valor concreto.

Os mitos não são fábulas inventadas por primitivos mais ou menos obtusos. São de todos os tempos e representam o encontro da idéia com o desejo. Os mitos - antigos ou modernos - são um modo de expressão das necessidades do homem fora da razão e da experiência prática. Não ensinam acerca dos acontecimentos. Esclarecem sobre a natureza humana e o clima de uma civilização.

A língua é o instrumento de uma cultura, o signo de uma sociedade, mas não é ela que as constitui em si mesma.

Segundo Cesar, os druidas ensinavam que os Gauleses descendiam de Dispater, o deus dos mortos. Os Celtas eram os "filhos da noite", nem mais nem menos do que o sol que dela emerge. Sua filosofia fundamental era a do Eterno Retorno, que vê a vida brotar da morte, como do inverno a primavera. Isso também se evidencia em Glozel.

Os Celtas se constituíram como povo distinto entre o Reno e o Danúbio durante a primeira idade do ferro. Efetivamente, entre 800 e 500 a.C., o povo que habita a região do centro europeu, onde foi descoberta a civilização dita de Hallstatt é incontestavelmente celta. O povo da civilização de Tène (500 a.C.) também é celta. Glozel é mais antiga pelo menos 200 a 400 anos que Hallstatt. Será celta, com certeza? É anterior à idade do bronze?

A Terra Céltica continental

Além do território da atual França, os Romanos chamavam ainda de Gallia todo o norte e o leste da Itália, Transpadânia e Cispadânia. Entretanto, a unidade da Gália, no interior de limites que não cessaram de variar, era certa. É que uma civilização não é um Estado. Os Gregos antigos são um ótimo exemplo: nunca constituíram um Estado comum.

A unidade dos Celtas lhes adveio, antes de tudo, de uma comunidade de origens míticas e da língua. Eles se sabiam um mesmo todo humano. A instituição druídica velava para entreter esse sentimento e a cultura comum.

Muitos sinais nos indicam que relações continuadas de toda natureza existiam entre os Celtas e os Helenos desde o séc. VII a.C. A partir do séc. III a.C. o tráfico tendo por base a troca de metais (cobre, estanho, ferro), cereais, carnes defumadas do Norte, contra os objetos fabricados, o óleo e o vinho do Sul, passou pelo intermediário romano. A língua latina penetrou na Gália pelos mercadores, que plantaram os elementos de uma quinta-coluna à qual o Júlio César deveu em parte sua vitória rápida e total. Isso também se evidencia nos textos de Glozel mais recentes.

O Egito é a arte monumental. A Grécia, a arte plástica. Roma é o gênio civil. A Terra Céltica é a arte simbólica, a espiritualidade exprimindo-se por meios decorativos. Não existe nenhuma outra arte no mundo que se lhe possa comparar.

As fórmulas que caracterizam essa arte começaram a se precisar desde a primeira idade do ferro. Em Glozel, isso se percebe. Os símbolos das moedas gaulesas do período romano são fantásticos. Por trás dessas figuras existe, é evidente, um ensinamento religioso único e vigilante, que não pode ser senão o do colégio druídico. Um disco, uma roda evocam o Sol; um crescente, a Lua, sem nenhuma dúvida. Sabemos que o caldeirão é o símbolo absoluto da ressurreição. O cinco é o signo do movimento contínuo. Um cavalo cujo traseiro se transforma em cauda sinuosa será ou o cavalo das origens, o deus-cavalo, ou o símbolo do curso do Sol a partir de um renascimento.

Os Celtas regulavam sua vida segundo as fases da Lua, mestra da fecundidade da terra e das mulheres e a ritmavam por quatro grandes festas sazonais. O ano começava a 1º de maio, ou seja, pela estação dos dias mais longos. O inverno começava a 1º de novembro, o início dos "meses negros". Nos textos de Glozel, o Inverno é chamado de "Escuridão". Quer dizer que ao calendário de meses lunares se superpunham estações estabelecidas segundo o ciclo solar. Ambos os processos de medição eram equilibrados por meses intercalares que recuperavam a diferença entre o ano lunar de 354 dias e o solar de 365 e uma fração.

A sociedade céltica era monárquica. Era uma espécie de monarquia semiteocrática. Os povos de importância média debatiam-se sem cessar para escapar à supremacia de um maior, mas caíam sob a tutela de outro. Cada nação celta, quando empenhada numa guerra, chamava ao combate os homens válidos. O número deles era elevado, perto de um quarto da população. À proclamação do "tumulto", os mobilizados deviam dirigir-se sem demora ao ponto de encontro. O último a chegar era sacrificado aos deuses. Depois punham-se em marcha sob um chefe eleito. A plebe formava a infantaria.

A Terra Céltica insular

Os irlandeses, dizem os lingüistas, falam um dialeto céltico, o gaélico [língua dos Gaels], que conserva uma consoante, o Q, que os Bretões da (Grã) Bretanha substituíram, desde antes dos tempos históricos, por um P. O povo goïdéle, que fala esse dialeto, é, pois, o mais antigo e necessariamente foi o primeiro a povoar a Irlanda. Se outras populações falando o dialeto dos Bretões, o britânico, tendo adotado o P, foram assinaladas na Irlanda pelos viajantes gregos e deixaram lembranças e traços, é evidente que elas chegaram depois daquelas que utilizam o Q e foram absorvidas.

Vê-se o erro. Ele consiste em aplicar uma cronologia válida para um fato lingüístico a fenômenos históricos. Além do mais, ignoramos totalmente como essa mudança lingüística ocorreu. Não havia somente Celtas P e Celtas Q, mas também Itálicos Q, os Romanos, que dominaram seus vizinhos, os Itálicos P, Oscos e Úmbrios. Compare-se o latim quinque, ao gaélico coic, e o úmbrio pompe ao gaulês pempe! É uma confusão. Em Glozel, o Q parece preponderante. Todavia, há uma teoria segundo a qual os dois modos de falar coexistiram no seio dos mesmos povos.

Os Celtas repudiavam a mentira. Os textos de Glozel demonstram isso. A moral para eles era simplesmente o respeito ao costume. Mas os Celtas elevavam muito alto um ideal da perfeição humana, na aparência física e no comportamento em sociedade. Um defeito físico era contrário à beleza, ele desqualificava sem apelação. Uma falta contra a honra - mentira, covardia, infidelidade, quebra da palavra dada - era sem perdão e fazia perder a nobreza.

A religião dos Celtas

A religião céltica compreendia dois níveis, o nível esotérico e o nível popular, como a maioria das antigas religiões. O nível superior compreendia uma metafísica que, certa ou erradamente, foi comparada à de Pitágoras. O nível inferior era uma mitologia acessível ao entendimento popular e um conjunto de ritos e costumes provenientes dos cultos solares, lunares e telúricos. Aos velhos cultos agrários pertencia o das águas, das árvores e das divindades-mães, essencialmente localizadas. Em Glozel isto é claro.

Apesar de se imaginar que os Celtas não tiveram seus Mistérios, os textos de Glozel indicam o contrário.

É normal que, num sistema politeísta, cada deus tenha dois aspectos: um especializado (vento, mar, trovão, messes, amor, guerra, etc.), o outro universal. Pois todos os deuses são senão uma imagem compreensível de um mesmo poder divino universal e incompreensível. A religião hindu o explica muito bem. Uma especialização limitativa é uma negação da qualidade divina e reduziria o pretenso deus ao nível de um gênio. Parece que cada tribo, ou cada povo, especialmente na Gália, se atribuía um deus próprio e lhe dava um nome de seu gosto. O deus, adorado num lugar, devia necessariamente corresponder a todas as necessidades. E, no estado de fracionamento social da sociedade céltica, a competência do deus local cessava na fronteira, atribuindo-lhe por isso uma espécie de caráter sagrado.

O Celta acreditava, como o Indo-europeu na Ásia, na unidade da Criação. Não via dificuldade nenhuma em que a alma, ou mesmo a pessoa inteira de um homem, tomasse, por um passe de mágica, a aparência ou a realidade de um animal, sem de nenhum modo se degradar, e eles admitiam que elementos como a terra pudessem falar.

César nos ensina que os Gauleses criam descender do deus dos mortos, em latim Dis Pater, cujo nome gaulês não nos foi transmitido. O que faz pensar que ele era como Donn, seu correspondente irlandês, um deus sombrio e isolado.

Os deuses Celtas também são suscetíveis de morrer. Podem ainda unir-se a mortais e gerar seres com algo de homem e algo de deus, os "heróis".

Quanto aos druidas, eles eram essencialmente "padres", que regiam as cerimônias do culto, em primeiro lugar os sacrifícios. Os druidas eram os senhores dos elementos, senhores e sacerdotes do fogo. O vento druídico era considerado uma arma temível. Os druidas praticavam a adivinhação, a predição, a revelação em sonho, o louvor e a sátira maléfica. A sátira mágica, o glam dicinn, era temida, pois ela tinha por conseqüência atentar contra a integridade e a beleza física, desgraça que os Celtas de situação elevada não suportavam.

É possível que, na origem, os druidas não tenham formado senão uma só classe. Mas, com o tempo, diversificou-se. Uma classe secundária foi constituída, na Gália, pelos vates [citada nos textos de Glozel], que hoje seriam os especialistas em sociologia, história e ciências naturais. Por fim, houve, à margem do colégio druídico, os bardos, espécie de poetas-cancioneiros oficiais da sociedade céltica, cronistas ao mesmo tempo.

A palavra druida significa "muito sábio". Os antigos tinham ouvido falar deles desde o séc. IV a.C. e tinham profundo respeito por seus conhecimentos e sua sabedoria.

Não possuímos textos que resumam o ensinamento dos druidas, mas sabemos que, sem ser esotérico ou secreto, era reservado aos alunos de suas escolas, espécies de seminários agrestes, afastados da agitação do mundo e freqüentado, sobretudo, pelos filhos da aristocracia. Glozel pode ter sido um destes lugares!

Os Celtas não tinham cidades, mas sim o hábito de se reunirem periodicamente em grande número para a celebração de festas religiosas que eram ocasião de jogos [citados nos textos de Glozel], de transações diversas, de processos judiciários. Os omphalos, os centros sagrados, entretiveram entre os Celtas a unidade da língua, dos costumes e sobretudo das crenças.

Os modestos monumentos materiais do culto druídico nos são conhecidos. São pequenos templos de madeira, uma peça simples contendo uma efígie divina, cercada por um peristilo, o fanum, amiúde estabelecidos sobre uma elevação e circundados por uma paliçada ou um fosso. Eram mais abrigos do que igrejas. As cerimônias do culto se efetuavam nas clareiras de bosques consagrados, que tomavam o nome de nemeton, santuários. O ato cultual por excelência era o sacrifício. Na Irlanda, todas as fórmulas encantatórias eram cantadas. Em Glozel, parece que o mesmo ocorria.

Quanto aos sacrifícios humanos, é provável que se tinham sido praticados na Terra Céltica na origem, eles tinham desaparecido ou se tornado raros na época histórica. Os textos de Glozel deixam escapar que esta prática era comum na região.

O sacrifício podia ter três motivações:

1º - O Dom humano era oferecido em contrapartida do dom divino - a vítima era sempre voluntária e honrada como se tivesse morrido em batalha;

2º - Se o sacrifício atingia criminosos ou prisioneiros de guerra, as vítimas concentravam sobre si mesmas, além da mancha de ser um criminoso ou um inimigo, todas as manchas da tribo;

3º - Por último, se sacrificava uma vida em troca de outra, para apaziguar os deuses.

Não havia a idéia de pecado. A palavra "pecado" aparece nos textos de Glozel mais recentes, não nos mais antigos. A palavra para "sacrifício" (antigo irlandês "edbart"; antigo bretão "aberth"; glozélico "lîta") é céltica, enquanto que "pecado" não é (latim "peccatus", irlandês "peccad", antigo bretão "pechod", glozélico "*pekama").

Havia uma classe de mulheres-sacerdotisas, uma forma de sacerdócio druídico. Os Romanos as chamavam de galligènes ("nascidas dos Celtas"), e diziam que elas desencadeavam a tempestade com seus encantamentos, tinham o Dom de se transformarem em animais, curavam as doenças e previam o futuro e, com maior razão, o tempo. Há uma referência a sacerdotisas nos textos de Glozel e à deusa transformada em "vaca".

A sociedade celta

A sociedade céltica é do tipo aristocrático e monárquico. É uma sociedade tripartite, compreendendo não três classes, como se diz, mas sim, três especializações humanas: os druidas (sacerdotes), os cavaleiros (combatentes) e os trabalhadores manuais. É uma sociedade sem Estado. O único funcionário que nela aparece é o intendente do rei, em bretão "gourdisten".

Essa organização não é fundada nem sobre a propriedade, nem sobre o direito de conquista, mas sobre as diferenças que existem entre as vocações sociais. O povo, considerado como uma família ampliada, participava da aristocracia pois descendia também de ancestrais únicos. Duas pessoas são de igual "nascimento" se têm a mesma fortuna. Não há "sangue azul". O filho de um plebeu, enriquecido, entra para a nobreza. Como a guerra é a base, estabeleceu-se uma equivalência entre as noções de saque e de riqueza (o bretão "anao" quer dizer "riqueza, pilhagem, presente" e "buz", "lucro, pilhagem, riqueza, bênção, favor").

A lei, para os Celtas, era o costume. Ela era de origem ou de inspiração divina e não podia ser discutida nem ab-rogada. Um lei nova se substituía gradativamente a uma lei antiga, pois um costume não se suprime: ele cai em desuso.

A fogueira era de uso corrente na Gália para punir os ladrões que não podiam pagar a indenização fixada como restituição do furto, segundo César.

A sociedade céltica em toda sua pureza não era capitalista, pois ela ignorava o capital. Não era nem socialista, pois não conhecia o Estado, nem anarquista, pois era hierarquizada e religiosa, nem monárquica pois seus reis eram eleitos e sem poder real. Ela tinha um pouco de todos os sistemas. Era única em seu gênero.

Tal sociedade era incapaz de eficiência a um nível mais elevado do que a tribo. O Celta tem a fobia do grande chefe, pois não reconhece a seu igual o direito de invadir sua liberdade.

O Celta pagão ignorava a piedade, mesmo em relação ao inimigo caído. Os Gauleses, segundo Poseidônios, guardavam a cabeça de seus inimigos célebres em óleo de cedro, a fim de exibi-los com orgulho. Será que os Celtas tinham um culto às cabeças? E os "celtas" de Glozel? Por que foram encontradas tantas cabeças de argila e vasos em forma de cabeças em Glozel?

O rei celta era o vínculo vivo entre os reinos terrestres e os reinos invisíveis. Ele era pessoalmente responsável pela ventura ou desventura de sua raça. A maior de todas as proibições a um rei era a de não poder falar antes de seu druida. Entre as reais obrigações, estava a de fazer justiça com eqüidade, sobretudo em relação aos pobres. [O interesse pelo bem-estar dos pobres é evidente nos textos de Glozel.]

Glozel: entrando em um mundo precéltico

Aqui, apresentaremos a tradução e a interpretação de algumas das tabuletas de Glozel e outros materiais decifrados, que nos foram disponibilizados por Donal Buchanan, Hans-Rudolph Hitz e o Museu de Glozel. Quando o material passou por Buchanan e/ou Hitz, vai indicado no nº da peça analisada.

GLO- 45.5 [Buchanan, 1981]
Características: Colar de osso com caracteres entre duas cabeças de cavalo. O texto está escrito da esquerda para a direita. O texto parece honrar a morte, algo comum num povo de índole guerreira.
Texto reconstituído: "Kadâ."
Tradução: "Pela morte."

GLO- 52.5 [Buchanan, 1981][Hitz, 2004]
Características: Pequena urna, talvez para uso doméstico. O texto parece escrito da esquerda para a direita. A urna pode ter sido doada por um ofertante aos sacerdotes de Glozel com a finalidade de propiciar dádivas.
Texto reconstituído: "Dâ dateî." [Hitz encontrou "Datti", para ele um nome próprio.]
Tradução: "Doação na [=por causa da] dádiva."

GLO- 49.2 [Buchanan, 1981]
Características: Trata-se de um anel de xisto. Segundo Buchanan [1981], é pequeno demais para ser um bracelete e grande demais para ser um anel de dedo. Para ele, é um "anel para ereção" primitivo. Como o texto corre num círculo, dependendo de ser lido por dentro ou por fora, temos quatro opções de leitura: esquerda-direita por dentro, esquerda-direita por fora, direita-esquerda por dentro, direita-esquerda por fora. Portanto, pode ocorrer confunsão na identificação de algumas letras. O texto parece ser da esquerda para a direita por dentro. Uma divindade chamada "Snîta", e que se assemelha ao Hermes-Mercúrio greco-romano por suas características, é citada no texto.
Texto reconstituído: "Lô mega snîtâ."
Tradução: "Louva [ou, mais provavelmente: 'louvor'] pelo grande pelo Snîta [lit. "pelo abridor de caminho"]."

GLO- 58.2, 3, 4 [Buchanan, 1981]
Características: Trata-se do cabo de uma faca de pederneira primitiva. Está decorado com a imagem de um animal doméstico (cadela?) e seus filhotes e possui duas inscrições (58.3 e 58.4). Buchanan acredita que era uma ferramenta de pastor. O texto é um pouco irregular, mas foi escrito da esquerda para a direita. Podemos entender que uma deusa-cadela - "Kûâna" - recebia oferendas de carne despedaçada.
Texto reconstituído: [58.3] "Lakû. [58.4] Latata kûâne."
Tradução: "[58.3] "Nos despedaçamentos [58.4] levado [=oferecido?] para [a deusa?] Kûâna [lit. "cadela"]."

Tabuleta Nº 28 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 06 linhas e foi escrita em boustrophedon a partir da direita. No texto encontramos a palavra "Mamma", que significa "mãe" em muitas línguas indo-européias. Trata-se de um pedido à deusa Mãe e aos "poderosos na propiciação" ("galyâi radi") para o bom retorno à terra natal, depois de se vencer o cansaço da viagem.
Texto reconstituído: "Mamma lase tewî pomî galyu radî da tîkê âtî rîgî."
Tradução: "Mãe, para o cansaço louvei no carvalho pelos [deuses] poderosos na propiciação. Oferecimento para o retorno aos domínios reais."

GLO- 44.6 [Buchanan, 1981]
Características: Um pequeno anel de osso que devia provavelmente ser colocado no pescoço de um animal através de uma tira de couro. Alguns caracteres parecem numerais em uma forma semelhante ao sistema romano, que pode ser mais antigo do que se pensa, portanto. A cabeça de dois animais não identificados aparece entre os caracteres e os numerais. O texto está da esquerda para a direita. Há dúvidas se o caractere "X" deve ser considerado numeral (como considera Buchanan). Nós o consideramos a letra "T". Há uma referência a 405 animais sagrados, talvez pertencentes aos sacerdotes, que parecem ser cuidados pelo portador do anel.
Texto reconstituído: "Îdâ ûta 405 [animais] dâê."
Tradução: "Pela separação [dos animais sagrados] escutai; 405 [animais] para doações [consagrações]."

GLO- 66.1 [Buchanan, 1981]
Características: Um amuleto de proteção feito de pedra. Há a imagem de um veado macho. A escrita é da esquerda para a direita, mas saindo da orelha do animal e fazendo a volta por sua cabeça. Os sinais XXX parecem ser numerais, talvez 30. O deus louvado 30 vezes seria Cernnunos, o deus-veado dos celtas? A ele parece que se oferecia o pêlo dos animais mortos na caça, talvez para se ter influência sobre ele na proteção contra a falta de prosperidade.
Texto reconstituído: "Uke pênye [Nº 30] ôdâ gâyta zagata dâlagsîde."
Tradução: "Para [evitar] a pobreza; para o louvado 30 [vezes?] pela canção [sagrada?]; o pêlo vivo para a posse do veado [macho]."

GLO- 44.5 [Hitz, 2004]
Características: Trata-se de um anel ou argola com uma inscrição e a imagem da cabeça de um animal difícil de identificar. A direção da escrita é da esquerda para a direita. O texto parece referir-se a rituais com bebidas alucinógenas que dão poderes místicos. O autor deseja este poder, pertencente aos "estranguladores" das vítimas ("takâi").
Texto reconstituído: "Zada pôkî [animal] lwî dâ takê wîdâ îsu."
Tradução: "Mergulha-se [em louvor] na bebida, na mistura [de líquidos alucinógenos?]. Doação para os estranguladores [das vítimas?] pela visão pelas igualdades [=pelas igualdades de visão mística?]."

GLO- 44.1 [Hitz, 2004]
Características: Um anel em marfim. O texto foi escrito da esquerda para a direita. É citada uma divindade - Weda - semelhante ao Plutão latino, e à qual, ao que parece, eram oferecidos em sacrifício os ladrões.
Texto reconstituído: "Mwê taza sdu weda ladâ."
Tradução: "Para os ladrões, jurar [solenemente] pelas [suas] reduções/quebras; a Weda [lit. "guia"] pela abundância."

Tabuleta Nº 22 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 05 linhas e foi escrita em boustrophedon iniciando pela direita. As primeiras quatro linhas parecem conter alguma métrica ou rima. O ministro dos sacrifícios recebe o nome de "pôpa" [o mesmo "popa" romano] e pretende ser preenchido pela força vital dos deuses.
Texto reconstituído: "Ema lema zago teu ema pôpa naro teu dalu maq[w]a."
Tradução: "Eu tranbordo [sou inundado] da vida pelos deuses; eu, o ministro dos sacrifícios do nobre, pelos deuses, pelas divisões de alimento [ou: 'filho']."

Tabuleta Nº 16 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 09 linhas e está truncada entre as linhas 4 e 5. Está escrita da esquerda para a direita, mas algumas linhas estão muito irregulares. O sinal // /// /// pode representar o número "oito". O texto faz uma referência à gazela ou cervo, talvez como divindade.
Texto reconstituído: "Pîw laka tîpa zaga kako laga lyâoo [Nº 08] tala deypa gna tô îyâ îka katê mala uka dâr(a)ga."
Tradução: "O esquartejamento pio [consagrado] [de] uma espécie de vida é capaz das dissoluções do mal; oito [vítimas?] [é] o banquete fixado; sim, a sabedoria se reflete pelo desejo para as sagacidades/cautelas [do] mal, [que é] vazio [do poder do deus?] Dâr(a)ga [lit. "cervo"]."

GLO- 50.2, GF 82 [Buchanan, 1981] [Hitz, 2004]
Características: Outro anel de xisto. Buchanan e Hitz chegaram a resultados completamente diferentes. O texto está da esquerda para a direita por dentro. Parece referir-se à proteção da deusa Io, conhecida da mitologia greco-romana.
Texto reconstituído: "Phada gutâ yôê."
Tradução: "Para as [sacerdotisas de] Io [lit. 'concepção, gravidez'] predizerem por meio da [deusa] tornada vaca."

Tabuleta Nº 33 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 07 linhas e foi escrita da esquerda para a direita. O texto é funerário e procura aproximar a sabedoria [Gnama] do morto, para que ele se una [gama] a ela. O deus tutelar [Lara] do morto se chama "Zaspa", desconhecido. O morto se confunde com sua própria "sabedoria" e com o próprio deus tutelar no texto, indicando um caráter indissociável entre os três aspectos: o ser, sua sabedoria e seu deus tutelar.
Texto reconstituído: "Gnama galî uma îtâ tame epa lare zaspa gâta narî game eâpus(a) khwe me gnôtê âparâ."
Tradução: "A poderosa sabedoria aqui parte para a morte junto para o [=ao?] deus tutelar Zaspa, na nobre partida para o casamento [com?] essa mesma [sabedoria?] [que] ainda para a permanência, para os conhecidos [amigos?], pela visão [do morto?]."

Tabuleta Nº 06 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 06 linhas e parece inegavelmente escrita em boustrophedon a partir da direita. É um texto sobre a "morte [simbólica] na câmara [iniciática]" - "kada talamî". Seria uma referência aos "Mistérios de Glozel"? O neófito é chamado "egana" ("pobre, necessitado") e subentende-se que podia ser possuído pelos deuses numa espécie de "enthusiasmus" ("a inspiração divina ou poética").
Texto reconstituído: "Egane kadâ talamî îkha daro malî zaçî zamî rasa tôkseo."
Tradução: "Para o pobre [necessitado] pela morte [simbólica?] na câmara [iniciática?] refletir da [=sobre a] honra. Na possessão [pelos deuses], no cereal [ou] no descanso [=repouso], tenha [ele] prazer [gosto] da [=pela] ordem."

Tabuleta Nº 39 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 06 linhas e foi escrita da esquerda para a direita. O texto cita um deus gaulês, Camma, aqui grafado Kama, a quem se oferecia cavalos. Cita ainda um tal Dugnala, a quem se oferecia bezerros.
Texto reconstituído: "Magja gyôga tar(a)dî gappa dugnale eq[w]îtyo paza kama lâpî."
Tradução: "Na saída da grande narceja o bezerro para Dugnala. Da manada de cavalos Kama [lit. "crestação"] passa no machado [uma vítima?].

Tabuleta Nº 05 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 07 linhas e está escrita numa direção esquerda-direita irregular, especialmente nas linhas 02, 03 e 07. Isso quase nos faz pensar num boustrophedon, mas não é o caso. É uma das tabuletas de tradução mais difícil, exatamente por sua irregularidade. Uma provável divindade desconhecida - Râçîk - é citada. A palavra "leite" aparece duas vezes e o texto parece descrever uma espécie de libação com esta substância ["spa kalakatte", "espalhar o leite"?]. O trecho "pupa pardî îodâ" ["no leopardo a menina pela batalha"] traz sérios indícios de sacrifícios humanos em Glozel.
Texto reconstituído: "Laza ljada pwâ îzô râçîka pupa pardî yodâ owâ mu taksâeâ lâgna spa kalakatte pekamî kalakat[a]ta kaja kana zota."
Tradução: "A ferida se aquece [=se cura?] pela pureza dos comandos, por Râçîk. No leopardo a menina [oferecida?] pela batalha, pela ovelha, pelas destruições, pelo toucinho. O bardo [poeta] espalha para o leite no erro [para expiação?]. A casa do leite prognostica [o que é] mágico."

Tabuleta Nº 19 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 07 linhas e está escrita na direção da esquerda para a direita. O texto ensina que a maior exigência da "lei completa" ["yûça lera"] é o "amor à sabedoria" ["kara gna"]. A oração dos pobres à Mãe-Terra é chamada "rogâtî telâ" ["súplica pela Terra"].
Texto reconstituído: "Ela zîte yûça lera kara gna kwey-tago uke êta takha rogâtyî telâ."
Tradução: "Para a exigência diante da lei ser completa, ame-se a sabedoria. Aqueles do gosto para a pobreza derrotam o silêncio na súplica pela Terra."

Tabuleta Nº 24 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 08 linhas e está escrita da esquerda para a direita. Está truncada, o que prejudica a leitura da linha 04. Encontramos ali uma forma da palavra "sétimo" que parece ser a ponte com a forma grega: EP(A)TÁ/EP(A)TÎMA (Glozel) - EPTÁ/EPTOMOS (protogrego?) - EPTÁ/EBDOMOS (grego). Ainda aparecem os números 03 na forma /// e "um" ("êna"). O texto traz sérios indícios de sacrifícios realizados em Glozel, pois cita a morte de sete vítimas "iniciáticas". É mesmo possível que fossem sacrifícios humanos. A divindade citada - Eza - pode ser o mesmo Esus a quem os latinos acusavam os gauleses de oferecer vítimas humanas.
Texto reconstituído: "Paga lewî lada kadâ ep(a)tîma mô dâ ye êna [truncado]...î Nº 03 dame mana gne pamî dîla dâ eza ksadî opî."
Tradução: "A aldeia tornou-se forte com abundância pela sétima morte iniciática oferecida para a dominação [do inimigo?]. Um .... três para a casa. A revelação para a Sabedoria, na bebida agradável, [a] Eza na abertura [da vítima?] do [=pelo] punhal[?]."

Tabuleta Nº 17 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 09 linhas e parece ter sido escrita em boustrophedon. Ademais, é quase uma cópia da tabuleta nº 29, exceto por alguns caracteres diferentes e outros com grafia peculiar [ver Tabuleta Nº 29, abaixo]. Contém uma palavra a menos que T29. No mesmo texto é citado o nome antigo da deusa Diana - Jana - e o nome da cidade de Roma.
Texto reconstituído: "Gala tamo yemo tâze janî orâ pagonî uqa laz-gata paga qwume orana taqwa îta roma zag-nu pwôlwâ mamu duwu semowe." [As partes em negrito são as que diferem do texto da T29.]
Tradução: "O poder da morte do inverno para o juramento [solene] em Jana [Diana]. Pela súplica no aldeão pobre [que] parte para a captura [caça?]. A aldeia, para o momento [em] que o suplicante Taqwa [lit. "estrangulamento"?], partido de Roma, agora vivo pela cinza, pelas [deusas?] Mães, pelos guias/condutores [deuses tutelares?], para o semideus."

Tabuleta Nº 29 (PDF - Musée de Glozel / 2004)
Características: Contém 09 linhas e parece ter sido escrita em boustrophedon a partir da direita. É muito parecida com a tabuleta nº 17 [ver acima], exceto por alguns caracteres novos ou grafia diferente para outros. O texto cita o nome de Marela, um semideus de origem desconhecida.
Texto reconstituído: "Gala tamo yemo tâze janî ladâ pagonî uqa lazza tuga qwume orana tanây îta naga zasdwâ pwôlwâ mamu dwuzî soemo marela." [As partes em negrito são as que diferem do texto da T17.]
Tradução: "O poder da morte do inverno para o juramento [solene] em Jana [Diana]. Pela abundância no aldeão pobre [do] machado de captura [caça?]. A aldeia, para o momento que o suplicante Tanây [lit. "os tempos"?], partido de Naga, por Zasdu, pela cinza, pelas [deusas?] Mães, [está] no braço do semideus Marela [lit. "cuja morte se adianta"]."

Para ler o texto completo das decifrações em Português, consulte nosso blog http://hierolinguistica.blogspot.com/2008/01/glozel-decifrado-proposta-de-decifrao.html.

Comments:
Chegamos até aqui lendo Charroux que dedicou o seu livro:” A História Desconhecida dos Homens” ao autor das messagens glozelianas.
Nós agreditamos que um dos grandes equívocos do ser humano,muitas vezes,já provados ou contestados em diversas ocasiões(Escavações de Pompéia,Troia,etc)é acreditar no portador da Luz,como o único a indicar o caminho.Levar essa tocha de luz,temporariamente,não significa dizer que não existem outros caminhos que possam ser trilhados,estão apenas fora do alcance dessa direção apontada.E muitos dos “endeusados” não querem perder essa condição e lançam quaisquer meios ou ardis para permanecerem onde estão,até contraria a mentalidade de pesquisador ,que deve está aberta sempre às novas possibilidades,que às vezes, não existe o definitivo nesse campo de pesquisa.
Parabéns pelo trabalho,pela tradução e sobretudo pela incansável busca em não se satisfazer com a explicação oficial e ver outras escolhas
JATeixeira

 
Chegamos até aqui lendo Charroux que dedicou o seu livro:” A História Desconhecida dos Homens” ao autor das messagens glozelianas.
Nós agreditamos que um dos grandes equívocos do ser humano,muitas vezes,já provados ou contestados em diversas ocasiões(Escavações de Pompéia,Troia,etc)é acreditar no portador da Luz,como o único a indicar o caminho.Levar essa tocha de luz,temporariamente,não significa dizer que não existem outros caminhos que possam ser trilhados,estão apenas fora do alcance dessa direção apontada.E muitos dos “endeusados” não querem perder essa condição e lançam quaisquer meios ou ardis para permanecerem onde estão,até contraria a mentalidade de pesquisador ,que deve está aberta sempre às novas possibilidades,que às vezes, não existe o definitivo nesse campo de pesquisa.
Parabéns pelo trabalho,pela tradução e sobretudo pela incansável busca em não se satisfazer com a explicação oficial e ver outras escolhas
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